quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Um pequenino canto

* Por Alberto Cohen

O pequenino canto é o nosso canto,
embora abandonado e sem o canto
de nossos passarinhos.
Mesmo sem teu sorriso e meu cigarro,
a poesia, que ajuntamos de bobagens
e de imensas ternuras,
ainda espera, no quarto, na sala,
que eu, por um beijo teu, volte a escrevê-la.
Decerto aquele frio das madrugadas
reclama a falta do calor dos corpos
que nunca mais se doaram,
e o cheiro de jasmim não vê sentido
em não te perfumar.
Invisíveis pegadas de momentos,
pelo chão da casa, pelo céu da cama
pelo nosso carma,
vão dizendo, em silêncio, que a magia
ainda mora num pequenino canto
em que o passado permanece atento
a qualquer ruído, a qualquer risada,
a qualquer retorno...
Se, de repente, um tempo de visagens
e de ervas daninhas
quiser invadir o pequenino canto,
não passará da entrada, pois verá
que os moradores saíram, não estão,
mas alguns de seus sonhos, vigilantes,
aguardam no portão.
E as ondas do mar ainda chamam teu nome,
e a luz do luar teus cabelos espera,
e o vento proclama que nos encantamos
e imortais nos tornamos,
em todas as nossas histórias guardadas
na imaginária linha do horizonte
de nosso imenso pequenino canto.


* Poeta paraense.

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