Há tempos Shakespeare não sai de foco
A figura de William Shakespeare é uma das mais polêmicas, se
não for a mais, da dramaturgia e da literatura mundial. Milhares de estudiosos,
de todas as tendências e diversos países, buscam entender quem ele foi, como
viveu e, principalmente, como produziu uma obra tão profunda e marcante, que
resiste ao tempo e ao esquecimento. Há uma corrente que nega, até, sua
existência física, o que é uma estupidez. Tal grupo especula que esse nome não
passa de pseudônimo de alguma figura ilustre, que queria (ou precisava)
manter-se anônima. Barbaridade!!! Para os que defendem essa tese, o verdadeiro
autor das 37 peças, 154 sonetos e um ou outro poema mais longo, atribuídos a
Shakespeare, seria, por exemplo, Edward de Vere, o conde de Oxford. Mas as
especulações a esse respeito variam, dependendo de quem as faça. Há quem
atribua, por exemplo, a autoria dessa magnífica obra ao filósofo sir Francis
Bacon.
Há, também, quem jure que essa produção da mais alta
qualidade é de Christopher Marlowe. Isso, mesmo levando em conta que esse polêmico
poeta e dramaturgo foi morto, foi assassinado, em 1604. Portanto, antes da
publicação de peças importantes como "Macbeth" e "Rei Lear".
Como, pois, seria possível ser ele o autor da obra atribuída a Shakespeare?
Para justificar essa tese non sense, esses caras “viajam na maionese”. Sugerem
(vejam só) que Marlowe, figura talentosa, mas amoral, não teria morrido. Teria,
apenas, “simulado a morte” e continuado escrevendo anonimamente. Mas como, se
há farta documentação com testemunhos dos que viram Marlowe sangrando, e sem
vida, com um punhal enterrado nas costas?!!! Sim, como?!!!
Não seria mais lógico (e evidentemente mais justo e decente)
reconhecer que Shakespeare foi, de fato, o autor da magnífica obra que lhe é
atribuída, do que ficar inventando histórias tão estapafúrdias, que dariam
inveja ao próprio Kafka? Ah, têm sujeito que não se emenda. É capaz de fazer
qualquer coisa para obter notoriedade. Não duvido que, até mesmo, para ganhar
as manchetes, não relute em imitar Lady Godiva e desfilar pelas ruas e avenidas
centrais de uma grande metrópole (Londres, por exemplo) nu, no dorso de um
cavalo. Que não se duvide disso! Já tratei dessa questão em outro texto, mas mal
resvalei por ela naquela oportunidade. E assim como a figura de Shakespeare
permanece mais em evidência do que nunca, as teorias (que objetivam destruir
sua imagem, sabe-se lá por que), também aumentam exponencialmente.
Como não poderia deixar de ser, esse debate (para mim
surreal) chegou, também, à Flip. Foi em 2012, em sua décima edição, toda ela
dedicada a dois gênios, separados, entre si, por 450 anos: William Shakespeare
e Carlos Drummond de Andrade. Lembro ao leitor que esse evento, criado em 2003,
é um dos mais importantes do mundo, no que se refere à Literatura e à cultura
em geral. Recordo (aos que a conhecem) e informo (aos que não sabem nada dela)
que a Festa Literária Internacional de Parati tornou-se “a caçula” da família
de importantes festivais literários. Veio juntar-se a grandes eventos do
gênero, como Hay-on-Wye, em Adelaide, na
Austrália; Harbourfront, de Toronto, no Canadá; o Festival de Berlim, na
Alemanha; o de Edimburgo na Escócia e o de Mantua, na Itália.
Em suas doze edições, já reuniu as mais respeitadas “feras”
do mundo das letras, a maioria candidatíssima ao Prêmio Nobel de Literatura, como Julian Barnes, Don DeLillo, Eric Hobsbawm
e Hanif Kureishi, entre tantas outras. Como se vê, não é nenhum bando de neófitos
e nem de meros candidatos a escritores. É gente do ramo que sabe o que fala, o
que faz e, sobretudo, o que escreve. Não se pode cometer a “heresia” de
esquecer outras presenças ilustres, como Salman Rushdie, Ian McEwan, Martin
Amis, Margaret Atwood, Paul Auster, Anthony Bourdain, Jonathan Coe, Jeffrey
Eugenides, David Grossman, Lidia Jorge, Pierre Michon, Rosa Montero, Michael
Ondaatje, Orhan Pamuk, Colm Toíbín, Enrique Vila-Matas, Jeanette Winterson e
Marcello Fois. Ufa! Que time!
Claro que ilustríssimos escritores brasileiros também
emprestaram seu brilho às várias edições da Flip. Não mencionarei todos, mas
não posso deixar de destacar Ariano Suassuna (que infelizmente já nos deixou),
Ana Maria Machado, Milton Hatoum, Millôr Fernandes (que também já “ficou
encantado”), Ruy Castro, Ferreira Gullar, Luis Fernando Veríssimo, Zuenir
Ventura e Lygia Fagundes Telles. Isso sem falar das “lendas vivas”, que é como
considero Chico Buarque e Caetano Veloso. A mesa dedicada ao gênio elisabetano,
intitulada “O mundo de Shakespeare”, levada a efeito na edição da Flip de 2012,
foi tão importante, que merece comentários a parte, exclusivos, que me proponho
a fazer na sequência. Por hoje, todavia, é só.
Boa leitura.
O Editor.
Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk
Programando conhecer a FLIP este ano. Pensava tratar-se de uma feira, mas sei que é muito mais.
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