Décimo
primeiro andar
* Por
Ruleandson do Carmo
Meu
primeiro andar foi quase um ano após nascer, para alegrar a quem
via. Meu segundo andar foi para chegar perto daqueles que me amavam
incondicionalmente - papai, mamãe, vovó, irmão, titia, que hoje
chamo de um nome mais complicado, família. Meu terceiro andar foi
para explorar o mundo e descobrir assustado que ele era um pouco
maior do que um quarto com brinquedos.
Meu
quarto andar foi para tentar aprender a ler (o mundo e a mim mesmo).
Meu quinto andar foi para abraçar aqueles que iam me trazer as
melhores risadas, dividir as colas da prova, e, mais tarde, as
alegrias e os tombos da vida - os coleguinhas, que hoje eu chamo de
amigos. Meu sexto andar, foi para aquelas paixões que nunca se
concretizam, amor de criança.
Meu
sétimo andar foi para deixar de ser criança e começar a pagar as
próprias contas. Meu oitavo andar foi para tentar ter algum amor
igual a um filme, mas sempre o final não era feliz. Meu nono andar
foi para viver só comigo, até quando quis não mais caminhar só.
Meu
décimo andar foi em direção a ele. Ele, o homem com olhar e jeito
de criança contraditoriamente mais perto da maturidade que já
conheci. Quando eu o vi ele usava verde, a mesma cor da esperança
que ele traria para a minha vida e a mesma cor do que o amor nosso
seria, um fruto verde que se envolveria em nosso esforço para
amadurecer. Eu o vejo dormir e sinto paz, pois sei que na noite
anterior passei mais um dia com ele e que no dia que amanhece vou
passar mais um. Eu ouço o que ele fala (e ele fala tudo o que vem à
mente) e sinto que o que temos não é perfeito, mas é algo mais
raro no amor, é verdadeiro.
Ele
é a dificuldade para dormir quando não estamos juntos. É a alegria
de cozinhar quando temos uma noite inteira para viver. É quem me fez
dar mais valor à minha família ao ver o quanto ele amava a dele. É
a vontade de que a semana só tivesse terças, quintas e finais de
semana. Eu sou o básico, ele é o fashion.
Eu sou o falador, ele é o dorminhoco. Eu quero ontem e amanhã em um
só dia (e em todos os dias), ele quer hoje. Eu penso em cada vírgula
dita e não dita e ele, quando pensa, pensa em por que eu penso
tanto.
Penso,
subo e ando. E meu décimo primeiro andar é até onde subo para
vê-lo a cada vez, e é o número de cada passo que dou em meu andar
pela vida, em busca de poder fazê-lo feliz. E eu penso e faço
tanto, porque já se passaram tantos anos sem você, meu amor, que eu
preciso, hoje, recuperar o tempo todo que perdi enquanto eu não te
conhecia.
Eu
queria um amor, você me deu uma vida. E vai ser maravilhoso cada
novo andar que puder ser ao seu lado. Porque você resume cada andar,
eu ando para te alegrar, para chegar perto, para explorar o mundo,
para aprender, para ser seu amigo, para ser sua paixão, para
trabalhar, para respeitar a solidão, para amar. Do passo à corrida,
do térreo à cobertura, você é o amor para a vida de hoje até o
infinito recomeço de toda doçura. Meu andar, meu amar.
*
Jornalista
e pesquisador.
Nenhum comentário:
Postar um comentário