Direito e dever
A vida em sociedade, para que o relacionamento de seus membros seja sadio, harmonioso e proporcione felicidade geral, implica (em tese) em uma série de direitos e deveres que deveria ser universal, irrestrita e imprescritível.
Essa seria a situação ideal. Mas, como sabemos, não é o que ocorre na prática, no dia a dia (muito pelo contrário). E isso acontece não de agora, mas desde o surgimento das primeiras comunidades humanas, os clãs familiares dos primórdios da tal da civilização, quando os homens habitavam, ainda, em rústicas cavernas como bichos e agiam, basicamente, por instinto, como os demais animais.
Custou para que pessoas lúcidas tivessem essa noção. Mas entre intuir alguma coisa, por mais lógica que seja, e colocá-la em prática, vai uma distância infinita, como da Terra aos confins do universo. Direitos e deveres deveriam guardar sempre uma isonomia. Aos primeiros, deveriam corresponder, sem exceção, os segundos. Não é, óbvio, o que acontece.
Daí as divisões, conflitos e contradições que afetam, em graus variáveis, todos os povos, indistintamente, ou seja, aquilo que denominamos genericamente de “humanidade”. Há pessoas que se julgam (e agem) como se estivessem acima de todas as normas, quer morais, quer legais ou comportamentais. Reivindicam, a todo o momento, direitos (e exageram-nos ao máximo, exigindo até o que não lhes compete) e se esquecem da contrapartida: a dos deveres.
Mas não é esse o tema da minha reflexão de hoje, embora se trate de assunto capaz de render textos e mais textos, tratados e mais tratados, bibliotecas inteiras, que mesmo verdadeiros são inúteis. Afinal, sempre tivemos e sempre teremos os privilegiados e os excluídos. Não será agora, num passe de magia, que isso irá mudar. Não vai. Compete-nos, somente, fazermos o possível e o impossível para jamais sermos degradados e descambarmos para a segunda categoria.
Entre a infinidade de tipos humanos que já existiram e que ainda existem sobre a Terra (óbvio que só poderiam existir aqui pois, enquanto não se descobrir vida minimamente inteligente alhures, só poderemos nos referir a habitantes exclusivamente deste nosso estranho Planeta), há uma classe de pessoas que reputo de especial. É a dos artistas, que vislumbram beleza até onde esta sequer existe e que a traduz em telas, esculturas, melodias, palavras etc.
Basicamente, convenhamos, em termos de comportamento, essa gente não difere das demais. Comporta-se da mesmíssima maneira de quem não tem esse dom maravilhoso, que torna a convivência se não perfeita, pelo menos um tantinho mais tolerável.
Há artistas privilegiados e há, também, (e estes em esmagadora maioria) excluídos. Talvez, em seu favor, se possa dizer que se preocupam um pouquinho mais do que os outros com determinados princípios morais que, se praticados, atenuariam e melhorariam os relacionamentos, como igualdade, solidariedade e fraternidade.
Para estes, o escritor austríaco Karl Krause reivindica um direito, e sua contrapartida, um dever, bem particulares e específicos: o da modéstia, no primeiro caso e o da vaidade, no segundo. Destaco que ser modesto é diferente de ser hipócrita.
Há artistas (mas isso vale para qualquer pessoa) que dissimulam uma humildade que na verdade não têm. Fazem questão de se diminuir diante dos outros, à espera de serem contestados e, claro, elogiados. E quando os elogios não vêm... Ficam furiosos! Esses não são modestos, claro. São hipócritas.
Quanto à vaidade, desde que não exagerada, tenho-a na conta de virtude, não de defeito. Trata-se de amor próprio, de auto-estima, de autovalorização, de confiança no que se faz e no que se é. É um tanto difícil de explicar essa interpretação, mas tentarei fazê-lo. Se você achar que todos podem ser bons, mas você também o é, estará no caminho certo. É a vaidade positiva e até necessária.
Contudo, se você eventualmente se achar o mais sábio, o mais belo, o mais talentoso, o mais capaz e os tantos mais mais que possam existir,, vá correndo ao psiquiatra. Certamente (artista ou não) você estará tomado por um tipo de paranóia, de esquizofrenia das mais severas e incuráveis: a megalomania. .
Claro que Karl Kraus disse o que disse em tom de troça, já que a sua característica sempre foi a ironia e o humor cáustico e crítico. Contudo, guardadas as diferenças que citei, o direito e o dever mencionados pelo escritor austríaco podem (e até diria que devem) ser interpretados literalmente. Por que não?!!
Boa leitura.
O Editor.
Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk
A vida em sociedade, para que o relacionamento de seus membros seja sadio, harmonioso e proporcione felicidade geral, implica (em tese) em uma série de direitos e deveres que deveria ser universal, irrestrita e imprescritível.
