Aprendizado e compreensão
* Por Pedro J. Bondaczuk
O aprendizado e a compreensão nem sempre (ou quase nunca) andam juntos, de mãos dadas, embora haja quem os considere sinônimos. Evidentemente, não são. Podemos, por exemplo, aprender a operar determinada máquina (um computador, para citar a mais comum), sem que compreendamos, sequer minimamente, a razão do seu funcionamento, ou seja, seu hardware e seu software. O mesmo ocorre em relação a inúmeros outros processos, trabalhos, mecanismos e conceitos, nas mais variadas atividades e na própria vida.
Vivemos aprendendo, aprendendo e aprendendo, diariamente, do berço à tumba, mas, na maioria das vezes, sem compreender significados e necessidades. Caso sejamos bem-educados, por termos nascido em lares sadios e bem-estruturados, em que reinem o amor e a cooperação, ensinam-nos, em tenra idade ainda, que devemos ser corteses, amáveis, justos e respeitadores intransigentes dos direitos alheios.
Aprendemos tudo isso mesmo sem compreender a razão. A compreensão do por que isso é preciso, nos relacionamentos – quer familiares, quer sociais, quer profissionais – só vamos conseguir (e isso quando conseguimos) muitos anos depois. Alguns, por um motivo ou outro, jamais compreendem.
Quando eu era adolescente, tinha, no antigo ginásio, aulas de latim. Achava uma chatice ter que aprender declinações, conjugações de verbos e todas as regras gramaticais de uma língua tida como morta. Aprendia as lições ensinadas até por necessidade (ai se não aprendesse), para não vir a ser reprovado e ter de me explicar para os meus pais.
Depois de um certo tempo, conseguia traduzir, sem muito esforço e praticamente sem erros, textos enormes sobre os sete reis de Roma ou expedições militares de Júlio César, entre outros. Tenho esse conhecimento, óbvio, até hoje.
Não compreendia, na ocasião, porém, a razão dessa matéria constar no currículo. Fui compreender, apenas, anos depois, já maduro, o quão privilegiado fui por ter acesso a esse conhecimento. Quem não o teve, não faz a menor idéia do que perdeu.
O aprendizado do latim possibilitou-me, entre outras coisas, o entendimento da origem de boa parte das palavras deste idioma que tanto amo e que cultuo com interesse e veneração: nossa língua portuguesa. Afinal, elas se originaram dessa antiga e tradicional matriz que, agora sim, começa a morrer de vez. Nem a liturgia da Igreja Católica a utiliza mais.
E o latim, recorde-se, é importante não apenas para se aprender bem o português. Se quiser conhecer razoavelmente suas “irmãs”, o espanhol, o francês e o italiano, que igualmente tive o privilégio de aprender, ele serve de excelente base. E mesmo o inglês, por estranho que possa parecer, já que quase a metade dos termos que constam em seus dicionários proveio dessa raiz.
Como se vê, aquilo que um dia me pareceu um tormento sem fim, se transformou em fonte inesgotável de satisfação. Mas isso aconteceu somente depois que cheguei à compreensão. A baronesa alemã, que foi excelente escritora em língua germânica, Marie von Ebner Eschenbach, constatou, a esse propósito: “Na juventude aprendemos, na maturidade, compreendemos”. Geralmente, é o que, de fato, acontece.
Mas isso não funciona, assim, como regra universal, absoluta e inflexível, como uma espécie de dogma que não possa ser contestado. Há determinadas coisas que somos capazes de compreender na mais tenra infância e há outras que não conseguimos nunca, mesmo que venhamos a viver cem anos ou mais. Não se trata, pois, de questão cronológica, mas de interesse, disciplina, força de vontade, acuidade mental etc.etc.etc..
Ademais, os níveis de compreensão não são uniformes. Ou seja, não são iguais para todo o mundo (assim como os de aprendizado também não são). Há graduações e mais graduações, e em ambos os casos.
Uns aprendem mais facilmente que os outros. Da mesma forma, há os que compreendem até os conceitos mais complexos, das artes, ciências, filosofia etc. com extrema facilidade, enquanto existem outros tantos, muitos outros (provavelmente a maioria) que jamais logram chegar sequer minimamente a essa compreensão.
