Acabou a farra?
* Por Fernando Yanmar Narciso
Todos os dias descobrem uma nova forma de ordenhar nossa liberdade. O exemplo mais prático é que agora a pessoa não pode mais ser gorda. Tudo que você compra no supermercado tem alertas luminosos e politicamente corretos dizendo “É ASSADO!”, “25% MENOS SÓDIO!”, “LIVRE DE GORDURA TRANS!”, “Nos preocupamos MUITO com a sua saúde!”. Sei...
Mas ainda há outro tipo de glutonaria, a virtual. O grande prazer de quem tem um computador é matá-lo de obesidade mórbida, lotando-o com músicas, vídeos, filmes, e-books, e principalmente pornografia. E o melhor, sem pagar um tostão.
Confesso que não passava um dia sem que eu acessasse um site de compartilhamento de arquivos, seja para baixar o mais recente capítulo daquela série japonesa que só eu e mais uns 30 brasileiros conhecem, ou o novo volume de uma revista publicada só no Cazaquistão, ou aquele filme B da década de 60 que nem o TCM é macho o bastante pra exibir, a internet era uma mão na roda para pessoas com gostos pitorescos.
Eu disse “era”, não foi? Isso porque ninguém mais sabe qual será o futuro dos sites de download desde que Kim Dotcom, o nerd-mor dono do Megaupload, o site do gênero mais popular, foi para trás das grades semana passada. Após a prisão, sabe-se lá se por solidariedade ao Dotcom ou por medo da cana, praticamente todos os outros sites de download resolveram suspender as atividades nessa segunda-feira. A internet virou praticamente uma cidade-fantasma.
A causa de esses sites estarem com seus dias contados é a tal da “lei anti-pirataria digital” ou SOPA, como o congresso norte-americano tem chamado essa luta armada contra os arquivos online.
E não é apenas a estes sites que essa lei pode prejudicar. O Youtube, paraíso do material sem direitos autorais, também está na mira da “sopinha”. Aquela série que você só conseguia acompanhar por meio do site de vídeos em primeiro lugar depende de alguém para baixar os episódios ilegalmente e “upar” lá. E agora, que esses sites estão saindo de circulação, como ficam os fãs dessas séries? Basicamente eles estão dizendo pra nós “Quer ver série japonesa? Mude-se pro Japão!”, “Quer assistir filme? Pague o ingresso!”, “Quer ouvir música? Compre o CD!”, “Quer respirar? Pague pelo ar!”.
Eles alegam que compartilhamento é crime, porque reduz o faturamento da indústria do entretenimento. Bom, pirataria é o que os sacoleiros fazem no Paraguai, o que camelôs fazem ao gravar o filme no cinema com uma câmera de celular e vender o DVD nos shoppings de muamba, ou seja, pegam uma coisa que não é de propriedade deles e vendem. E não é isso o que ocorre aqui. Apesar de esses sites faturarem uma nota com patrocinadores, o compartilhamento é gratuito, e supostamente ninguém vende os arquivos baixados. E, se não levarmos em conta tudo o que os artistas ganham com shows e auto-promoção em programas de TV e afins, o compartilhamento de arquivos está realmente deixando os músicos na miséria...
Pode ser que abandonem essa idéia do SOPA, pode ser que não, mas é óbvio que coisa boa não vai sair dessa polêmica. Muita gente de ambos os lados do front vai sair prejudicada, e o compartilhamento digital nunca mais será do mesmo jeito. Dizem que a lei anti-pirataria fará a internet retroceder até os tempos da internet discada, quando ela era um tipo de country club ao qual pouca gente tinha acesso.
Mas querem saber como se faz pra evitar o SOPA? PAREM DE PRODUZIR LIXO! Se os produtos que nos oferecem fossem de boa qualidade e mais baratos, ninguém ia se importar em gastar com eles. Mas como só existe porcaria tocando nos rádios, as TVs por assinatura fornecem toneladas de canais inúteis por uma fortuna e só uma em cada dez pessoas pode torrar mais de 20 reais no cinema, é muito conveniente que exista o compartilhamento, pois você baixa o novo disco do astro musical da vez, ouve só uma vez e manda pra lixeira, ou então aquele novo filme caríssimo e fútil de super-heróis que todos estão comentado. É o entretenimento fast-food: Você o consegue, saboreia por algum tempo e depois descarta.
Como sabemos, não há um lado certo nessa batalha. Estamos errados ao baixar arquivos de graça, a indústria do entretenimento está errada ao cobrar o que cobra por seus produtos e o congresso americano vai pagar um mico enorme aos olhos do mundo se a SOPA for aprovada. A nossa liberdade virtual, a única que ainda tínhamos, vai cair no esquecimento como um pum sem cheiro nem som.
• Designer e colunista do Literário.
