quarta-feira, 29 de novembro de 2017

Onze anos de História


* Por Mara Narciso
 
Gente, vamos deixar de estória? Eu não gostava de História. Tive uma professora no Ginásio, hoje Ensino Fundamental Maior, que nos dava aulas de cabeça baixa, lendo o livro de textos, ora sentada, ora andando, no último horário. Uma pena eu não ter aproveitado esse tempo para aprender. Apenas depois entendi que o valor mais precioso não é o dinheiro e sim o tempo, e este precisa ser bem aproveitado. E é isso que se vê nos 11 anos de existência do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, a “Casa de Simeão Ribeiro Pires”, que funciona à Rua Coronel Celestino, 140, e é eficaz no bom aproveitamento dos recursos. Lá são 100 cadeiras, num grupo heterogêneo em profissões e diferentes experiências de vida, sendo muitos não nascidos na cidade, mas ligados a Montes Claros pelo amor. Há um permanente incentivo de se contar a história, fazendo o resgate de pessoas, fatos e lugares.
 
O Instituto Histórico foi fundado em 2006 por pessoas estudiosas, escritores, professores, músicos e poetas que investigam e divulgam a verdade histórica. Estavam desejosas não de escrever propriamente artigos científicos, mas de, através da memória, entrevistas, documentos e imagens, contar com a maior fidelidade possível, o que se passou nessa cidade de 160 anos, de injustas diferenças sociais, econômicas e de oportunidades. Somos o que somos, porque recebemos o trabalho de quem esteve aqui antes de nós, e plantou essa cidade, com as agruras que os pioneiros encontram em seus desbravamentos. Reconhecemos que nem todos os métodos foram justos e pacíficos, mas foi o que encontramos, e aos benfeitores rendemos homenagens. Estamos sobre os ombros dos antecessores, sem os quais nada seríamos.
 
Aqui nesse sertão está um milagre, uma cidade de 400 mil habitantes que atravessa a pior seca de todos os tempos. E se não sabemos o passado, não entendemos o presente e mal conseguiremos planejar o futuro. Para isso temos de plantar o bem em nossas crianças, como nos falou hoje na eleição da chapa única, encabeçada por Dário Teixeira Cotrim, o confrade Josecé Alves dos Santos. Mais uma vez o incansável Dário, trabalhador sem tréguas e escultor das letras, com seus 49 livros publicados, dos quais recomendo “Ensaios históricos de Itacambira”, retorna ao cargo de presidente da entidade. Baiano de Guanambi, ele se lembra dos grandes e dos pequenos.
 
Aquele conjunto de mulheres e homens em semelhante proporção é um mix louvável de temperamentos, estilos e maneiras de pensar, como todo grupo, porém, que trabalha sem vaidades, com um espírito de alta cooperação, operando de forma harmoniosa, enaltecendo o trabalho uns dos outros. Dá gosto conviver com aquelas cabeças pensantes que, querem sair de dentro das suas paredes e trilhar as ruas da cidade, mostrando aos cidadãos o que é e o que faz o Instituto Histórico, uma entidade que tem credibilidade e que a cada seis meses, publica sua revista em formato de livro, com 150 páginas de História, contemplando todas as vertentes do Norte de Minas. Vale a pena conhecer esses livros e o Boletim Informativo, um jornalzinho mensal criado pelo presidente Lázaro Francisco Sena, que termina seu mandato ultraprodutivo. Também foram presidentes Wanderlino Arruda e Itamaury Silveira Teles, cada um com seu estilo, trabalho sério e irrepreensível.
 
Hoje, na eleição por aclamação, mais uma inovação. Os 28 membros ali presentes, um quórum louvável para um sábado à tarde, falaram sobre o Instituto Histórico, e de pé e em bom som, cada um confirmou o seu voto. Ali se apoia a publicação de livros, incentivando a cultura num convívio de sincero respeito. Ainda assim, precisamos nos aprimorar, pesquisando, interpretando e escrevendo sobre o nosso espaço geográfico e os vultos do passado, para não perdermos a memória e nem o bonde. Por esse caminho trilharam grandes pessoas. Não podemos deixar de lhes fazer justiça.
 


* Médica endocrinologista, jornalista profissional, membro da Academia Feminina de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico, ambos de Montes Claros e autora do livro “Segurando a Hiperatividade”



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