quarta-feira, 22 de novembro de 2017

Rumo a 2018

* Por Adelcir Oliveira

Trem noturno para Grajaú. Eu parafraseava o bom filme "Trem noturno para Lisboa", com o excelente Jeremy Irons. Dirigia-me para a casa da minha bela namorada, Marilene Sabino, chamada por todos de Mari. No twitter publiquei minha paráfrase, citando dois fatos que vi. Uma roda de jovens, em que observei a palavra mais repetida por eles: "mano". Depois, uma dupla feminina. Que cantava música gospel. Desafinação e pseudo entusiasmo. É assim mesmo: eu não creio no entusiasmo do religioso. Se existe, é inventado, e o prazo de validade é curto. 

Era uma noite de sábado. Eu trabalhara sete horas. Tive a boa cia do meu grande amigo Alan Davis, já mencionado aqui. Somos "amigos de copo e de cruz". Fazemos parte do regime CLT dentro da instituição que nos emprega. E temos objetivos diferentes. Alan estuda para se tornar professor universitário. Eu caminho para o que chamo de fórmula híbrida: CLT + trabalho autônomo. 

São rumos e são buscas. E a vida segue. Tentar é importante, isso é dizer mais do mesmo. E no que se tenta, estratejar é fundamental. E isso são lições aprendidas durante a vida. Foi o tempo de passo em falso. Já passamos dos 40 anos. 

Ia para o Grajaú, subdistrito em que mora minha linda e adorável Mari. Teríamos algum tempo juntos. Faz sete meses que namoramos. Eu que passei anos sem uma namorada, vivendo de escassas e inúteis aventuras. Demorava. O tempo ia passando. Eu, solteiro. Negando pretendentes. Sendo questionado. Advertido que escolhia demais. Mas permaneci na minha posição. Escolhi. Não que houvesse tantas opções. Elas existiam, eram  poucas, sim. E mesmo nessa escassez eu negava as mãos (e todo o resto) às pretendentes. Até que surgiu a Mari. E, passadas algumas dificuldades, o ajuste da sintonia se deu. E hoje navegamos juntos em mar de harmonia e muito amor. Mari é de fato a única mulher que amei de verdade.

Da estação Pinheiros até a estação Grajaú são muitas paradas. E eu vou lendo notícias ou conversando com a Mari por meio de aplicativos. E reflito. Eu quase sempre faço isso. Tenho refletido muito. Bastante tempo sem escrever, mas absorvendo informações e observando muito.

É comum o chamado "shopping trem" nos vagões da CPTM e Metrô aqui em São Paulo. E são muitos os vendedores. Jovens, em sua maioria. Em busca da autonomia e lucros acima de salários baixos e cargas horárias excessivas. Não que estes jovens vendedores trabalhem menos horas. Mas se extenuam de tanto trabalhar, é por conta própria, como costumam dizer. 

Fábio é sobrinho do meu outro grande amigo, o Gama. Trabalhava comigo na mesma empresa que o Alan Davis. Foi demitido após uma reestruturação na empresa. E ele queria ser demitido. Só não esperava que seria demitido do seu outro emprego. Daí, fiou-se às vendas. Inscreveu-se como microempreendedor, pagando o INSS todo mês. Hoje Fábio tem uma renda maior da que tinha com dois salários. Trabalha muito, sem dúvida. Mas não tenho má vontade, nem a preguiça de quando era empregado, diz o jovem empreendedor.

O fato é que a carteira assinada será cada vez coisa mais rara nos anos vindouros. É a chamada "pejotização" da economia. No Brasil já foi aprovada a terceirização geral. Muita gente vai virar prestadora de serviços sem registro em carteira. Ou seja, será contratada com pessoa jurídica: PJ. 

Há aqueles que temem o futuro. Eu vibro. Sim, tenho muito otimismo. Mas comigo, não com o país. Eu penso firmemente que ganharei mais dinheiro nos próximos anos. Claro que todos estamos em função do que ocorre economicamente no país quando se fala em dinheiro e trabalho. Neste sentido, parece-me que o ambiente econômico aqui vai melhorar. Teremos novos investimentos. Menos desemprego e uma população menos endividada e mais confiante para novos gastos e tomadas de empréstimos. 

Claro que seguiremos um país com graves problemas sociais relacionados às desigualdade e enorme violência justamento por conta da citada desigualdade. Sobretudo por que teremos muito provavelmente governos alinhados à agenda neoliberal, cuja principal característica é governar para grupos reduzidos, contemplados a partir das classes médias. Abaixo disso, as pessoas que fiquem com sua própria sorte.

E quem será o candidato vitorioso alinhado à agenda neoliberal. Eu acreditava firmemente que seria o prefeito de São Paulo João Doria. Mas política requer análise constante. Hoje penso que Geraldo Alckmin pode ser favorecido pelo chamado voto útil contra duas ameaças altamente conservadoras: Bolsonaro e Doria. Um nos costumes, outro na economia. 

O Jornal Financial Times afirma que Bolsonaro será eleito. Doria diz que as ideias de Bolsonaro são frágeis e vão se desidratar durante a campanha. Eu concordo com o prefeito, e creio que o deputado carioca chegará em quarto ou terceiro lugar. 

A corrida presidencial segue. Lula deverá ficar de fora por uma condenação em segunda instância. Com isto, o PT não terá um candidato com a musculatura do ex-presidente. Marcará território, nada além disso. De certo, ficará de fora do segundo turno, se houver. A esquerda terá Ciro Gomes e Marina Silva como principais candidatos. Dividida, com a presença ainda do PSOL, dará espaço para a direita decidir entre seus candidatos as vagas no segundo turno ou uma vitória já em primeiro turno. E é nessa fraqueza e divisão da esquerda que vejo a oportunidade para Alckmin rumar à vitória, recheado de voto útil de progressistas, temerosos de uma vitória mais ainda à direita do Doria ou Bolsonaro.

Muita água ainda vai rolar. A Lava-Jato ainda ameaça o atual governador de São Paulo. Aécio e Serra já ficaram para trás. Cabe a Alckmin engolir sua cria: João Doria. Livrar-se de eventuais denúncias. Lula deverá morrer na praia. Marina não vai muito além dos 20% de voto. Ciro não tem força. Bolsonaro é só uma onda. E Doria pode ser derrotado pelo voto útil em Alckmin.

Aguardemos os próximos lances no tabuleiro de 2018. Nossa frágil democracia, que anda sendo contestada, passa por um teste difícil. Deverá sobreviver. Mas certamente tem dado passos para trás em relação ao seu fortalecimento. Se tivermos eleições no ano que vem, já deveremos nos dar por contente. Quanto ao resultado, que seja o menos pior para o Brasil.


* Blogueiro e corretor de imóveis.



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