

Todos os privilégios para o belo
* Por Mara Narciso
* Por Mara Narciso
A beleza é relativa, mas quando estamos diante do belo, sabemos. A arte grega é referência para a beleza clássica. A tão falada harmonia de traços, equilíbrio de formas, define o que dá prazer olhar, gerando deleite. Um homem bonito é um deus grego.
Quando um rapaz vai apresentar a escolhida aos pais, quer que eles a achem bonita, e outros requisitos ficam em segundo plano. Caso alguém nos mostre um filho, quer ouvir que a criança é bonita. Socialmente falando, a beleza é o item mais importante, que abre ou fecha as oportunidades. Numa conquista então, entra como o poder de descarte ou de tentativa, dividindo o mundo em possível e impossível. É covardia descartar quem não preencha os requisitos tradicionais de beleza, seja facial ou corporal.
Há um homem bonito e outro feio para ser contratado. Qual será escolhido? Não venham me dizer que o currículo conta mais ponto do que a aparência. Ou que a simpatia e inteligência sejam fatores determinantes. Caso seja feio demais, será desconsiderado.
A beleza puxa os olhos como imã. A pessoa que nasce bela, mesmo quando não tem mérito, é adulada por todos. O mundo dá a ela os primeiros lugares e oportunidades alcançadas quase sem esforço. Mesmo com a cantilena de que a beleza é fugaz, e até por isso é mais valorizada.
A mulher, mais do que o homem, precisa ser bonita para ter um lugar, seja no escritório, na mesa ou na cama. Quando é feia, logo é criticada e acusada de não ter alguém, como se a presença de um par a fizesse mais digna do lugar que está ocupando. Nem a presidente sai fora dessa dura avaliação.
O preconceito contra o feio é natural (?). Pouca gente se incomoda em exercer tal preconceito. Excluir quem é feio é normal, afinal ele já foi longe demais!
Quem era a menina mais feia da classe? E o menino? Todos sabem quem era. Podem se esquecer da mais linda (cantada em todas as canções), mas o mais feio nunca será esquecido, pois a falta de beleza é para sempre. Cirurgia plástica, quando bem feita, ajuda, mas não resolve.
Há diversos tipos de feiura, desde a desarmonia simples até a feiura bizarra. Isso sem entrar no item deformidades. Quem vai pintar uma mulher numa tela, dificilmente escolherá pintar uma feia imaginária. O grotesco pode ser opção do autor, porém é outro tema.
Quando mostramos um trabalho, o elogio que esperamos é: está muito bonito. Então, a qualquer tempo e lugar, o objetivo é produzir o belo.
O estudante bonito ganha mais um pontinho da simpática professora, o que não aconteceu com o feinho e catarrento. Poucos educadores se atêm ao fato de que o menino feio costuma ser perseguido e precisa de uma chance para mostrar seus predicados. O bonito tem as portas abertas, e mesmo sendo burrinho, a boa-vontade dos avaliadores estará garantida.
Nas aulas de História da Arte, belo e bonito são diferentes, mas aqui não cabe a diferenciação. Reparou que só reclama do belo quem não é detentor dessa qualidade?
Saindo das pessoas e indo aos animais, os ursos pandas, por exemplo, pela sua aparência fofinha, têm organizações para evitar a sua extinção. E olha que são temperamentais, e violentos, podendo tornar-se agressivos e perigosos. O lobo-guará, feio, coitado, não tem a mesma sorte. Um cãozinho feio tem pouca chance de arrumar um lar, mesmo alegre e bonzinho, ficará abandonado. Já o bonito não esquenta lugar no canil público.
Indo além dos animais, um objeto, por exemplo, um carro, sendo bonito, vai longe, porque muitos o querem, pois a beleza faz a pessoa aproximar-se e desejá-lo. Ainda no protótipo, os feios são abortados.
Quando alguém feio é amado, imagina-se ser de forma verdadeira, embora possa ser levantada a hipótese de interesse financeiro ou da existência de alguma habilidade especial. No entanto, a função do feio é nobre. Enquanto o tempo tira a beleza, aumenta a feiura. Sem o feio, o que seria do belo? A feiúra serve de ponto de referência, é o contraponto sem o qual a beleza não poderia existir.
*Médica endocrinologista, jornalista profissional, membro da Academia Feminina de Letras de Montes Claros e autora do livro “Segurando a Hiperatividade”-
Quando um rapaz vai apresentar a escolhida aos pais, quer que eles a achem bonita, e outros requisitos ficam em segundo plano. Caso alguém nos mostre um filho, quer ouvir que a criança é bonita. Socialmente falando, a beleza é o item mais importante, que abre ou fecha as oportunidades. Numa conquista então, entra como o poder de descarte ou de tentativa, dividindo o mundo em possível e impossível. É covardia descartar quem não preencha os requisitos tradicionais de beleza, seja facial ou corporal.
