quarta-feira, 12 de julho de 2017

Quem ama casa ou quem casa ama?

* Por Mara Narciso
 
Muitas vezes a vida nos coloca em encruzilhadas e nem sempre temos o bom senso para escolher o melhor caminho. Quantas vezes optamos pela estrada mais tortuosa e complexa? Algumas vezes chegamos ao Éden, mas noutras caímos no poço. São tantos os perigos do roteiro, uma armadilha atrás de cada árvore. Enquanto houver árvores. Mas são muitas as luzes encontradas.
 
Viver é excitante, exatamente pelas surpresas em cada capítulo. Ao fim de uma etapa há a emoção da série, e no outro dia, um capítulo inteiro para escrever. A vida tem seu tortuoso tempo, nem longo nem curto. A expectativa de vida no Brasil está em 75 anos. Queremos chegar lá. Mas muitos caem antes, e falo de causas naturais. Então, devemos viver da melhor maneira. E qual é esta maneira? Cada povo tem suas expectativas. Uns vão pelo lado da posse de coisas e pessoas, outros vão pelo lado leve, vida simples, despojada, descomplicada, cada um livre para ser o que quiser. Pensam que a maioria quer a segunda opção? Não! Quer a primeira.
 
A relação humana é um risco a cada momento. Quantas vezes pessoas são tão próximas que fazemos uma verdadeira imersão no seu modo de viver? Ficamos sabendo detalhes íntimos que só contamos ao terapeuta. Depois somem para nunca mais voltar. Boa parte das aproximações é circunstancial, por interesse de vizinhança, escolar, trabalho, instituição, financeiro, afetivo. Depois, laços apertados se rompem, rasgando a carne. Ficam cicatrizes e lembranças.

Pessoas se unem para suprir o que mais lhes faltam. Então, pessoas diferentes se aproximam pelos mesmos motivos que as separarão. Nas rupturas são diversas dores e alegações.  Há o pensar, medir, pesar, decidir e falar. Ou escrever. Porque está em curso uma moda cruel de rupturas por escrito. As que são vítimas da ruptura reclamam, para ler a justificativa dos ruptores de que é melhor assim.
 
Desde a Bíblia se diz que haverá choro e ranger de dentes no sofrimento. A maioria sabe o que vem a ser isso. E aqui não falo do Apocalipse Universal e sim do individual. Quantas vezes fizemos chorar? E quantas vezes choramos? E outras que sorrimos e nos beneficiamos das melhores delícias?
 
Sonhar, vivenciar e sorver o que a vida tem de melhor. E porque não? Desde que procuremos não punir quem não merece e sim, nos afastar do convívio de quem nos faz sofrer. O mundo continua coalhado de injustiças, de penalizações a quem não deveria ser punido, enquanto muitos merecedores de punição encontram o Reino dos Céus na terra. Outros, completamente bons passam a vida a sofrer. Há culpas e culpados, mas quem produz dor sofre? Quem constrói o bem, usufrui dele?
 
Vivendo, e o melhor, ninguém sabe até que dia, o mundo pode ser visto como um lugar injusto onde, todos os dias vemos cair os bons e se levantar os maus. Sem intriga não há enredo. Assim é nos livros, nas novelas, nos filmes e na vida. O marasmo não é bom companheiro, então precisamos fazer acontecer, irmos em busca da ação, preenchermos a vida em todos os níveis. É o óbvio, mas se vive basicamente nele e dele.
 
Então, podemos falar do amor, esse sentimento traiçoeiro com quem se mete a senti-lo e, o pior, escrever sobre ele. Inevitavelmente caímos no ridículo. Mas sem isso não se conhece o amor. Quanto à pergunta do título, é dever de casa. Que cada um procure a sua resposta.
 

* Médica endocrinologista, jornalista profissional, membro da Academia Feminina de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico, ambos de Montes Claros e autora do livro “Segurando a Hiperatividade”


Um comentário:

  1. Boa pergunta, Mara. Mas somos demasiado humanos para termos uma resposta... abraços.

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