Motivações de escolha
O
que motiva as pessoas nas escolhas pessoais e/ou profissionais que
fazem e que tendem a determinar os rumos de suas vidas? No caso de
profissões, a maioria leva em conta, principalmente, a remuneração
que se pode obter com a atividade escolhida (médico, advogado,
engenheiro, jornalista, atleta profissional, cantor popular etc.) e,
conseqüentemente, o status que se pode obter com ela. Fizeram a
opção correta? Equivocaram-se na escolha? É difícil de saber
antes de se conhecer os resultados finais. Afinal, fracasso e
sucesso, na maioria dos casos, são muito subjetivos, mera questão
de ponto de vista.
Caso
levem em conta suas aptidões e talentos, essas pessoas tendem a se
dar bem (não necessariamente, claro, pois dependem de vários
fatores, entre os quais, os principais são as circunstâncias e as
oportunidades). Em caso contrário... São inúmeras as histórias de
fracassos de indivíduos que tinham tudo para vencer em suas
atividades e, no entanto, se decepcionaram e decepcionaram os que
acreditavam nelas. Fizeram escolhas equivocadas? Ou as motivações é
que não eram as mais pragmáticas e se mostraram frágeis para lhes
garantir o sucesso? Ou as duas coisas? Há casos e mais casos e não
se pode generalizar.
Somos,
porém, via de regra, afoitos e severos em demasia no julgamento dos
atos e obras alheios. Exigimos dos outros comportamentos e atitudes
que não temos e não admitimos outra coisa neles se não a
perfeição. Por que essa postura, se somos tão imperfeitos? É
verdade que somos julgados da mesma forma e, não raro, nos rebelamos
com esses julgamentos e nos sentimos sumamente injustiçados com
eles, esquecidos que, igualmente, somos muitíssimo injustos.
E
mesmo quando agimos com justiça, deixamos de lado um ingrediente
altamente desejável: a misericórdia. Aliás, a mesma que queremos
para nós e para as nossas fraquezas e contradições. Somos
implacáveis em nossos julgamentos. Todos os princípios humanos são
imperfeitos e falhos, como a verdade (mal recompensada para os que a
buscam com exemplar dedicação), a justiça (raríssimas vezes
“cega” e imparcial), além das características encaradas
ostensivamente como deficiências de caráter, como orgulho, ambição
e vaidade, entre outros.
Teoricamente,
quando escolhemos alguma atividade, que seja compatível com o nosso
preparo e talento, pesamos (e tacitamente aceitamos) todas suas
vantagens e riscos. Mas não raro exigimos dos outros muito mais do
que eles podem dar. Não os encaramos como seres humanos, dotados das
mesmas vulnerabilidades e fraquezas que nós. Falta-nos o devido
senso de proporção.
Reitero:
carecemos do maior atributo de Deus, de quem somos imagem e
semelhança: infinita misericórdia. Morris West escreveu a respeito,
no romance “A Estrada Sinuosa”: “A verdade? Uma dedicação
sagrada, mas um serviço mal-agradecido. Justiça? Uma deusa cega
cuja balança nunca se equilibra perfeitamente. Orgulho? Ambição?
Vaidade? Tudo isso tem importância num homem, mas não se explica.
Escolhe-se uma profissão em que se deseja triunfar. Apreciam-se as
suas recompensas. Aceitam-se as suas limitações. Compartilha-se a
responsabilidade dos seus males. Um homem e a sua obra têm de ser
julgados no estado e condição a que ele pertence. O próprio Deus
Todo Poderoso tempera a justiça absoluta com uma infinita
misericórdia”.
Aspiramos,
sobretudo, a eternidade, mas nossas pretensões esbarram na realidade
da nossa pequenez e efemeridade. Alguns creem que nossa presença na
Terra é apenas uma passagem, uma preparação, um aprendizado para
algo melhor e duradouro, em outra condição desconhecida.
Claro
que se trata, apenas, de questão de fé, sem a mínima fundamentação
em provas. Outros, por sua parte, acham que nossa existência,
enquanto seres racionais, se extingue com a extinção do corpo e
que, se não aproveitarmos esta vida, não teremos outra para
recuperar o tempo perdido. Aparentemente, é.
Com
quem está a razão? Com os que acreditam em eternidade, sem este
frágil invólucro de carne, ossos, sangue e vísceras que abriga
nossa consciência? Ou com os que creem que a matéria é a única
realidade e que por isso, não se cria e não se perde, mas apenas se
transforma? E que apregoam que, o que chamamos de “alma”, não
passa de mera função biológica do cérebro?
Cada
qual tem uma crença a propósito, de acordo com sua formação
intelectual e espiritual. Mas certeza, certeza mesmo, ninguém tem
(creio que jamais terá), nem a esse respeito e nem a propósito de
nada. Muito menos se suas escolhas – motivadas, via de regra, por
fantasias, sem nada de objetivo –, foram, são ou serão as
corretas e adequadas. Sucesso e fracasso andam lado a lado e são
sumamente subjetivos.
Para
uns, somos uma “casta de condenados” à absoluta extinção, sem
deixar, a longo prazo, o mínimo vestígio da nossa passagem por este
recôndito e ínfimo recanto do universo. Para outros, somos eternos
e indestrutíveis, pelo menos no que diz respeito à nossa tão
misteriosa parte imaterial e nossos fracassos são somente
passageiros, quando não apenas aparentes.
O
poeta paulista Y. Fujyama encerra seu poema “Opus Zero” com estes
versos instigantes, a esse propósito:
“Que
representaria o perpetuar-se
de
um canto se a certeza do eterno
bafejasse
os seus passos? Oh! Incerto,
trivial
alimento de uma casta de condenados!”
Seríamos
mera matéria, que por um capricho da natureza adquiriu, por certo
tempo (que varia de uma pessoa para outra), a capacidade de
inteligência e consciência e que um dia se transformará, para
sempre, em algo inconsciente, “em pó” ou alguma coisa que o
valha, ou temos uma alma imortal, destinada a gozar de ventura
eterna? Eu não sei! Você, por acaso, sabe (não perguntei se
“acredita”)? E, caso a resposta seja positiva, pode provar esse
seu conhecimento?
Boa
leitura!
O
Editor.
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Morrer, para mim, é como desligar um aparelho. Nos tornamos nada, exatamente o que éramos antes da nossa vida começar. Provar não provo, mas me parece o mais lógico.
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