quarta-feira, 10 de maio de 2017

Por favor, pare agora! Senhor juiz, pare, agora!”

(Pare o Casamento, Resnick e Young com Wanderléa, 1966)


* Por Mara Narciso
 
O padre fala “o que Deus uniu o homem não separa”. Poucos parecem acreditar, mas muitos creem no amor. É o casamento de Rodrigo Marques e Lívia Sales. Ele, arquiteto e professor é filho de Paulo Abreu e Dulcemar Soares, ela, pedagoga com trabalho junto às crianças especiais, é filha de Geraldo Moisés da Silva e Maria Aparecida Sales. Os noivos se conhecem bem e fazem um bom casamento.
 
A cerimônia é na Igreja Santa Clara, do Bairro Morada do Sol, toda azul em sua singeleza, vitrais, tapete verde, arranjos de flores brancas na entrada e ladeando o corredor. Sendo músico, Rodrigo planeja uma trilha musical roqueira com toques eruditos. Depois das entradas de padrinhos, pais, noivo, damas e pajem, mas não antes de ser anunciada por uma trombeta, outro som cria uma atmosfera de suspense e expectativa para a entrada da noiva. Após chegar numa BMW conversível vermelha, ao som da Marcha Nupcial, surge Lívia altiva e bela. Conduzida por seu pai, segura de si, flutua em seu belíssimo vestido de cauda e véu, com uma delicada e fulgurante tiara nos cabelos longos parcialmente presos e um buquê de rosas brancas na mão.
 
Ao chegar ao altar, é recebida por Rodrigo, que cativa os convidados, cantando com voz grave e sua firmeza profissional, sem titubear, considerando-se a emoção do momento. E fala de amor. Com a igreja cheia, o padre Fernando Soares, exigente na pontualidade não se excede, fixando mais de uma vez “que serão uma só carne”. Amplia o sentido da sexualidade para além do corpo e do sentimento, até a religiosidade, destacando respeito, fidelidade, e alerta que o casamento é um começo.
 
Depois vem a recepção no Espaço OAB, para onde todos se dirigem. Tudo foi preparado em minúcias durante um ano inteiro, por uma equipe azeitada, tendo por maestrina Dulcemar, a mãe do noivo, que não escondia seu contentamento.  O resultado está ali, enfeitando o mundo, iluminando a vida com uma noite inesquecível.
 
A decoração feita por André Ruas mostra exuberância nos detalhes num estilo limpo, harmônico, sofisticado e romântico. Um mago. Na entrada, tufos floridos em canteiros suspensos e deslumbrantes. Dentro do salão, o impacto da parede coberta por luzinhas de fora a fora e por sobre o gazebo caindo em cascata deram o tom e a cor da festa. No centro do salão, a tenda abriga o bolo com bonecos-caricatura dos noivos, os bombons e os arranjos florais. As mesas têm montes de rosas brancas sobre toalha bordada, dividindo espaço com atraentes candelabros de cristais que iluminam o teto em profusão.
 
O Sânvia Palazzo Cerimonial tem equipe invisível e eficaz, enquanto o Buffet de Joãozinho Prates atende com variedade, equilíbrio e bom serviço. Ao fundo um telão destaca o casal no pré-casamento em cenas de cinema, e sobre o palco, duas bandas tocariam até o romper do dia: Tatarana Trio, com Beu Viana, de Montes Claros e Aeroguns de Belo Horizonte, cover de Aero Smith e Guns and Roses. Rodrigo toca guitarra e canta várias músicas da Legião Urbana, sua especialidade, para alegria dos amigos chegados, que têm tudo a ver com os noivos. A festa flui no ritmo das boas festas, com os pais circulando entre as mesas, valorizando a presença de cada convidado, que celebra a união.
 
Casamentos de ontem e de hoje? A instituição nem parece ser a mesma e sim outra, não de séculos distintos, mas de planetas diferentes, considerando-se apenas o Brasil. As celebrações não tinham os aparatos de luxo nem os gastos de agora. O casamento era uma prisão. Casava-se para sempre, e raros eram os casais felizes. A preocupação é grande com o alto custo, mais do que com a volatilidade do matrimônio, pois “se não der certo eu me separo”. São mais autênticos, no entanto, ainda que alguns durem uns poucos meses. Discursos paleolíticos ordenam mulheres a esperar seus maridos de banho tomado e comida pronta. Que tais sermões não afugentem as pessoas do casamento, pois, quando o casal se ama, viver a dois é tão bom como se imagina que seja.


* Médica endocrinologista, jornalista profissional, membro da Academia Feminina de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico, ambos de Montes Claros e autora do livro “Segurando a Hiperatividade”


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