Claro que o ideal é contarmos com esses dois fatores que sustentam e definem a própria racionalidade desta espécie paradoxal e contraditória, simultaneamente. Aprender qualquer coisa e, ao mesmo tempo, compreender sua essência, mecanismos e utilidades, é uma bênção, que nem sempre nos acontece. E isso independe de qual faixa etária nos situamos ou de quantos anos vivemos.
* Jornalista, radialista e escritor. Trabalhou na Rádio Educadora de Campinas (atual Bandeirantes Campinas), em 1981 e 1982. Foi editor do Diário do Povo e do Correio Popular onde, entre outras funções, foi crítico de arte. Em equipe, ganhou o Prêmio Esso de 1997, no Correio Popular. Autor dos livros “Por uma nova utopia” (ensaios políticos) e “Quadros de Natal” (contos), além de “Lance Fatal” (contos) e “Cronos & Narciso” (crônicas). Blog “O Escrevinhador” – http://pedrobondaczuk.blogspot.com. Twitter:@bondaczuk
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* Por Pedro J. Bondaczuk
O aprendizado e a compreensão nem sempre (ou quase nunca) andam juntos, de mãos dadas, embora haja quem os considere sinônimos. Evidentemente, não são. Podemos, por exemplo, aprender a operar determinada máquina (um computador, para citar a mais comum), sem que compreendamos, sequer minimamente, a razão do seu funcionamento, ou seja, seu hardware e seu software. O mesmo ocorre em relação a inúmeros outros processos, trabalhos, mecanismos e conceitos, nas mais variadas atividades e na própria vida.
Vivemos aprendendo, aprendendo e aprendendo, diariamente, do berço à tumba, mas, na maioria das vezes, sem compreender significados e necessidades. Caso sejamos bem-educados, por termos nascido em lares sadios e bem-estruturados, em que reinem o amor e a cooperação, ensinam-nos, em tenra idade ainda, que devemos ser corteses, amáveis, justos e respeitadores intransigentes dos direitos alheios.
Aprendemos tudo isso mesmo sem compreender a razão. A compreensão do por que isso é preciso, nos relacionamentos – quer familiares, quer sociais, quer profissionais – só vamos conseguir (e isso quando conseguimos) muitos anos depois. Alguns, por um motivo ou outro, jamais compreendem.
Quando eu era adolescente, tinha, no antigo ginásio, aulas de latim. Achava uma chatice ter que aprender declinações, conjugações de verbos e todas as regras gramaticais de uma língua tida como morta. Aprendia as lições ensinadas até por necessidade (ai se não aprendesse), para não vir a ser reprovado e ter de me explicar para os meus pais.
Depois de um certo tempo, conseguia traduzir, sem muito esforço e praticamente sem erros, textos enormes sobre os sete reis de Roma ou expedições militares de Júlio César, entre outros. Tenho esse conhecimento, óbvio, até hoje.
Não compreendia, na ocasião, porém, a razão dessa matéria constar no currículo. Fui compreender, apenas, anos depois, já maduro, o quão privilegiado fui por ter acesso a esse conhecimento. Quem não o teve, não faz a menor idéia do que perdeu.
O aprendizado do latim possibilitou-me, entre outras coisas, o entendimento da origem de boa parte das palavras deste idioma que tanto amo e que cultuo com interesse e veneração: nossa língua portuguesa. Afinal, elas se originaram dessa antiga e tradicional matriz que, agora sim, começa a morrer de vez. Nem a liturgia da Igreja Católica a utiliza mais.
E o latim, recorde-se, é importante não apenas para se aprender bem o português. Se quiser conhecer razoavelmente suas “irmãs”, o espanhol, o francês e o italiano, que igualmente tive o privilégio de aprender, ele serve de excelente base. E mesmo o inglês, por estranho que possa parecer, já que quase a metade dos termos que constam em seus dicionários proveio dessa raiz.
Como se vê, aquilo que um dia me pareceu um tormento sem fim, se transformou em fonte inesgotável de satisfação. Mas isso aconteceu somente depois que cheguei à compreensão. A baronesa alemã, que foi excelente escritora em língua germânica, Marie von Ebner Eschenbach, constatou, a esse propósito: “Na juventude aprendemos, na maturidade, compreendemos”. Geralmente, é o que, de fato, acontece.
