Proteção
* Por
Eduardo Oliveira Freire
Há
sempre alguma loucura no amor. Mas há sempre um pouco de razão na
loucura". Friedrich
Nietzsche.
Anda
pela mansão com uma garrafa de uísque, está completamente falido.
Vai ao quarto onde está a mulher, sempre admira a beleza da esposa e
sua elegância. Não poderá mais lhe proporcionar a vida de rainha.
Pensa que sofrerá muito de ficar sem as unhas feitas, cabelo
arrumado e não usar mais as roupas de grife. “Ela
não suportará!”.
Pega
o revolver que está na gaveta do closet e atira nela. Em seguida,
caminha aos aposentos da filha mais velha, angustia-se ao
especular que a jovem sofrerá ao sair da escola tradicional e
deixará de frequentar os lugares que estava acostumada, perdendo os
amigos, que serão a elite do país no futuro. Ainda imagina a filha
no transporte público, sofrendo abuso de homens suburbanos,
favelados e sujos. “Meu
anjinho, não merece isso.”.
Atira.
Suspira fundo, mas precisa proteger sua família. Quando entra no
quarto do filho mais novo, observa quantos brinquedos o menino
possui. “Coitadinho,
nunca se adaptará em não ter mais os brinquedos de ultima geração
e se for ao colégio público, levará muita porrada. Ainda mais que
é branquinho de olho azul...”.
Atira.
Exausto senta no sofá da sala e o Tobi aparece, fazendo-lhe festa. “
Coitadinho, ficará
muito doente em parar de comer a ração importada e, se não for
mais tosado, irá se transformar numa coisa nojenta. Ainda bem que
sobraram
duas balas”. Atira
no cachorro de raça exótica e depois, nele. Faz o que
tem que ser feito. Protege sua família.
*
Formado em Ciências Sociais, especialização em Jornalismo cultural
e aspirante a escritor - http://cronicas-ideias.blogspot.com.br/
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