Faltando tempero
* Por Fernando Yanmar Narciso
* Por Fernando Yanmar Narciso
Há mais ou menos uma década, exceto talvez pela obra de Glória Perez, conseguir emplacar um casal-satélite no horário nobre tem sido uma tarefa hercúlea. Agora que Fina Estampa está a 40 capítulos do fim, um debate tem tomado os sites de relacionamento: Com quem Griselda deve ficar no final da trama? Mas o motivo da discussão não é pela paixão despertada pelo triângulo amoroso no espectador, e sim porque ele simplesmente não dá liga. Ao que parece Lília Cabral não conseguiu ter aquele olhar abobado nem por René (Dalton Vigh) nem por Guaracy (Paulo Rocha).
Ambos os atores são extremos opostos, como mandam as leis do folhetim: Vigh consegue o milagre de ser mais canastrão que Francisco Cuoco, e simplesmente não dá pra sentir aquela faísca saindo dos olhos do casal. Apesar do Paulo Rocha ser talentoso e esbanjar carisma, ele parece ter uns 30 anos a menos que Griselda, tornando aquela paixão incontrolável dele tão verossímil como uma nevasca em Picos, no Piauí.
Agora Aguinaldo Silva tem esse tremendo abacaxi pra descascar, mas o que mais espanta é que só tenham se dado conta desse problema agora que a novela dobra a esquina rumo ao esquecimento. Desde a primeira semana estava na cara que nenhum dos pares e trios românticos principais da trama levantaria alguma torcida pela absoluta falta de química – se bem que os pares-reserva têm rendido alguma referência, como Rafa e Amália e Tereza Cristina e Pereirinha, mas também não há uma só mulher no mundo com quem José Mayer não consiga se relacionar, mesmo que no momento ele mais lembre um Papai Noel etíope.
Não dá pra entender porque esse fenômeno tem acontecido com tanta freqüência. No tempo que as novelas eram essencialmente histórias de amor, era muito difícil o público reprovar pares e triângulos amorosos, afinal o papel das tramas de, digamos, Janete Clair, era alienar e distrair a gente, para que esquecêssemos do sofrimento e da repressão por pelo menos meia hora diária. O que não dizer dos três casais de Irmãos Coragem, do triângulo Cristiano/Simone/Fernanda de Selva de Pedra, Herculano e Amanda de O Astro, Carlão e Lucinha de Pecado Capital, e até Sinhôzinho Malta e Viúva Porcina? Todos foram casais incríveis, instigantes, que faziam a dona de casa torcer por um final feliz mesmo que os atores parecessem roletas de ônibus.
Principalmente Chicão Cuoco, que foi o galã que mais participou das histórias de Janete Clair, sendo desejado por todas mesmo tendo uma tremenda cara de agente funerário.
Para mim, para se ter um folhetim de sucesso são necessários dois elementos: Bons textos e entrega absoluta do elenco a eles. Eu sei, esses elementos são meio óbvios, mas percebi que nas novelas de antigamente havia uma simbiose perfeita entre atores e papéis, como se eles já tivessem saído da barriga da mãe daquele jeito. A química dos casais era às vezes inexplicável, como se eles se conhecessem desde as fraldas.
Peguemos como exemplo Selva de Pedra. Eu li o livreto de Mário Andrade contando a história da trama. Aquilo era um absurdo incomensurável, mas o poder do triângulo amoroso de Cuoco, Regina Duarte e Dina Sfat foi tão assombroso que quem estava do outro lado da tela mal conseguia prestar atenção nos absurdos.
Também há de se levar em consideração que as novelas antigas eram muito mais longas, mais lentas e cada episódio era mais curto, dividido em três atos, como na maioria das novelas mexicanas. Imagine-se olhando apaixonado para seu par por meia hora sem parar. Moleza, né? Agora imagine-se olhando para ele por uma hora. Alguma hora ele vai acabar perguntando “Que foi?”.
O grande problema de se contar uma história de amor hoje em dia é que o próprio amor parece ter morrido. A química entre homem e mulher ou entre pessoas do mesmo gênero sexual perdem cada vez mais espaço para a internet, os novos gadgets da Apple e a ganância, então qualquer demonstração mais exagerada de afeto invariavelmente parece forçada. E como, apesar das subtramas envolvendo roubos, assassinatos, drogas pesadas, homofobia e, às vezes, necrofilia, a matéria-prima das tramas ainda é o bom e velho amor, não sei como os novelistas vão conseguir contornar a situação.
Uma boa pedida seria suprimir os “presuntos” que tanto inflam os elencos. Rostinhos bonitos que mal conseguem suar como Bianca Bin, Jonatas Faro, os irmãos Kayky e Stefany Britto, Caio Castro, Grazi, Marcelo Anthony entre vários outros deviam ou voltar para as passarelas ou para aulas do método Stanislavsky para ao menos tentarem convencer mais nos papéis que escolhem, juntos ou separados uns dos outros.