Mas isso não funciona, assim, como regra universal, absoluta e inflexível, como uma espécie de dogma que não possa ser contestado. Há determinadas coisas que somos capazes de compreender na mais tenra infância e há outras que não conseguimos nunca, mesmo que venhamos a viver cem anos ou mais. Não se trata, pois, de questão cronológica, mas de interesse, disciplina, força de vontade, acuidade mental etc.etc.etc..
Ademais, os níveis de compreensão não são uniformes. Ou seja, não são iguais para todo o mundo (assim como os de aprendizado também não são). Há graduações e mais graduações, e em ambos os casos.
Uns aprendem mais facilmente que os outros. Da mesma forma, há os que compreendem até os conceitos mais complexos, das artes, ciências, filosofia etc. com extrema facilidade, enquanto existem outros tantos, muitos outros (provavelmente a maioria) que jamais logram chegar sequer minimamente a essa compreensão.
Claro que o ideal é contarmos com esses dois fatores que sustentam e definem a própria racionalidade desta espécie paradoxal e contraditória, simultaneamente. Aprender qualquer coisa e, ao mesmo tempo, compreender sua essência, mecanismos e utilidades, é uma bênção, que nem sempre nos acontece. E isso independe de qual faixa etária nos situamos ou de quantos anos vivemos.
* Jornalista, radialista e escritor. Trabalhou na Rádio Educadora de Campinas (atual Bandeirantes Campinas), em 1981 e 1982. Foi editor do Diário do Povo e do Correio Popular onde, entre outras funções, foi crítico de arte. Em equipe, ganhou o Prêmio Esso de 1997, no Correio Popular. Autor dos livros “Por uma nova utopia” (ensaios políticos) e “Quadros de Natal” (contos), além de “Lance Fatal” (contos) e “Cronos & Narciso” (crônicas). Blog “O Escrevinhador” – http://pedrobondaczuk.blogspot.com. Twitter:@bondaczuk
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O que comprar:
Cronos e Narciso (crônicas, Editora Barauna, 110 páginas) – “Nessa época do eterno presente, em que tudo é reduzido à exaustão dos momentos, este livro de Pedro J. Bondaczuk reaviva a fome de transcendência! (Nei Duclós, escritor e jornalista). – Preço: R$ 23,90.
Lance fatal (contos, Editora Barauna, 73 páginas) – Um lance, uma única e solitária jogada, pode decidir uma partida e até um campeonato, uma Copa do Mundo. Assim como no jogo – seja de futebol ou de qualquer outro esporte – uma determinada ação, dependendo das circunstâncias, decide uma vida. Esta é a mensagem implícita nos quatro instigantes contos de Pedro J. Bondaczuk neste pequeno grande livro. – Preço: R$ 20,90.
Como comprar:
Pela internet – WWW.editorabarauna.com.br – Acessar o link “Como comprar” e seguir as instruções.
Em livraria – Em qualquer loja da rede de livrarias Cultura espalhadas pelo País.
Cronos e Narciso (crônicas, Editora Barauna, 110 páginas) – “Nessa época do eterno presente, em que tudo é reduzido à exaustão dos momentos, este livro de Pedro J. Bondaczuk reaviva a fome de transcendência! (Nei Duclós, escritor e jornalista). – Preço: R$ 23,90.
Lance fatal (contos, Editora Barauna, 73 páginas) – Um lance, uma única e solitária jogada, pode decidir uma partida e até um campeonato, uma Copa do Mundo. Assim como no jogo – seja de futebol ou de qualquer outro esporte – uma determinada ação, dependendo das circunstâncias, decide uma vida. Esta é a mensagem implícita nos quatro instigantes contos de Pedro J. Bondaczuk neste pequeno grande livro. – Preço: R$ 20,90.
Como comprar:
Pela internet – WWW.editorabarauna.com.br – Acessar o link “Como comprar” e seguir as instruções.
Em livraria – Em qualquer loja da rede de livrarias Cultura espalhadas pelo País.
Já devaneei sobre o pânico que se instalará na ocasião em que eu não conseguir aprender mais nada. Já convivo com pessoas que perderam a memória, e sofrem muito com isso. Sabe que é um bom tema para você, Pedro, que sempre aborda as diversas características humanas?
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