quarta-feira, 3 de maio de 2017

Baleia Azul


* Por Emanuel Medeiros Vieira

PARA OS ADOLESCENTES E JOVENS BRASILEIROS

T
em-se falado muito num jogo chamado “Baleia Azul” (“Blue Whale), que teria sido inventado na Rússia.

Ele está gerando pânico nas famílias.

Para participar do jogo, seria preciso obedecer 50 regras impostas por um “curador” (quem ditas as ordens no jogo), que entre pedidos para causar dor e ódio, vence quem cumpre o último item: o suicídio.

Sim, o suicídio.

Uma adolescente de 15 anos, Ana Vitória Sena de Oliveira, desaparecida, na cidade de Juazeiro (aqui na Bahia, divisa com Petrolina, em Pernambuco), foi encontrada nas águas do Rio São Francisco.

Sua família suspeita que ela se envolveu com o jogo “Baleia Azul”.

Sua irmã acredita que o fim de num namoro teria contribuído para o suicídio.

Outros também acham que o jogo contribui para o “gesto extremo” (como escreveriam os jornalistas de antigamente).

Acharam uma carta de despedida na qual ela afirma que iria pular da ponte Juazeiro-Petrolina (cidades separadas apenas por uma ponte), nas não cita o jogo Baleia Azul.

Também achamos um vídeo em que ela aparece se cortando”, reforça a irmã.

Ela também informou que a moça deixou o celular em casa e acharam informações sobre o jogo.

Uma menina de 15 anos pula de uma ponte!

Tal é a “nossa tragédia”: do vazio existencial, da depressão, da impotência contra a corrupção, da desilusão amorosa, da nossa fraqueza diante da dor, da pecaminosa desigualdade social, de nossos eventuais desinteresses na educação dos filhos, na falta total de compaixão em relação ao próximo, onde impera a cobiça, a inveja, o dinheiro.

UMA SOCIEDADE DOENTE!

É uma sociedade que mercantiliza tudo, na qual o que vale é o tênis de marca, a roupa chic, os objetos tecnológicos mais caros, a influência de uma cultura do cinismo,da desesperança da ausência de solidariedade etc.

A psicóloga Devanir Prado acredita que é fundamental (matéria do jornal “A Tarde”, de Salvador, de autoria de Miriam Hermes) que é preciso que, na família e na escola, seja observado o comportamento dos jovens que têm tendência para a autodepreciação, dificuldades de entrosamento sentimento de frustração, baixa autoestima etc.

Muitos sentem-se assim: na redes sociais, nas fotos postadas, todos parecem superfelizes, risonhos e bonitos, e o jovem carente pensa: eles são tão felizes e bonitos, e eu não.

Parece psicologia de botequim, mas é verdade.

A psicóloga Brenda Rocco relata que a baixa autoestima e problemas para se socializar estão entre os efeitos causados pelo uso excessivo da internet por jovens.

Ela confirma o que foi dito acima: “O que mais encontramos no consultório são jovens com dificuldades sociais e com a autoestima denegrida porque na internet todos parecem felizes e dá a sensação de que todos realmente o são, menos eles”.

Divaldo Franco – considerado o maior médium brasileiro e, para muitos, o sucessor de Chico Xavier – escreve: (...)”Ao observar-se, porém, a indiferença de muitos pais em relação à prole, a ausência de educação condigna e os exemplos de edificação humana, defronta-se inevitavelmente a deplorável situação em que estertora a sociedade”(…).

No Brasil, a taxa de suicídios cresceu mais de 40%c nos últimos dez anos, entre pessoas na faixa etária de 15 a 29 anos.

Não esqueçamos: a internet é a maior praça pública do mundo e, ali também, trava-se um enorme combate entre o Bem e o Mal, a Justiça e a Injustiça, o Ter e o Ser.

Os caminhos – já disseram – foram feitos para caminhar. Soluções? Não tenho, e não acredito em saídas facilitarias.

Em meus 72 anos de vida – mesmo sofrendo na carne a crueldade de uma ditadura de 21 anos – poucas vezes enxerguei um mundo tão violento, cruel, cínico e sem esperança.

A nós – é bíblico: a quem muito foi dado, muito será cobrado – cabe a difícil tarefa de restaurar a esperança.

Parodiando Albert Camus, gostaria de afirmar: cada geração comete seus próprios erros.

Sem autoglorificação, diria que a minha já cometeu muitos.

Mas quer estar, até o final, na linha de batalha.

(Salvador, abril de 2017)

* Romancista, contista, novelista e poeta catarinense, residente em Brasília, autor de livros como “Olhos azuis – ao sul do efêmero”, “Cerrado desterro”, “Meus mortos caminham comigo nos domingos de verão”, “Metônia” e “O homem que não amava simpósios”, entre outros.



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