Todos os dias descobrem uma nova forma de ordenhar nossa liberdade. O exemplo mais prático é que agora a pessoa não pode mais ser gorda. Tudo que você compra no supermercado tem alertas luminosos e politicamente corretos dizendo “É ASSADO!”, “25% MENOS SÓDIO!”, “LIVRE DE GORDURA TRANS!”, “Nos preocupamos MUITO com a sua saúde!”. Sei...
Mas ainda há outro tipo de glutonaria, a virtual. O grande prazer de quem tem um computador é matá-lo de obesidade mórbida, lotando-o com músicas, vídeos, filmes, e-books, e principalmente pornografia. E o melhor, sem pagar um tostão.
Confesso que não passava um dia sem que eu acessasse um site de compartilhamento de arquivos, seja para baixar o mais recente capítulo daquela série japonesa que só eu e mais uns 30 brasileiros conhecem, ou o novo volume de uma revista publicada só no Cazaquistão, ou aquele filme B da década de 60 que nem o TCM é macho o bastante pra exibir, a internet era uma mão na roda para pessoas com gostos pitorescos.
Eu disse “era”, não foi? Isso porque ninguém mais sabe qual será o futuro dos sites de download desde que Kim Dotcom, o nerd-mor dono do Megaupload, o site do gênero mais popular, foi para trás das grades semana passada. Após a prisão, sabe-se lá se por solidariedade ao Dotcom ou por medo da cana, praticamente todos os outros sites de download resolveram suspender as atividades nessa segunda-feira. A internet virou praticamente uma cidade-fantasma.
A causa de esses sites estarem com seus dias contados é a tal da “lei anti-pirataria digital” ou SOPA, como o congresso norte-americano tem chamado essa luta armada contra os arquivos online.
E não é apenas a estes sites que essa lei pode prejudicar. O Youtube, paraíso do material sem direitos autorais, também está na mira da “sopinha”. Aquela série que você só conseguia acompanhar por meio do site de vídeos em primeiro lugar depende de alguém para baixar os episódios ilegalmente e “upar” lá. E agora, que esses sites estão saindo de circulação, como ficam os fãs dessas séries? Basicamente eles estão dizendo pra nós “Quer ver série japonesa? Mude-se pro Japão!”, “Quer assistir filme? Pague o ingresso!”, “Quer ouvir música? Compre o CD!”, “Quer respirar? Pague pelo ar!”.
Eles alegam que compartilhamento é crime, porque reduz o faturamento da indústria do entretenimento. Bom, pirataria é o que os sacoleiros fazem no Paraguai, o que camelôs fazem ao gravar o filme no cinema com uma câmera de celular e vender o DVD nos shoppings de muamba, ou seja, pegam uma coisa que não é de propriedade deles e vendem. E não é isso o que ocorre aqui. Apesar de esses sites faturarem uma nota com patrocinadores, o compartilhamento é gratuito, e supostamente ninguém vende os arquivos baixados. E, se não levarmos em conta tudo o que os artistas ganham com shows e auto-promoção em programas de TV e afins, o compartilhamento de arquivos está realmente deixando os músicos na miséria...
Pode ser que abandonem essa idéia do SOPA, pode ser que não, mas é óbvio que coisa boa não vai sair dessa polêmica. Muita gente de ambos os lados do front vai sair prejudicada, e o compartilhamento digital nunca mais será do mesmo jeito. Dizem que a lei anti-pirataria fará a internet retroceder até os tempos da internet discada, quando ela era um tipo de country club ao qual pouca gente tinha acesso.
Mas querem saber como se faz pra evitar o SOPA? PAREM DE PRODUZIR LIXO! Se os produtos que nos oferecem fossem de boa qualidade e mais baratos, ninguém ia se importar em gastar com eles. Mas como só existe porcaria tocando nos rádios, as TVs por assinatura fornecem toneladas de canais inúteis por uma fortuna e só uma em cada dez pessoas pode torrar mais de 20 reais no cinema, é muito conveniente que exista o compartilhamento, pois você baixa o novo disco do astro musical da vez, ouve só uma vez e manda pra lixeira, ou então aquele novo filme caríssimo e fútil de super-heróis que todos estão comentado. É o entretenimento fast-food: Você o consegue, saboreia por algum tempo e depois descarta.
Como sabemos, não há um lado certo nessa batalha. Estamos errados ao baixar arquivos de graça, a indústria do entretenimento está errada ao cobrar o que cobra por seus produtos e o congresso americano vai pagar um mico enorme aos olhos do mundo se a SOPA for aprovada. A nossa liberdade virtual, a única que ainda tínhamos, vai cair no esquecimento como um pum sem cheiro nem som.
• Designer e colunista do Literário.
De fato, computador existe para ficar lotado. Temos essa mania de enche-lo, nem sempre de coisas que serão relidas.Não sei como ficarão esses downloads, mas caso tenham de ser pagos, se pensará melhor antes de adquiri-los, ficando-se mais seletivo. Gostei e destaco "glutonaria". Boa!
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