A
hora e a vez do pamonheiro
* Por
Marcelo Sguassábia
Olha
aí, olha aí freguesia
São as deliciosas pamonhas de Piracicaba
Pamonhas fresquinhas, pamonhas caseiras
É o puro creme do milho verde
Vamos chegando, vamos levando
Temos curau e pamonhas
Venha provar essa delícia
Pamonhas, pamonhas, pamonhas
São as deliciosas pamonhas de Piracicaba
Pamonhas fresquinhas, pamonhas caseiras
É o puro creme do milho verde
Vamos chegando, vamos levando
Temos curau e pamonhas
Venha provar essa delícia
Pamonhas, pamonhas, pamonhas
Mais
de 50 anos aguentando essa maldita fala em looping, com esse
insuportável locutor, das sete da manhã às oito da noite. Na
safra do milho e na entressafra. No começo, eu dirigia o carro –
um Gordini já bem velho – e não tinha locutor nem gravação. Eu
mesmo anunciava a pamonha. Ia com o vidro aberto e berrando feito
louco no megafone. Voltava pra casa com a mão direita cheia de
bolhas, de tanto ficar manobrando a direção com um braço só. Já
o braço esquerdo retornava da labuta todo seco e descascado, porque
o sol só batia nele.
Depois
veio a fita-cassete. Play direto no tape TKR com amplificador Tojo,
virando a fita a cada meia hora. Em cima do Corcel 2, uma caixa
acústica gigantesca com a madeira infestada de cupins. Como nunca
tive comissão nas pamonhas vendidas, rezava pra passar reto em
frente às casas e ninguém fizesse sinal pra parar o carro e
comprar a maldição.
Foram
bem uns 20 anos desse jeito. Custou pra chegar o CD e depois o
pen-drive, que é o que uso até hoje. Completo 84 mês que vem e
firme no volante, já que a aposentadoria não compra nem meio tacho
de curau.
Antes,
era só eu e mais um concorrente rodando na cidade. Agora tem uns
quinze. A venda diminuiu muito e meu patrão já avisou que, se
continuar assim, vai ter que me dispensar. Com essa história de
computador e internet, qualquer um baixa a insuportável gravação,
enche o porta-mala de pamonha e começa a vender por aí. A pamonha
mesmo é feita sabe-se lá em que lugar e de que jeito. Vem de tudo
quanto é canto, menos de Piracicaba.
Chega!
Pra mim deu, joguei a vida fora ralando de sol a sol, pra ganhar o
quê com isso? Cadê o outro pen-drive… ih, será que esqueci em
casa? Ah, não, tá aqui. Dane-se, agora vou pro tudo ou nada. Toma
essa, patrão desgraçado! Dessa vez vou rodar bem devagarinho, pra
cidade inteira escutar…
* Marcelo Sguassábia é redator publicitário. Blogs: WWW.consoantesreticentes.blogspot.com (Crônicas e Contos) e WWW.letraeme.blogspot.com (portfólio).
Um dia a casa cai.
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