Caldo de cana
* Por
Ana Deliberador
As duas meninas não
davam sossego pro seu Rafael Martins. Toda vez que iam à mina d’água levar
comida pra lavadeira, passavam pelo engenho e pediam:
– Seu Rafael, dá
garapa pra gente?
E lá ia o homem para a
moenda.
Num desses dias em que
se levanta de pé esquerdo, sol muito quente, calor, poeira, seu Rafael atendeu
prontamente ao pedido das meninas e foi moer a cana, enchendo vários litros.
Maria Annita e Belinha
beberam o suco delicioso, com gosto. Quando agradeceram, seu Rafael, olhando de
um jeito de dar medo, disse:
– Bebe mais!
Assustadas com a
ordem, as garotas beberam mais. E mais. E mais.
Cada vez que pensavam
em parar o velho dizia:
_ Coño! Bebe mais!
Coño!
As meninas quase
morreram de medo e de tanta garapa!
Seu Rafael livrou-se
das duas para sempre!
* Professora, pintora e escritora
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