terça-feira, 9 de maio de 2017

Aleluia


* Por Francisco Simões


Aleluia irmão, aleluia,
Procuras lírios no asfalto
Que o campo já regam com sangue,
Flutuas no mangue com a morte
E buscas na sorte das sobras
Entre as cobras, larvas e ratos,
Distrato da Natureza Divina,
Bolor de mofina e aflição.
Aleluia irmão, aleluia.
És refém da farsa do amor,
És ator sem palco nem papel,
Ouropel, tragicômico lixo
Em seu próprio nicho desterrado
Ignorado pela vida, pelo mundo,
Poço sem fundo de amargura,
Criatura, estropício da Criação.
Aleluia irmão, aleluia.
Na fé esperas a igualdade
Mas a verdade, em ti, prova a mentira
E te retira o dízimo suado
Pelo pecado original de estares vivo.
Nascido gente, morrerás sonho
Inacabado, medonho, triste,
Pois não despiste a ilusão.
Aleluia irmão, aleluia.

* Jornalista, poeta e escritor.


Nenhum comentário:

Postar um comentário