Há um homem bonito e outro feio para ser contratado. Qual será escolhido? Não venham me dizer que o currículo conta mais ponto do que a aparência. Ou que a simpatia e inteligência sejam fatores determinantes. Caso seja feio demais, será desconsiderado.
A beleza puxa os olhos como imã. A pessoa que nasce bela, mesmo quando não tem mérito, é adulada por todos. O mundo dá a ela os primeiros lugares e oportunidades alcançadas quase sem esforço. Mesmo com a cantilena de que a beleza é fugaz, e até por isso é mais valorizada.
A mulher, mais do que o homem, precisa ser bonita para ter um lugar, seja no escritório, na mesa ou na cama. Quando é feia, logo é criticada e acusada de não ter alguém, como se a presença de um par a fizesse mais digna do lugar que está ocupando. Nem a presidente sai fora dessa dura avaliação.
O preconceito contra o feio é natural (?). Pouca gente se incomoda em exercer tal preconceito. Excluir quem é feio é normal, afinal ele já foi longe demais!
Quem era a menina mais feia da classe? E o menino? Todos sabem quem era. Podem se esquecer da mais linda (cantada em todas as canções), mas o mais feio nunca será esquecido, pois a falta de beleza é para sempre. Cirurgia plástica, quando bem feita, ajuda, mas não resolve.
Há diversos tipos de feiura, desde a desarmonia simples até a feiura bizarra. Isso sem entrar no item deformidades. Quem vai pintar uma mulher numa tela, dificilmente escolherá pintar uma feia imaginária. O grotesco pode ser opção do autor, porém é outro tema.
Quando mostramos um trabalho, o elogio que esperamos é: está muito bonito. Então, a qualquer tempo e lugar, o objetivo é produzir o belo.
O estudante bonito ganha mais um pontinho da simpática professora, o que não aconteceu com o feinho e catarrento. Poucos educadores se atêm ao fato de que o menino feio costuma ser perseguido e precisa de uma chance para mostrar seus predicados. O bonito tem as portas abertas, e mesmo sendo burrinho, a boa-vontade dos avaliadores estará garantida.
Nas aulas de História da Arte, belo e bonito são diferentes, mas aqui não cabe a diferenciação. Reparou que só reclama do belo quem não é detentor dessa qualidade?
Saindo das pessoas e indo aos animais, os ursos pandas, por exemplo, pela sua aparência fofinha, têm organizações para evitar a sua extinção. E olha que são temperamentais, e violentos, podendo tornar-se agressivos e perigosos. O lobo-guará, feio, coitado, não tem a mesma sorte. Um cãozinho feio tem pouca chance de arrumar um lar, mesmo alegre e bonzinho, ficará abandonado. Já o bonito não esquenta lugar no canil público.
Indo além dos animais, um objeto, por exemplo, um carro, sendo bonito, vai longe, porque muitos o querem, pois a beleza faz a pessoa aproximar-se e desejá-lo. Ainda no protótipo, os feios são abortados.
Quando alguém feio é amado, imagina-se ser de forma verdadeira, embora possa ser levantada a hipótese de interesse financeiro ou da existência de alguma habilidade especial. No entanto, a função do feio é nobre. Enquanto o tempo tira a beleza, aumenta a feiura. Sem o feio, o que seria do belo? A feiúra serve de ponto de referência, é o contraponto sem o qual a beleza não poderia existir.
*Médica endocrinologista, jornalista profissional, membro da Academia Feminina de Letras de Montes Claros e autora do livro “Segurando a Hiperatividade”-
Um verdadeiro tratado sobre o belo e seu "valor" social. Esgotou o assunto, Doutora. Com muita propriedade. Parabéns.
ResponderExcluirO mundo adula o belo e maltrata o feio. Não sou contra a beleza, mas inicio um apelo ao preconceito contra o feio. Obrigada, Marcelo pela sua generosidade.
ResponderExcluir"É que Narciso acha feio o que não é espelho"
ResponderExcluirCaetano Veloso
A temática é rica, e instiga muitas indagações e todas as conclusões serão apenas ponto de partida para novas perguntas.
Quando me separei, em meio a um turbilhão, a frase que mais ouvi foi: "Você é tão bonita, pra que sofrer tanto!". De nada adiantava, não me consolava, principalmente por saber que a substituta era mais velha e menos bonita(?), (com certeza ela tinha seus encantos). Enfim, na maioria das vezes, Vinícius de Moraes tinha razão, porém, em poucas, a beleza é totalmente dispensável.
ResponderExcluirAgora, em relação ao seu texto, o elogio é fundamental... Parabéns!
Sou narciso, mas não narcisista e diria que sou quase um anti-narciso...risos... O texto é um ponto de partida, Adailton. A aparência bonita derruba todos os argumentos. Contra a beleza não há como lutar.É o ponto final. Mas também pode ser um peso. Os muito bonitos têm as suas dificuldades e muitos fazem tudo para ficar feios.
ResponderExcluirMarleuza, a beleza é um consolo, nas perdas.Um ótimo consolo.
Obrigada gente, pelos simpáticos comentários!