terça-feira, 28 de novembro de 2017

Entregue a Deus

* Por José Calvino


Eu vou dizer: muitos usam o nome de Deus em vão. Quem já não leu aqueles adesivos nos vidros traseiros dos carros? Deus me deu de presente”, Esse carro é propriedade de Jesus”. Esse veículo é guiado por Deus”, Deus é fiel...”

Um bem ou mal: Deus tá vendo!” Não paga o que deve: Deus lhe pague!” Pedindo esmola: Deus te abençoe!” Fazer um pedido: Se Deus quiser!” Pedido alcançado: Graças a Deus!”

De um perigo iminente: Deus me salvou!” Correndo tudo às mil maravilhas: Deus é pai...”

A frase que dá o título a esta crônica é óbvia, até porque combina com o texto acima: O nome de Deus em vão! 
   
O objetivo desta crônica é mostrar que até os dias de hoje os poderosos, aproveitando-se de nossa incultura, fizeram as cabeças do povo para aceitar tudo que é favorável às classes dominantes, e para não aceitar idrias novas que não venham por vias oficiais. Aceitar, sim, tudo que venha de cima, sem contudo analisar. Sábado, em minha residência, conversando como sempre faço com meu amigo da velha guarda, Azambujanra, comentava sobre as injustiças que assolam o nosso país. Começamos sobre uma senhora aposentada da Prefeitura da Cidade do Recife, que saiu com os proventos proporcionais a 25 anos (ditadura militar). Quando requereu a aposentadoria, provando em juízo que, de fato, antes de entrar na Prefeitura trabalhou por um período de cinco anos  na Fábrica da Macaxeira, o juiz de direito julgou procedente o pedido para pagamento dos proventos dela de forma integral. Mas decisão essa sujeita à apreciação do Tribunal de Justiça do Estado, que parcialmente negou e fez com que a autora passasse a ser ré! Fazendo cair por terra mais de cinco anos de serviços efetivamente prestados. Infelizmente, a dita senhora não mais confia na Justiça.

Peço licença agora aos leitores religiosos, irreligiosos ou ateus, para citar uma das bem conhecidas parábolas de Jesus: “Então Jesus contou aos seus discípulos que havia um juiz em certa cidade que não temia a Deus nem respeitava ninguém...” (Vide LC 18:1-8) .

- São coniventes, como  Deus é Justiça? – disse ironicamente Azambujanra, e me perguntou: - E os direitos da pessoa idosa?

Respondi que essa é uma piada das grandes. Um cidadão idoso deu entrada no Ministério Público conforme a Lei nº 10.741/2003 (Estatuto do idoso), art. 71 “(...), em que idosos são parte em processos, têm prioridade na tramitação em qualquer instância ou órgão público.” Contudo até agora não pagaram o atrasado e nem mesmo uma multa impetrada pelo Juiz de Direito. Sinceramente, não justifica o descaso para com uma pessoa idosa, cuja ação tramita desde o ano de 1998 e há uma recusa deliberada em dar cumprimento à decisão judicial. Mas, os xexeiros (vide “O maior xexeiro no País do Futebol”), principalmente o Governo, contam com,  conivência da Justiça. Sobre o caso, segue, em resumo, uma publicação de minha autoria num dos jornais da cidade e em diversos sites:


"(...) Uma funcionária da Justiça chamou a polícia para um cidadão que vem ouvindo a mesma informação referente a uma dívida que o governo estadual vem devendo há anos. Ela irritou-se somente porque o cidadão falou alto a verdade. O famigerado aviso 'Desacatar funcionário público no exercício da função ou em razão dela'. Deveriam saber que tanto o servidor pode ser injuriado pelo cidadão, quanto  o cidadão pode ser injuriado pelo servidor. Todos nós sabemos que tem muitos funcionários folgados e preguiçosos transmitindo mentiras sobre  morosidade da justiça, que age com conivência com o governo. Na minha opinião, todos nós devemos praticar o respeito mútuo, não importa qual a função." 

Enfim,  para o caso que vem há anos sem resolução, alguns religiosos aconselharam ao dito senhor para não ficar se contrariando e, para ficar mais feliz. Que ele “entregue a Deus”.

* Escritor pernambucano.


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