Células-tronco,
cabeça, tronco e membros
* Por
Marcelo Sguassábia
A ciência moderna está
apenas arranhando a superfície de uma revolução profunda, que
mudará radicalmente todos os fundamentos médicos acumulados até
agora pela humanidade: as células-tronco e sua infinitas aplicações.
UM NOVO TRONCO A PARTIR DE
CÉLULAS-TRONCO
Ao invés de um pulmão, um
rim, um fígado ou um coração, já podemos antever para futuro bem
próximo a produção, via células-tronco, do tronco inteiro do
indivíduo. Incluindo músculos, vasos, artérias, cartilagens,
gordura, pele e adjacências. O raciocínio é simples e lógico: se
um pâncreas, por exemplo, está caindo aos pedaços, pode-se
deduzir que haja um desgaste em toda a vizinhança orgânica. Melhor
a substituição do bloco inteiro ao invés de trocar peça por
peça, em cirurgias sucessivas que sobrecarregam o paciente e o
sistema público de saúde. Entretanto, surge com essa alternativa
um certo desconforto estético, já que teremos um tronco estilo
“tanquinho” sendo acoplado a braços, pernas e cabeça não tão
saudáveis e atléticos. Para sanar este efeito destoante, só
fabricando, também por meio das células-tronco, dois novos membros
superiores, dois novos membros inferiores e uma nova cachola. Só
que aí seria mais fácil clonar de uma vez o sujeito de cabo a
rabo.
ENCARANDO UMA NOVA FACE
Células-tronco são
realmente milagrosas. E de rara eficiência ao exterminar
rapidamente a gigantesca indústria cosmética mundial, como
acontecerá em breve. O freguês poderá não só clonar a sua face
sem pés-de-galinha e bigodes-de-chinês, como também terá direito
a escolher qual idade aparentará a cara nova, com todos os 32
dentes sem cáries ou restaurações. E mais: contará ainda com
incontáveis reclonagens já incluídas no pacote. Por exemplo, um
paciente que escolha uma face de 22 anos poderá repetir o
procedimento quando chegar aos 36, passando a vida inteira com a
fresca e lisa tez da juventude.
O DESAFIO MAIOR: UM CÉREBRO
ZERO-BALA
A despeito da extrema
complexidade do órgão que comanda todos os demais, experimentos
com réplicas de cérebros em macacos com Alzheimer (cujos encéfalos
velhos não se lembravam mais como descascar bananas), trazem
alentadoras esperanças para humanos com a massa cinzenta
comprometida. Do hipotálamo ao cerebelo, a clonagem com
células-tronco se mostrou perfeita em todos os detalhes. O único
problema é que a estrutura física é fielmente replicada, mas o
conhecimento e as memórias que guardam permanecem presas ao miolo
antigo. É como se houvesse um reset geral no sistema, o que
forçaria um Albert Einstein, se submetido ao procedimento, a
reaprender a balbuciar papá e mamã. Ou Vater e Mutter, em alemão.
*
Marcelo
Sguassábia é redator publicitário. Blogs:
WWW.consoantesreticentes.blogspot.com (Crônicas e Contos) e
WWW.letraeme.blogspot.com (portfólio).
Fomos longe na imaginação. Eu quero uma pele nova.
ResponderExcluir