segunda-feira, 20 de novembro de 2017

Cena de filme


* Por Fabiana Bórgia


Foi exatamente isso que aconteceu. Eu e minha amiga estávamos saindo do trabalho, quando resolvemos que passaríamos na livraria, onde vou lançar meu novo livro. Então, o tempo fechou de repente. No lugar do sol forte que veio pela manhã, uma massa cinzenta começou a engolir o final do dia. Escureceu de repente. E veio o temporal.

Descemos do carro. As ruas já estavam alagadas. A água já estava na altura do joelho. Pensei: "Hoje é dia do Juízo Final. E não há arca de Noé que dê jeito". Visualizava as notícias do jornal, do dia seguinte, onde nós duas apareceríamos agarradas em postes, para que o vento não nos levasse, como se ali estivesse acontecendo um furacão. Sim, o homem brincou tanto com a natureza que havia passado um furacão pelo Brasil. E no Rio de Janeiro, ainda por cima!!! Quem disse que isso nunca ia acontecer? Ok. Tudo isso fruto da minha densa imaginação, mas a sensação mais inédita que eu tive nos últimos tempos.

Conseguimos entrar na livraria. Lá dentro, uma calmaria só. Tomamos café, comemos croissant, e como a chuva não passava, e eu estava morrendo de frio, porque estava toda molhada e nervosa, tomei uma taça de vinho, a fim de me acalmar e me esquentar.

Foram duas horas lá dentro e a chuva só aumentava. Os carros não conseguiam passar. Eu imaginei que meu carro já estivesse todo estragado e que não haveria ninguém que pudesse me acolher naquele dia de dilúvio.

Então pensei em Dorothy e O Mágico de Oz, e que não há melhor lugar no mundo do que a nossa casa. Também pensei em passagens bíblicas, principalmente quando o Mar Vermelho se abriu ao meio, para que o povo pudesse passar. Por fim, pensei também nas pessoas que não têm onde morar. E concluí que se era assim no Rio de Janeiro, imagine só nos outros cantos do nosso imenso Brasil...

Com tudo isso, entendi que não era filme. Não havia romance algum. Muitas pessoas estariam, no mínimo, desabrigadas. A realidade de alguns, simplesmente, era dura demais.

* Escritora por vocação e advogada por formação. Paulista por natureza e carioca por estado de espírito. Engenheira de sonhos: alguém em eterna construção. Autora do livro “Traços de Personalidade


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