quinta-feira, 29 de julho de 2010


Decisão de árbitro com jeito de “armação”

C
aros leitores, boa tarde.
O Brasil estreou na fase classificatória, ou seja, nas oitavas de final, da Copa do Mundo de 1978, na Argentina, em 3 de junho. Estava no Grupo 3, junto com Suécia, Espanha e Áustria. Os austríacos eram tidos como os mais fracos dos quatro, mas iriam surpreender.
O adversário da estréia era um velho conhecido nosso, que tinha tudo para endurecer o jogo e complicar nossa vida. E, de fato, complicou. Era a seleção da Suécia. Ressalte-se o péssimo estado do gramado da sede desse grupo, o de Mar Del Plata, virtualmente impraticável para futebol até num jogo entre solteiros e casados, quanto mais de uma Copa do Mundo.
A grama havia sido plantada dias antes do início do Mundial e ainda não se fixara, não criara raízes. Grandes placas eram arrancadas todas as vezes que os jogadores se envolviam em jogadas mais duras de disputa de bola ou quando chutavam a gol. Seria cômico, não fosse trágico.
Todos que assistiram aos jogos disputados nesse estádio, ou por estarem presentes no local, ou pela televisão, puderam testemunhar o quanto o gramado era impraticável. Portanto, não se tratou de nenhuma desculpa brasileira para justificar más apresentações, conforme alguns jornalistas chegaram a insinuar. Acho engraçadas as pessoas que “brigam” com as imagens, e afirmam ter “testemunhado” o oposto do que todo o mundo viu.
É verdade que o campo estava ruim para os dois lados, não se pode negar. Todavia, a equipe mais técnica (no caso, a nossa), sem dúvida sofre prejuízos maiores nesses casos. E foi o que aconteceu. Esse foi outro fiasco, portanto, dos anfitriões dessa Copa.
Para complicar ainda mais as coisas para os comandados de Cláudio Coutinho, uma decisão controvertida, no mínimo estranha, bastante suspeita, do árbitro galês, Clive Thomas, teve graves conseqüências para nós na sequência da competição. Por causa da sua atitude, por pouco a Seleção Brasileira não foi alijada prematuramente daquele Mundial.
O jogo contra a Suécia, como destaquei, foi duríssimo. A forte marcação sueca e a instabilidade do gramado não permitiam o correto domínio de bola por parte dos nossos jogadores. Cláudio Coutinho mandou a campo, nesse dia, os seguintes atletas: Leão, Toninho, Oscar, Amaral e Edinho; Batista, Toninho Cerezo (Dirceu) e Zico; Gil (Nelinho), Reinaldo e Rivelino.
Por volta dos 45 minutos do segundo tempo o jogo estava empatado em 1 a 1. Sjoberg havia anotado para os suecos e o “matador” Reinaldo havia feito o gol do Brasil. Foi quando saiu um escanteio contra a Suécia. Cobrado, Zico mandou a bola para as redes, sem nenhuma irregularidade no lance.
Os brasileiros ainda comemoravam a inesperada “vitória” em cima da hora, quando notaram que o árbitro não havia validado o gol. Por que? Não houvera impedimento, nem falta, nem toque de mão, nem qualquer outra irregularidade. Sua senhoria alegou, simplesmente, que havia encerrado a partida enquanto a bola viajava no ar.
Ressalte-se que naquele tempo não havia quarto árbitro e nem as plaquetas indicando tempo de acréscimo. Aliás, eram raros os que davam mais de noventa minutos de jogo, por maiores que fossem as paralisações e a tal da “cera” dos jogadores. Tinha-se que se confiar nos árbitros e estes não davam satisfações a ninguém.
Pois é, até hoje, há quem queira me convencer que o tal de Clive Thomas agiu corretamente e que não se tratou de uma “armação” contra o Brasil. Há gente que acredita em tudo, em coelhinho da páscoa, em papai Noel e em mula sem cabeça. Ora, ora, ora, ingenuidade tem limites! Nunca vi isso, nem antes e nem depois, sequer em jogos de várzea! O resultado “oficial” foi de 1 a 1. Para complicar, na outra partida do grupo, a Áustria derrotou a Espanha por 2 a 1 e assumiu a liderança.
No jogo seguinte, em 7 de junho, teríamos os espanhóis como adversários. Nossa seleção fez uma partida sofrível, uma das piores que já vi o Brasil fazer. Só não saímos derrotados do campo graças a um “milagre” operado pelo zagueiro Amaral, que salvou uma bola em cima da linha do nosso gol, garantindo o 0 a 0. A Áustria, por sua vez, assegurou a classificação em primeiro lugar, por antecipação, derrotando a Suécia por 1 a 0. Quem diria!
Nessa altura da competição, os dois pontos que deixamos de ganhar, por obra e graça (ou desgraça?) do árbitro galês estavam fazendo uma falta imensa. Caso vencêssemos os austríacos (e a vitória era o único resultado que poderia nos servir), ainda ficaríamos na dependência do placar do confronto entre suecos e espanhóis para nos classificarmos.
Num jogo sumamente dramático e tenso, disputado em 11 de junho, o Brasil, com um gol de Roberto Dinamite (atual presidente do Vasco da Gama), derrotou a Áustria por 1 a 0 e garantiu, de forma dramática e sofrida, vaga nas quartas de final. Isso porque a Espanha nos deu uma providencial ajuda e ganhou da Suécia, também por 1 a 0.
Para complicar a nossa vida, a Argentina, no Grupo 2, não fez o que dela se esperava, ou seja, que se classificasse em primeiro lugar. Perdeu para a Itália por 1 a 0 e classificou-se em segundo. Dessa forma, os anfitriões teriam, como adversários, nas quartas de final, Polônia, Peru e... Brasil.
Estava montado o cenário para nova “mutreta”, para uma das maiores e mais ridículas farsas que já vi em qualquer competição esportiva, e a nosso dano, e essa definitiva, que suprimiria de vez qualquer chance que ainda tivéssemos de conquistar o tetra na vizinhança da nossa casa.

Boa leitura.

O Editor.

Um comentário:

  1. Esse editorial com jeito de crônica esportiva ficou engraçado. Não sei se era essa a intenção, mas ficou. Acabou por resgatar palavras antigas como cera e mutreta. Aqui vemos tudo que aprontaram o nossos vizinhos, e sem muita preocupação em disfarçar. Pois é, e depois dizem que os brasileiros é que não são sérios.

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