sexta-feira, 3 de novembro de 2017

Sutra


* Por Assionara Souza


chove torrencialmente
nem por isso os homens se odeiam menos
corações batem como mísseis
a chuva não lava a alma
nem a parte de carne que a reveste
 
mais um navio afundou
o que dizem as notícias?
o mar quis engolir
os desgraçados do mundo
levá-los para o fundo abismo
onde enfim dormirão em túmulos-casulos
embalados pelo mover choroso de ondas 
 
não sei ao certo de quem me apiedar
as palavras se formam no estômago
e são vomitadas em bueiros-olhos
ao se infiltrar no corpo
disparam bombas de reação
irrompem-se violentos discursos de paz
 
é natural que todos morram
é essencial que todos se matem
 
de que é feita a corrente que aperta o pescoço?
controle, opressão, vigilância.
alimentados diariamente
com parafernálias do consumo
babamos, gritamos, sedentos de desejos
a menos que a chuva nos invada de silêncio
será impossível somente morrer
 

* Escritora potiguar residente em Curitiba.


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