domingo, 25 de julho de 2010


A melhor defesa é o ataque

Caros leitores, boa tarde.
A melhor defesa é o ataque. Esse é um princípio elementar, primaríssimo, que qualquer boleiro de final de semana, ou de time de várzea, sabe de sobejo. A característica principal do futebol brasileiro, aquela que o tornou mais vezes campeão mundial na história, que fez dele admirado e imitado mundo afora, é sua ofensividade.
Sempre que o Brasil abriu mão disso, se deu mal. A Seleção Brasileira de 1974 tinha excelente defesa, uma das melhores que o País já formou, tanto que veio a levar seu primeiro gol na Copa do Mundo da Alemanha somente no quinto jogo. Mas o ataque, ressentindo-se da ausência de Pelé e, principalmente, de um meio de campo criativo e eficaz, como os que tiveram em Didi em 1958 e 1962 e em Gerson, em 1970, seus comandantes, deixou muito a desejar.
Um bom sistema defensivo, concordo, ajuda muito, mas só com ele ninguém ganha um Mundial. Se ganhasse, a Suíça seria campeã um montão de vezes, não é mesmo? Mas nunca foi. O Brasil sempre dependeu de valores individuais, de jogadores talentosos, dos chamados “craques” para empreender suas conquistas.
Seus treinadores não mantêm intercâmbio de idéias, técnicas e conceitos com colegas de outras partes do mundo, por isso, se mostram desatualizados, já que não acompanham a evolução tática que ocorre a todo o momento.
Em 1974, por exemplo, o Brasil adotava o sistema 4-3-3, abandonado há pelo menos dois anos pelas principais equipes européias. Entre nós, porém, nos campeonatos regionais e no nacional, era o que de mais avançado havia em termos de tática.
O meio de campo da seleção comandada por Zagallo ressentia-se da falta de uma cabeça pensante, pois Paulo César Caju não fazia um bom Mundial, embora tenha atuado, mesmo que substituído, em todos os sete jogos da equipe. Nosso treinador tinha um Ademir da Guia “tinindo” no elenco, mas recusava-se a escalá-lo, a pretexto de sua lentidão.
Tratava-se de um equívoco do nosso técnico. O armador do Palmeiras era sumamente versátil e hábil e, em vez de correr com a bola, como qualquer cabeça de bagre faria, fazia essa correr. No seu clube, seus passes milimétricos e rápidos deixavam os atacantes palmeirenses a todo o momento de frente para o gol. Acompanhei a trajetória de Ademir da Guia por quinze anos ou mais e afirmo, sem nenhum exagero, que ele nunca jogou mal. Até Pelé tinha suas jornadas infelizes, mas o craque do Palmeiras não. E por que esse meia extraordinário não repetia na Seleção o que fazia no seu time? Simples, porque não jogava. E não jogava, porque não era escalado.
E não o foi de novo, no jogo mais importante para o Brasil na Copa de 1974, contra a badalada Holanda, considerada a sensação daquele Mundial. Dada a intensa movimentação holandesa em campo, num sistema de jogo que ficou conhecido como “carrossel”, não podíamos contar, apenas, com a reconhecida solidez de nossa defesa para vencer. Se esta fosse atacada o tempo todo, uma hora iria falhar e propiciar chances ao adversário. E foi o que, de fato, aconteceu.
A Seleção Brasileira tinha time para vencer a Holanda em qualq uer época e lugar (e ainda tem). Para isso, contudo, precisaria atacar o tempo todo, ter a bola em seu poder e não errar passes. Era a única forma de neutralizar a velocidade e os constantes deslocamentos em campo dos holandeses que, ademais, contavam com um preparo físico exemplar.
O jogo com a Holanda foi disputado em 3 de julho, no Westfalen Stadion, em Dortmund. O árbitro foi o alemão ocidental Kurt Tschencher, que irritou bastante os brasileiros com as sucessivas inversões de faltas e outros tantos erros, sempre a nosso dano.
Discordo dos que dizem que os holandeses deram “um vareio de bola” em nossa seleção. Os que dizem isso, provavelmente não assistiram ao jogo. Há muita gente que opina sem nenhum fundamento, na base do ouvir dizer. Ou se assistiram, não prestaram atenção no que viam. Ou, então, são do tipo de achar pêlo em ovo.
O Brasil encarou o adversário de igual para igual. Cometeu, todavia, um pecado mortal: perdeu um caminhão de gols. E há uma máxima no futebol que diz: quem não faz, toma. E o Brasil tomou. Por que? Porque enervou-se com as oportunidades perdidas, desarrumou-se em campo, principalmente na defesa, com os zagueiros partindo afoitamente para o ataque tentando decidir o jogo. Essa desarrumação redundou em gols adversários, marcados em rápidos contra-ataques por Neeskens e Cruyif.
Ainda assim, a equipe brasileira não desistiu. Buscou o resultado até o último minuto de jogo, mesmo quando ficou com dez jogadores em campo, após a expulsão de Luís Pereira. Zagallo fez uma substituição ousada, para tornar o time mais ofensivo, tirando Paulo César Caju e colocando Mirandinha. Com isso, o Brasil passou a jogar num 4-2-4. Em vão. Não deu. Era a primeira vez que a Holanda eliminava nossa Seleção numa Copa do Mundo, o que só voltaria a se repetir em 2010, na África do Sul. Um dia daremos o troco.
Na disputa pelo terceiro lugar, contra a Polônia, em jogo realizado em 6 de julho, no Olympia Stadion de Munique, que teve a arbitragem do italiano Aurélio Angonese, Zagallo, finalmente, atendeu o clamor popular: escalou Ademir da Guia.
Ou seja, colocou a tranca depois da porta ser arrombada. O craque palmeirense foi informado de que iria jogar, apenas, no horário do almoço no próprio dia do jogo. Mesmo sem ritmo, teve boa atuação, mas ainda assim foi sacado da equipe no segundo tempo, substituído por Mirandinha, que nada fez.
Como castigo, o Brasil, que jogava uma partida medíocre, sem inspiração ou entusiasmo, sofreu um gol do polonês Lato e teve que se conformar com o quarto lugar. Como se vê, teimosia não é prerrogativa de Dunga, com suas figurinhas carimbadas, que nunca saíam do grupo, atuando bem ou mal. Só se espera que nosso novo comandante, o que terá a imensa responsabilidade de lutar pelo hexa em 2014, Mano Menezes, seja mais maleável, observador e aberto a sugestões.

Boa leitura.

O Editor.

Um comentário:

  1. Por falar em porta arrombada, enfim me lembrei desse jogo com a Polônia e do gol de Lato.

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