sábado, 1 de julho de 2017

Motivações de escolha


O que motiva as pessoas nas escolhas pessoais e/ou profissionais que fazem e que tendem a determinar os rumos de suas vidas? No caso de profissões, a maioria leva em conta, principalmente, a remuneração que se pode obter com a atividade escolhida (médico, advogado, engenheiro, jornalista, atleta profissional, cantor popular etc.) e, conseqüentemente, o status que se pode obter com ela. Fizeram a opção correta? Equivocaram-se na escolha? É difícil de saber antes de se conhecer os resultados finais. Afinal, fracasso e sucesso, na maioria dos casos, são muito subjetivos, mera questão de ponto de vista.

Caso levem em conta suas aptidões e talentos, essas pessoas tendem a se dar bem (não necessariamente, claro, pois dependem de vários fatores, entre os quais, os principais são as circunstâncias e as oportunidades). Em caso contrário... São inúmeras as histórias de fracassos de indivíduos que tinham tudo para vencer em suas atividades e, no entanto, se decepcionaram e decepcionaram os que acreditavam nelas. Fizeram escolhas equivocadas? Ou as motivações é que não eram as mais pragmáticas e se mostraram frágeis para lhes garantir o sucesso? Ou as duas coisas? Há casos e mais casos e não se pode generalizar.

Somos, porém, via de regra, afoitos e severos em demasia no julgamento dos atos e obras alheios. Exigimos dos outros comportamentos e atitudes que não temos e não admitimos outra coisa neles se não a perfeição. Por que essa postura, se somos tão imperfeitos? É verdade que somos julgados da mesma forma e, não raro, nos rebelamos com esses julgamentos e nos sentimos sumamente injustiçados com eles, esquecidos que, igualmente, somos muitíssimo injustos.

E mesmo quando agimos com justiça, deixamos de lado um ingrediente altamente desejável: a misericórdia. Aliás, a mesma que queremos para nós e para as nossas fraquezas e contradições. Somos implacáveis em nossos julgamentos. Todos os princípios humanos são imperfeitos e falhos, como a verdade (mal recompensada para os que a buscam com exemplar dedicação), a justiça (raríssimas vezes “cega” e imparcial), além das características encaradas ostensivamente como deficiências de caráter, como orgulho, ambição e vaidade, entre outros.

Teoricamente, quando escolhemos alguma atividade, que seja compatível com o nosso preparo e talento, pesamos (e tacitamente aceitamos) todas suas vantagens e riscos. Mas não raro exigimos dos outros muito mais do que eles podem dar. Não os encaramos como seres humanos, dotados das mesmas vulnerabilidades e fraquezas que nós. Falta-nos o devido senso de proporção.

Reitero: carecemos do maior atributo de Deus, de quem somos imagem e semelhança: infinita misericórdia. Morris West escreveu a respeito, no romance “A Estrada Sinuosa”: “A verdade? Uma dedicação sagrada, mas um serviço mal-agradecido. Justiça? Uma deusa cega cuja balança nunca se equilibra perfeitamente. Orgulho? Ambição? Vaidade? Tudo isso tem importância num homem, mas não se explica. Escolhe-se uma profissão em que se deseja triunfar. Apreciam-se as suas recompensas. Aceitam-se as suas limitações. Compartilha-se a responsabilidade dos seus males. Um homem e a sua obra têm de ser julgados no estado e condição a que ele pertence. O próprio Deus Todo Poderoso tempera a justiça absoluta com uma infinita misericórdia”.

Aspiramos, sobretudo, a eternidade, mas nossas pretensões esbarram na realidade da nossa pequenez e efemeridade. Alguns creem que nossa presença na Terra é apenas uma passagem, uma preparação, um aprendizado para algo melhor e duradouro, em outra condição desconhecida.

Claro que se trata, apenas, de questão de fé, sem a mínima fundamentação em provas. Outros, por sua parte, acham que nossa existência, enquanto seres racionais, se extingue com a extinção do corpo e que, se não aproveitarmos esta vida, não teremos outra para recuperar o tempo perdido. Aparentemente, é.

Com quem está a razão? Com os que acreditam em eternidade, sem este frágil invólucro de carne, ossos, sangue e vísceras que abriga nossa consciência? Ou com os que creem que a matéria é a única realidade e que por isso, não se cria e não se perde, mas apenas se transforma? E que apregoam que, o que chamamos de “alma”, não passa de mera função biológica do cérebro?

Cada qual tem uma crença a propósito, de acordo com sua formação intelectual e espiritual. Mas certeza, certeza mesmo, ninguém tem (creio que jamais terá), nem a esse respeito e nem a propósito de nada. Muito menos se suas escolhas – motivadas, via de regra, por fantasias, sem nada de objetivo –, foram, são ou serão as corretas e adequadas. Sucesso e fracasso andam lado a lado e são sumamente subjetivos.

Para uns, somos uma “casta de condenados” à absoluta extinção, sem deixar, a longo prazo, o mínimo vestígio da nossa passagem por este recôndito e ínfimo recanto do universo. Para outros, somos eternos e indestrutíveis, pelo menos no que diz respeito à nossa tão misteriosa parte imaterial e nossos fracassos são somente passageiros, quando não apenas aparentes.

O poeta paulista Y. Fujyama encerra seu poema “Opus Zero” com estes versos instigantes, a esse propósito:

Que representaria o perpetuar-se
de um canto se a certeza do eterno
bafejasse os seus passos? Oh! Incerto,
trivial alimento de uma casta de condenados!”

Seríamos mera matéria, que por um capricho da natureza adquiriu, por certo tempo (que varia de uma pessoa para outra), a capacidade de inteligência e consciência e que um dia se transformará, para sempre, em algo inconsciente, “em pó” ou alguma coisa que o valha, ou temos uma alma imortal, destinada a gozar de ventura eterna? Eu não sei! Você, por acaso, sabe (não perguntei se “acredita”)? E, caso a resposta seja positiva, pode provar esse seu conhecimento?


Boa leitura!

O Editor.


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Um comentário:

  1. Morrer, para mim, é como desligar um aparelho. Nos tornamos nada, exatamente o que éramos antes da nossa vida começar. Provar não provo, mas me parece o mais lógico.

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