quarta-feira, 5 de julho de 2017

Montes Claros, a Formiga que queria ser cidade e virou Princesa” (Reginauro Silva)


* Por Mara Narciso

Maria Inez Narciso vestiu-se de Formiga no centenário de Montes Claros, em 3 de julho de 1957. Naquela época já era indicativo que a menina brilharia por onde passasse. Aos 11 anos, bonita e desinibida, abriu o desfile, mostrando talento para enfeitar festas com sua beleza e simpatia.

O médico e historiador Hermes de Paula convidou a menina Maria Inez para ser símbolo da cidade, através de sua mãe Maria do Rosário de Souza Narciso. Ela cursava o quarto ano do Curso Primário no Grupo Escolar Gonçalves Chaves. A roupa de formiga foi confeccionada pela sua mãe, e constava de um solidéu com antenas no alto da cabeça, um colete prateado com mangas armadas imitando asas, blusa preta de mangas compridas, calças compridas justas, também pretas, e sapatos pretos. Portava um bastão nas mãos, e era a primeira pessoa do desfile.

Foi treinada pela senhora Lilian Câmara, moradora da Avenida Francisco Sá, para ensinar-lhe as piruetas, tipo baliza de Sete de Setembro, que iria desenvolver. Maria Inez se recorda de que desfilaram pelas principais ruas do centro da cidade, até a Praça da Matriz, onde aconteceu a festa.

Formada em Pedagogia, Maria Inez Narciso foi diretora da Escola Estadual Antônio Gonçalves Figueira durante 15 anos. O nome da escola é uma homenagem ao fundador da cidade.

Há polêmicas nas datas de mudanças de nome do município. Antônio Gonçalves Figueira, da Bandeira de Fernão Dias Pais, obteve em 1707 a sesmaria de uma légua de largura por três léguas de comprimento, nas cabeceiras da margem esquerda do Rio Verde Grande, mais tarde Fazenda de Montes Claros, maior centro comercial de gado, no norte de Minas. A próspera Vila de Nossa Senhora da Conceição e São José de Formigas, virou em 1831, Vila de Montes Claros de Formigas e por fim Cidade de Montes Claros (1857), nome devido a serra de calcário e pouca vegetação, serpenteando o local.

Completando 160 anos de cidade em 3 de julho de 2017, o lugar, distante 422 km de Belo Horizonte, tem, pelo IBGE, estimados 400 mil habitantes e muitos problemas, como toda cidade média que cresceu demais. O principal deles é a crise hídrica, fruto de chuvas irregulares há seis anos. Tem chovido pouco, e quando chove, inunda tudo em minutos, e o precioso líquido, sem contenção, vai embora. Em maio, nosso reservatório principal estava com 29% da sua capacidade.

Reginauro Silva, teatrólogo e jornalista de Almenara, radicado em Montes Claros, e já falecido, cunhou o epíteto “Montes Claros, Cidade da Arte e da Cultura”, e também escreveu o livro “Montes Claros, a Formiga que queria ser cidade e virou Princesa”, imensa, no meio do nada, que de existir já mostra o milagre do trabalho do seu povo.

Em cada época uma realidade e a manifestação de um talento econômico, sendo a pecuária, mesmo na seca, um dos seus esteios mais importantes, mostrada na XLIII Expomontes, em andamento, reconhecida em nível nacional. Também tem comércio e indústria relevantes e atualmente presta serviços na área de saúde, com boa Medicina e educacional, com inúmeras faculdades.

Com o apoio do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros e da Secretaria Municipal de Cultura, Rogério Othon Teixeira Alves e Luciano Pereira da Silva, professores da Unimontes, escreveram o livro “Montes Claros: Memórias do Centenário”, para comemorar os 160 anos da cidade, e na capa estamparam a foto, agora famosa, de Maria Inez Narciso vestida de formiga.

Que possamos usar o passado, para enaltecer-lhe os vultos e arranjar coragem e talento para avançar. E quem sabe, escrever a continuação dessa história, rumo a um futuro promissor, não para uns poucos, mas para a maioria da população da nossa cidade.


* Médica endocrinologista, jornalista profissional, membro da Academia Feminina de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico, ambos de Montes Claros e autora do livro “Segurando a Hiperatividade”


Um comentário:

  1. Oi, Mara. Bom saber um pouco de sua ilustre parente e da história de Montes Claros! Abraços.

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