sábado, 24 de julho de 2010


Tudo ou nada

Caríssimos leitores, boa tarde.
Depois da complicadíssima classificação brasileira na fase inicial da Copa do Mundo de 1974, na Alemanha, naquele jogo dramático, proibido para cardíacos, contra a frágil e inexperiente seleção do Zaire (quase morro na ocasião, pois me recuperava de pneumonia dupla), o Brasil teria que partir para o tudo ou nada, se tivesse a mais remota aspiração da conquista do tetracampeonato. E tinha.
A fórmula de disputa daquele mundial era um tanto diferente da atual, utilizada em 2010 na África do Sul e que será posta em prática em 2014 em nosso País. A fase de quartas de final era disputada em dois grupos, de quatro seleções cada, com todos jogando contra todos. Os respectivos campeões iam direto para a final e os vices disputavam 3º e 4º lugares. O sistema, portanto, não era o de mata-mata. E não havia, como hoje, a semifinal.
A exemplo do que ocorrera em 1954, quando o Brasil teve que encarar (e perdeu) a “sensação” daquele mundial, que então era a Hungria, vinte anos depois, na Alemanha, ocorreria o mesmo, mas não mais com os húngaros. O bicho-papão de então era uma equipe emergente no cenário europeu e mundial. Era a Holanda, a famosa “Laranja Mecânica”, a do tal “carrossel”, do futebol total, em que todos os jogadores (à exceção do goleiro, claro) se revezavam em todas as posições do campo, enlouquecendo seus marcadores.
A tática holandesa, que para funcionar precisava ser muitíssimo bem treinada e contar com craques ecléticos e versáteis, vinha surpreendendo o mundo. A maioria dos técnicos considerava essa equipe, que tinha em Johann Cruyff seu astro maior, “imarcável”.
Além da Holanda, caíram, no grupo do Brasil, a Alemanha Oriental e a Argentina. Como se vê, era uma barra! Não haveria refresco. Seria, de fato, o tudo ou o nada. Os anfitriões da Copa, num jogo controvertido, em que a imprensa que cobria a competição os acusou de jogarem deliberadamente para perder, numa espécie de “marmelada”, foram derrotados pelos co-irmãos, posto que rivais, alemães orientais por 1 a 0.
Conseguiram, com a “oportuna” derrota, fugir de encarar os holandeses nessa fase. Com isso, multiplicaram as chances de chegar à final, o que de fato aconteceu. Houve uma chiadeira danada na ocasião, embora ninguém jamais conseguisse provar a suposta “marmelada”.
Todavia, em Copa, nem sempre os favoritos destacados ou mesmo as melhores seleções no aspecto técnico são os campeões. A Alemanha Ocidental repetiria, em 1974, o feito de 1954, quando, para a surpresa do mundo (quiçá da galáxia) bateu a Hungria, tida e havida como imbatível e conquistou sua primeira Jules Rimet. Em casa, repetiria a façanha diante da Holanda, que nadou, nadou e nadou e morreu na praia e ganhou, pela primeira vez, a então recém-criada Copa Fifa.
O jogo de estréia do Brasil nas quartas de final foi contra a Alemanha Oriental. Foi disputado em 26 de junho, no Niedersachen Stadium, de Hannover, com público de 58.463 expectadores e arbitragem do galês Clive Thomas.
Zagallo fez duas alterações na equipe, em relação ao jogo contra o Zaire: Zé Maria entrou na lateral direita, na vaga de Nelinho e Dirceu ganhou uma chance na ponta esquerda. Durante a partida, o técnico não mexeu no time.
A Seleção Brasileira mostrou a mesma deficiência da fase anterior: falta de poder ofensivo. A defesa, pela quarta partida consecutiva, não levou gols. O ataque, todavia... A grande reclamação da imprensa, notadamente da paulista, referia-se ao meio de campo. Boa parte do País exigia a escalação de Ademir da Guia, que então estava numa fase técnica exuberante, no lugar de Paulo César Caju.
Zagallo, porém, argumentando que o armador do Palmeiras era muito lento, manteve o craque carioca no time, contra tudo e contra todos. Foi acusado, como dá para o leitor imaginar, de turrão e de teimoso, entre outras tantas coisas piores.
O Brasil foi “salvo pelo gongo”, contra os alemães orientais, pelo providencial e salvador gol de falta de Rivelino. No outro jogo do grupo, a Holanda não tomou conhecimento da Argentina e triturou-a, goleando-a por 4 a 0.
O jogo seguinte da Seleção Brasileira, e no mesmo estádio de Hannover, foi disputado em 30 de junho, com arbitragem do belga Vital Louraux. Nosso adversário seria o promotor da próxima Copa e que queria fazer bonito nessa, ou seja, “los hermanos” argentinos.
Zagallo mandou a campo o mesmíssimo time do jogo anterior e não fez qualquer substituição nos 90 minutos. Portanto, Ademir da Guia não teve sua chance de mostrar se era ou não a solução para a deficiência ofensiva brasileira.
O gol de Brindisi acabou com a invencibilidade da nossa defesa. Em compensação, o ataque desencantou nessa Copa. Não fez, claro, nenhuma exibição de gala. Mas pelo menos marcou dois gols, com Rivelino e Jairzinho. Apesar dos pesares, mantivemos a invencibilidade, com os 2 a 1 sobre a Argentina. Mesmo aos trancos e barrancos, portanto, estávamos a apenas duas vitórias do tetra. E nada do Zagallo escalar Ademir da Guia, contrariando a gregos e troianos.

Boa leitura.

O Editor.

Um comentário:

  1. Ler suas lembranças é como estar à beira do gramado. Pela escassez de gols, a leitura está mais emocionante do que devem ter sido os jogos.

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