sexta-feira, 24 de novembro de 2017

O empresário

* Por Assionara Souza

Ao lado da placa “Quer ser um artista?” serpenteia uma fila incomum. Homens, mulheres e crianças que se sentem marcados por algum dom, alguma habilidade que os diferencie dos simples mortais, vêm se inscrever com o Empresário.

Já é costume, em cada cidade por onde o circo passa, que ele receba vários desses tipos com o fim de descobrir algum em especial que possa lhe despertar o antigo instinto de gerenciar o circo.

Cada vez menos os verdadeiros artistas surgem, ele pensa. Efeitos especiais, réplicas de números exaustivamente manjados com roupagem nova e discurso surpreendente é só o que tem visto.

A mágica silenciosa e autêntica está relegada a outros tempos. Mesmo assim, o Empresário não perde a esperança – no fundo, carrega o sentimento de que, antes do último e definitivo espetáculo, haverá de se revelar, como já acontecera no passado, um talento ímpar, inigualável, algo ou alguém que de uma estranha maneira se assemelhe a ele próprio.


* Escritora potiguar residente em Curitiba.


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