segunda-feira, 8 de junho de 2015

Cores de poesia


* Por Núbia Araujo Nonato do Amaral


Despeço-me da menina na porteira. De cabeça baixa, dou-lhe às costas para evitar as lágrimas. Adianto três passos sentindo sua respiração contida.

Aperto as mãos com força, tenho muito mais medo do que ela. Sigo vacilante na esperança de ouvir o barulho de seus tamanquinhos, mas somente o silêncio me abraça.

Olho as nuvens, pequenos chumaços de algodão incrustados num céu de azul limpinho. Gavião voou baixo aprisionando um roedor que incauto selou o seu destino.

Uma poeira vermelha sobe a cada passo, mas cede a cada suspiro. A vida toma contornos nas nuances de uma vicissitude implacável, de um dia a dia que nos arranca nacos da esperança, mas que esbarra na alma de quem enxerga nos intervalos um mundo com cores de poesia.


 * Poetisa, contista, cronista e colunista do Literário


2 comentários:

  1. Para quem pode ver, todos os momentos podem mostrar luz, cor e beleza.

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  2. Núbia, as suas poesias transmitem paz, luz e alegria de viver... Parabéns poetamiga!!!

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