quarta-feira, 18 de janeiro de 2012



Muitas versões e nenhum consenso


A Bossa Nova caracterizou-se por um início impactante, que chegou a chocar os meios artísticos e culturais (negativa e positivamente, conforme o caso) – houve quem chegasse, por exemplo, ao extremo de dizer que era uma espécie de “Semana da Arte Moderna” da década de 60, com igual importância para a nossa cultura como havia sido o movimento de fevereiro de 1922 – teve um meio genial e bem sucedido e um fim desgastante e melancólico. Morreu de morte natural. Esgotou suas propostas e foi substituída, no cenário da MPB, pela Tropicália e por outras tantas tendências surgidas desde então.

Os críticos e os historiadores divergem a propósito de qual teria sido o marco inicial da Bossa Nova. Uns, situam-no em 1957, com o lançamento, por Carlos Lyra, da gravação “Criticando”. Essa composição era uma miscelânea de ritmos díspares, com acordes de rock balada, jazz e bolero. A interpretação era do conjunto vocal “Os Cariocas”.

Outros, todavia, entendem que tudo começou em 1958, com o disco de Elizeth Cardoso, então a cantora mais consagrada e de maior sucesso do País, “Canção do amor demais”, em que aparecia um violonista tocando com uma batida tão diferente (sincopada) a ponto de se deixar de prestar atenção à perfeita interpretação da “Divina”, como sempre genial e impecável, e atentar, apenas, no instrumentista. E este era ninguém menos que João Gilberto.

Há, ainda, quem atribua ao temperamental cantor baiano, de voz sussurrante, mas com impecável afinação, a “paternidade” do movimento. Para estes, a Bossa Nova nasceu, de fato, com o lançamento do disco de 78 rotações “Chega de saudade”, histórica composição da dupla Antonio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim (ou, simplesmente, Tom) e Vinícius de Moraes. Claro que essa dupla dispensa qualquer apresentação. Essa gravação de João Gilberto foi lançada em 10 de julho de 1958.

A maioria dos historiadores, no entanto, coloca como ponto de partida da Bossa Nova o histórico show, promovido por Sidney Frey, presidente da norte-americana Audio Fidelity, com o apoio do Itamaraty, realizado no Carneggie Hall, de Nova York, em 21 de novembro de 1962. Dessa maneira, o movimento estaria prestes a completar 50 anos, ou seja, meio século, no final deste ano de 2012.

Numa coisa, porém, todos concordam (e é o único ponto sobre o qual há consenso): a Bossa Nova balizou todo um período de transformações políticas, econômicas, sociais e comportamentais que marcou tanto a História do Brasil, quanto a do mundo. Como tudo o que é novo (e o movimento trazia o signo da novidade já no próprio nome), agradou alguns, descontentou outros, mas não passou batido. Adeptos e adversários hoje admitem seu caráter inovador. Não há como negar isso.

Há muita gente que pergunta, ainda hoje, a razão da Bossa Nova ser “batizada” dessa forma. A controvérsia em torno da denominação, destaque-se, não é menor do que a que cerca sua origem. As versões a esse propósito são muitas. E, óbvio, até hoje não se chegou a nenhum consenso a esse respeito. Creio que jamais se chegará, embora, na prática, isso pouco importe.

A palavra “bossa” deriva do francês “bosse”. O mestre Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, em seu Novo Dicionário da Língua Portuguesa, atribuiu-lhe oito significados, indo desde “inchação, galo, protuberância, corcova”, a “aptidão, queda, pendor, vocação”. Na gíria (também catalogada pelo dicionarista), a expressão quer dizer “atributo ou qualidade peculiar a pessoa ou coisa , que fazem que elas agradem, chamem a atenção, se distingam de uma ou das outras”.

Bossa Nova, em certo período, extrapolou, na linguagem popular, a mera designação de um movimento musical. Passou a caracterizar tudo o que fosse diferente, moderno, e que fugisse do convencional.

Fernando Bastos de Ávila definiu da seguinte maneira essa tendência, em sua “Pequena Enciclopédia de Moral e Civismo” (lançada em 1967 pelo antigo MEC): “Movimento de rebeldia, segundo uns, de renovação, segundo outros, da música popular brasileira, especialmente do samba. Caracteriza-se por tons monocórdios e por saltos do ritmo. Tem gozado de relativo sucesso entre a juventude, concorrendo com outros ritmos provindos dos Estados Unidos e da Europa, especialmente com a produção dos famosos Beatles ingleses. A expressão começa a ser estendida a outros setores artísticos, especialmente à pintura, com significado da busca de novos padrões”. Por hoje é só.

Boa leitura.

O Editor.




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Um comentário:

  1. Meu ex-marido adora a Bossa Nova, e toca violão divinamente. Aqui tem vários discos. Gosto da batida, mas ouço com prazer apenas poucas músicas. Acredito que sofri pouca influência da Bossa Nova, por ser muito menina em seu auge.
    PS: Quando uma criança demora muito a nascer, aparece em sua cabeça um calo chamado "bossa" que deforma, dando a cabeça um aspecto alongado.

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