Espanto e surpresa
A
capacidade de sentir (e de manifestar) espanto face a acontecimentos
inusitados ou incompreensíveis e, sobretudo, com o mistério da
vida, e surpresa diante de ações e reações (próprias e/ou
alheias) é a principal característica das pessoas “inteligentes”
(no sentido lato da palavra, ou seja, das que entendem, posto que
minimamente, sua condição humana).
Muitos
já não a têm. Alguns, nunca a tiveram. É uma lástima! Albert
Einstein escreveu, em seu livro “Como vejo o mundo”, que “se
alguém não conhece esta sensação, ou não pode mais experimentar
espanto ou surpresa, já é um morto-vivo e seus olhos se cegaram”.
Exagero do cientista? Longe disso!
Há
quem jamais tenha sequer tentado fazer um exercício mínimo de
racionalidade. Estes jamais se questionaram, por exemplo, sobre o que
de fato são, qual a posição que ocupam na escala animal e que
propósito suas vidas têm. Afinal, queiram ou não, tudo no universo
tem algum motivo e objetivo, mesmo que não tenhamos capacidade de
discernir quais são.
Há
quem viva por viver. Estes são incapazes de raciocinar por si sós e
têm que ser “programados” para exercer funções mínimas que os
caracterizem como humanos. Argumenta-se, amiúde, com a falta de
oportunidades dessas pessoas, o que não deixa de ser real. Para
pensar, todavia, sequer é necessária qualquer instrução. Há
pessoas analfabetas que, no entanto, são inteligentíssimas e
entendem, mesmo que intuitivamente, o que muitos doutores, com
inúmeros diplomas acadêmicos, jamais entenderão.
Nosso
remoto ancestral, por exemplo, não tinha instrução nenhuma, óbvio.
Não sabia ler e nem escrever, porquanto sequer o primeiro e rústico
alfabeto havia ainda sido inventado. E, no entanto, soube como sair
da caverna primitiva, domar a natureza, adaptar-se às suas forças e
leis e lançar os fundamentos da atual civilização. O homem
contemporâneo, com toda sua empáfia e arrogância, não passa de
pigmeu intelectual. Tudo o que faz e que pensa, não passa, em certa
medida, de plágio, posto que com acréscimos pessoais (pudera!) das
obras e pensamentos dos remotos ancestrais. Só parece gigante por
estar nos ombros deles.
Todos
somos dotados desse mecanismo fantástico que nos permite, entre
tantas coisas, nos espantarmos e nos surpreendermos. Afinal, todos
somos dotados dessa capacidade que nos distingue não só dos demais
animais, mas de todos os seres vivos: o raciocínio.
Como
não se espantar ao contemplar, por exemplo, numa noite de Lua Cheia,
o céu estrelado e ver, até onde nossa vista alcança, milhões,
bilhões, quiçá trilhões de pontos de luz, cada um deles um sol, a
maioria de dimensões até cinco vezes maiores do que o nosso, muitos
dos quais com vários planetas ao redor e (conforme as probabilidades
matemáticas) com cerca de 300 mil com o tamanho e as características
da Terra? São habitados? Por que (tanto faz se a resposta for
positiva ou negativa)? Em caso positivo, por quem? Há vida
inteligente alhures? Onde?
Infelizmente,
esse mistério não causa a menor emoção em muitos (diria, na
maioria), que se julgam “realistas”, objetivos (na verdade não
passam do que o jornalista Nelson Rodrigues classificava de “idiotas
da objetividade”). A que realidade eles se referem?
Que
realismo é esse em que os que se dizem dotados dele sequer intuem (e
nem mesmo se questionam) “quem” (ou “o que”) são? Em que não
os preocupa saber onde estão? Em que não manifestam a menor
curiosidade sobre para que existem, e para onde vão, ao cabo de
parcas dezenas de anos (se tanto), se é que há algum destino além
deste, material?
Einstein
concluiu (e por isso também merece a justa classificação de
“gênio”, de um dos raros gigantes da espécie), que essa intensa
emoção causada pelo mistério da vida “é o sentimento que
sustenta a beleza e a verdade, cria a arte e a ciência”. Sem ela,
estaríamos, todos, ainda, nas cavernas primitivas (se não fôssemos,
claro, destruídos antes, o que é mais provável, dada nossa
incrível fragilidade física, comparada à força dos demais
animais), desorganizados, nos digladiando por comida, apavorados com
os fenômenos naturais ao nosso redor, sem contar, sequer, com uma
linguagem coerente para nos comunicar, grunhindo como os símios, com
os quais temos algumas semelhanças.
Há
tanta coisa que nos causa espanto e é mister que seja assim. Mas
nossa condição humana exige que busquemos entender o que nos
espantou, mesmo que não o consigamos. Temos o instrumental
necessário para procurar esse entendimento. É nossa obrigação
fazê-lo, até em respeito à nossa descendência.
Outrossim,
não podemos deixar morrer em nós a capacidade de nos surpreender,
com a beleza, com o horror, com a bondade latente, com a maldade, com
a justiça, com a violência, com o bem e o mal etc. E, sobretudo, a
de nos espantar, sempre, com os inúmeros mistérios que cercam a
vida.
Boa
leitura!
O
Editor.
Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk
E que os espantos com a beleza e as coisas boas se tornem mais frequentes.
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