terça-feira, 28 de novembro de 2017

Mundo ininteligível


Não lhe parece em determinados momentos, amável leitor, que o mundo enlouqueceu e se transformou num imenso hospício? A mim essa impressão é constante. Não que me considere melhor do quem quer que seja, não é isso. Mas confesso que boa parte do que vejo, ouço e leio foge por completo da minha compreensão. E isso desde que eu era menininho. Talvez seja efeito da minha educação extremamente cartesiana, que me fez acostumar a raciocinar sempre com rigorosa lógica e a esperar que todos raciocinem e (principalmente) ajam da mesma maneira.

É provável que me falte certo “jogo de cintura”, um quê de maleabilidade para não levar as coisas tão a sério. Já fui pior. Hoje já consigo distinguir com razoável acerto o trágico do cômico. Já aprendi a rir das situações engraçadas, que não tenham remédio, mesmo das que protagonizo, mas que caio até no ridículo quando tento levar a sério, porquanto não vale a pena remar contra a maré.

Todavia, não sou o único a pecar por falta de compreensão. Não compreendo quem sou, de onde vim, para onde vou, o porquê da morte e tantas e tantas e tantas outras coisas mais. Vários dos meus “amigos” escritores – tanto os que conheço pessoalmente, quanto os que jamais irei conhecer, tanto os vivos quanto os que já morreram há séculos, quando não milênios – manifestaram e manifestam amiúde essa mesmíssima estupefação face à crescente falta de lógica do mundo e, notadamente, das pessoas.

Milan Kundera é um deles. O ilustre escritor checo revela, em trecho do livro “A imortalidade”, que trago agora em mãos: “Pouco a pouco o mundo perde sua transparência e torna-se opaco, ininteligível, precipita-se no desconhecido, enquanto o homem traído pelo mundo refugia-se em seu foro íntimo, em sua nostalgia, em seus sonhos, em sua revolta, e, aturdido com a voz dolorosa que emerge de dentro dele, não sabe mais ouvir as vozes que o interpelam de fora”.

Discordo dele apenas quando afirma que “pouco a pouco o mundo perde sua transparência”. Creio que em época alguma chegou a ser transparente em nenhum momento. Sempre me pareceu opaco, opacocíssimo (adoro utilizar superlativos e abusar dos adjetivos, ou seja, utilizar tudo o que os críticos classificam como má literatura. Às favas com o críticos! Se eles se acham tão bons escritores, que escrevam melhor do que eu! Mas que não me encham o saco!).

Mas, voltando ao assunto, considero que o riso seja santo remédio não só para o que não compreendemos e que nos parece, digamos, “fora de órbita”, mas principalmente para nossos tormentos e males, os compreensíveis, claro. A medicina, inclusive, já comprovou sua eficácia e incorporou-o ao seu arsenal de combate à dor. Já escrevi sobre isso? Estou sendo repetitivo? E daí?!!! O riso é uma espécie de válvula de escape de tensões e frustrações. Eleva a taxa de endorfina no organismo e nos proporciona bem-vinda sensação de prazer.

Todavia... Estranhamente, utilizamos pouco esse recurso ao alcance de cada um de nós. Preferimos nos manter tensos e contraídos, com o cenho carregado, sisudos e impenetráveis, em vez de abrirmos amplo sorriso. Se carranca resolvesse nossos problemas, eu faria a cara mais medonha que já se viu. Entretanto, não resolve. E, pior, não raro os agrava.

Se rir já é muito bom, imaginem gargalhar, e espontaneamente É muito melhor! E, convenhamos, não nos faltam situações, no dia a dia, propícias a uma boa gargalhada. Reitero que levamos tudo e todos com seriedade em demasia, esquecidos que a maior parte dos desejos e aborrecimentos que nos afetam e afligem não passa de grande ilusão. Victor Hugo chegou a comparar a gargalhada ao sol, “que varre o inverno do rosto humano”. É como um sopro sutil de uma brisa de primavera. E, o melhor: está sempre ao nosso alcance, para nos valermos dela quando quisermos.

O escritor William Thackeray também assegura, do alto da sua experiência, o mesmo que Victor Hugo, posto que com outras palavras. Diz que “uma boa risada é um raio de sol”. Observo, no entanto, que devemos rir “para” alguém ou “com” ele, e nunca “de” quem quer que seja. O riso franco e espontâneo desanuvia qualquer ambiente e coloca todo e qualquer problema na sua devida perspectiva. É, antes de tudo, manifestação de humanidade. Afinal, queiram ou não, o homem é o único animal que ri. Não acreditam? Pois bem, apontem-me outro. Não conseguem, não é? Nunca conseguirão. Não existe outro.

Mas neste mundo incompreensível, em que, como em “O alienista”, de Machado de Assis, os mentalmente sadios estão confinados em manicômios, nas várias “Casas Verdes” que há por aí, e os malucos belezas andam à solta com ares de “sapiência”, se tivermos que rir de alguém, que seja de nós mesmos.

Não devemos nos levar tão a sério. Embora não percebamos, quando o fazemos somos ridículos (na verdadeira acepção do termo, ou seja, “dignos de riso”). Quando conseguirmos rir de nós mesmos, com franqueza e espontaneidade, estaremos manifestando, sobretudo, segurança em relação ao que somos ou que fazemos.

O riso, o bom humor e a alegria são o verdadeiro elixir da eterna juventude. Sorrir faz bem à saúde e prolonga a vida, conferindo-lhe luz, paz e qualidade. Portanto, quando se sentir assediado pela tristeza, preocupação, dúvida ou depressão, não hesite, caro leitor: sorria!!!! E não tente compreender o mundo. Jamais conseguirá, mesmo que ache que sim. Irá frustrar-se. Em vez disso, viva plenamente. Afinal, esta é uma aventura fascinante e única, que, portanto, não tem reprise.

Boa leitura!

O Editor.


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