• Designer e colunista do Literário.
Ambos os atores são extremos opostos, como mandam as leis do folhetim: Vigh consegue o milagre de ser mais canastrão que Francisco Cuoco, e simplesmente não dá pra sentir aquela faísca saindo dos olhos do casal. Apesar do Paulo Rocha ser talentoso e esbanjar carisma, ele parece ter uns 30 anos a menos que Griselda, tornando aquela paixão incontrolável dele tão verossímil como uma nevasca em Picos, no Piauí.
Agora Aguinaldo Silva tem esse tremendo abacaxi pra descascar, mas o que mais espanta é que só tenham se dado conta desse problema agora que a novela dobra a esquina rumo ao esquecimento. Desde a primeira semana estava na cara que nenhum dos pares e trios românticos principais da trama levantaria alguma torcida pela absoluta falta de química – se bem que os pares-reserva têm rendido alguma referência, como Rafa e Amália e Tereza Cristina e Pereirinha, mas também não há uma só mulher no mundo com quem José Mayer não consiga se relacionar, mesmo que no momento ele mais lembre um Papai Noel etíope.
Não dá pra entender porque esse fenômeno tem acontecido com tanta freqüência. No tempo que as novelas eram essencialmente histórias de amor, era muito difícil o público reprovar pares e triângulos amorosos, afinal o papel das tramas de, digamos, Janete Clair, era alienar e distrair a gente, para que esquecêssemos do sofrimento e da repressão por pelo menos meia hora diária. O que não dizer dos três casais de Irmãos Coragem, do triângulo Cristiano/Simone/Fernanda de Selva de Pedra, Herculano e Amanda de O Astro, Carlão e Lucinha de Pecado Capital, e até Sinhôzinho Malta e Viúva Porcina? Todos foram casais incríveis, instigantes, que faziam a dona de casa torcer por um final feliz mesmo que os atores parecessem roletas de ônibus.
Principalmente Chicão Cuoco, que foi o galã que mais participou das histórias de Janete Clair, sendo desejado por todas mesmo tendo uma tremenda cara de agente funerário.
Para mim, para se ter um folhetim de sucesso são necessários dois elementos: Bons textos e entrega absoluta do elenco a eles. Eu sei, esses elementos são meio óbvios, mas percebi que nas novelas de antigamente havia uma simbiose perfeita entre atores e papéis, como se eles já tivessem saído da barriga da mãe daquele jeito. A química dos casais era às vezes inexplicável, como se eles se conhecessem desde as fraldas.
Peguemos como exemplo Selva de Pedra. Eu li o livreto de Mário Andrade contando a história da trama. Aquilo era um absurdo incomensurável, mas o poder do triângulo amoroso de Cuoco, Regina Duarte e Dina Sfat foi tão assombroso que quem estava do outro lado da tela mal conseguia prestar atenção nos absurdos.
Também há de se levar em consideração que as novelas antigas eram muito mais longas, mais lentas e cada episódio era mais curto, dividido em três atos, como na maioria das novelas mexicanas. Imagine-se olhando apaixonado para seu par por meia hora sem parar. Moleza, né? Agora imagine-se olhando para ele por uma hora. Alguma hora ele vai acabar perguntando “Que foi?”.
O grande problema de se contar uma história de amor hoje em dia é que o próprio amor parece ter morrido. A química entre homem e mulher ou entre pessoas do mesmo gênero sexual perdem cada vez mais espaço para a internet, os novos gadgets da Apple e a ganância, então qualquer demonstração mais exagerada de afeto invariavelmente parece forçada. E como, apesar das subtramas envolvendo roubos, assassinatos, drogas pesadas, homofobia e, às vezes, necrofilia, a matéria-prima das tramas ainda é o bom e velho amor, não sei como os novelistas vão conseguir contornar a situação.
Uma boa pedida seria suprimir os “presuntos” que tanto inflam os elencos. Rostinhos bonitos que mal conseguem suar como Bianca Bin, Jonatas Faro, os irmãos Kayky e Stefany Britto, Caio Castro, Grazi, Marcelo Anthony entre vários outros deviam ou voltar para as passarelas ou para aulas do método Stanislavsky para ao menos tentarem convencer mais nos papéis que escolhem, juntos ou separados uns dos outros.
• Designer e colunista do Literário.
Meu comentário: colocaria Thereza Christina com Griselda, sem sombra de dúvida. A vilã era até boazinha com seu René, até conhecer Griselda e ficar obcecada por ela. Então, a paixão e a liga estão entre as duas e não nos demais personagens da trama. No geral, uma boa avaliação dos fatos.
ResponderExcluirAlvíssaras Fernando! Some mais não.
ResponderExcluirÓtimo texto.
Abraços