Essa seria a situação ideal. Mas, como sabemos, não é o que ocorre na prática, no dia a dia (muito pelo contrário). E isso acontece não de agora, mas desde o surgimento das primeiras comunidades humanas, os clãs familiares dos primórdios da tal da civilização, quando os homens habitavam, ainda, em rústicas cavernas como bichos e agiam, basicamente, por instinto, como os demais animais.
Custou para que pessoas lúcidas tivessem essa noção. Mas entre intuir alguma coisa, por mais lógica que seja, e colocá-la em prática, vai uma distância infinita, como da Terra aos confins do universo. Direitos e deveres deveriam guardar sempre uma isonomia. Aos primeiros, deveriam corresponder, sem exceção, os segundos. Não é, óbvio, o que acontece.
Daí as divisões, conflitos e contradições que afetam, em graus variáveis, todos os povos, indistintamente, ou seja, aquilo que denominamos genericamente de “humanidade”. Há pessoas que se julgam (e agem) como se estivessem acima de todas as normas, quer morais, quer legais ou comportamentais. Reivindicam, a todo o momento, direitos (e exageram-nos ao máximo, exigindo até o que não lhes compete) e se esquecem da contrapartida: a dos deveres.
Mas não é esse o tema da minha reflexão de hoje, embora se trate de assunto capaz de render textos e mais textos, tratados e mais tratados, bibliotecas inteiras, que mesmo verdadeiros são inúteis. Afinal, sempre tivemos e sempre teremos os privilegiados e os excluídos. Não será agora, num passe de magia, que isso irá mudar. Não vai. Compete-nos, somente, fazermos o possível e o impossível para jamais sermos degradados e descambarmos para a segunda categoria.
Entre a infinidade de tipos humanos que já existiram e que ainda existem sobre a Terra (óbvio que só poderiam existir aqui pois, enquanto não se descobrir vida minimamente inteligente alhures, só poderemos nos referir a habitantes exclusivamente deste nosso estranho Planeta), há uma classe de pessoas que reputo de especial. É a dos artistas, que vislumbram beleza até onde esta sequer existe e que a traduz em telas, esculturas, melodias, palavras etc.
Basicamente, convenhamos, em termos de comportamento, essa gente não difere das demais. Comporta-se da mesmíssima maneira de quem não tem esse dom maravilhoso, que torna a convivência se não perfeita, pelo menos um tantinho mais tolerável.
Há artistas privilegiados e há, também, (e estes em esmagadora maioria) excluídos. Talvez, em seu favor, se possa dizer que se preocupam um pouquinho mais do que os outros com determinados princípios morais que, se praticados, atenuariam e melhorariam os relacionamentos, como igualdade, solidariedade e fraternidade.
Para estes, o escritor austríaco Karl Krause reivindica um direito, e sua contrapartida, um dever, bem particulares e específicos: o da modéstia, no primeiro caso e o da vaidade, no segundo. Destaco que ser modesto é diferente de ser hipócrita.
Há artistas (mas isso vale para qualquer pessoa) que dissimulam uma humildade que na verdade não têm. Fazem questão de se diminuir diante dos outros, à espera de serem contestados e, claro, elogiados. E quando os elogios não vêm... Ficam furiosos! Esses não são modestos, claro. São hipócritas.
Quanto à vaidade, desde que não exagerada, tenho-a na conta de virtude, não de defeito. Trata-se de amor próprio, de auto-estima, de autovalorização, de confiança no que se faz e no que se é. É um tanto difícil de explicar essa interpretação, mas tentarei fazê-lo. Se você achar que todos podem ser bons, mas você também o é, estará no caminho certo. É a vaidade positiva e até necessária.
Contudo, se você eventualmente se achar o mais sábio, o mais belo, o mais talentoso, o mais capaz e os tantos mais mais que possam existir,, vá correndo ao psiquiatra. Certamente (artista ou não) você estará tomado por um tipo de paranóia, de esquizofrenia das mais severas e incuráveis: a megalomania. .
Claro que Karl Kraus disse o que disse em tom de troça, já que a sua característica sempre foi a ironia e o humor cáustico e crítico. Contudo, guardadas as diferenças que citei, o direito e o dever mencionados pelo escritor austríaco podem (e até diria que devem) ser interpretados literalmente. Por que não?!!
Boa leitura.
O Editor.
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De um modo geral, aceita-se que a pessoa elogiada sinta-se lisonjeada, mas não envaidecida. Vejo na sua interpretação, Pedro, uma ideia nova, mesmo num tempo em que é falado aos quatro ventos que é preciso ter alta auto-estima e grande amor-próprio.
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