domingo, 22 de janeiro de 2012







Racionalidade é sonho

Por Pedro J. Bondaczuk

O homem, num determinado instante da sua trajetória pelo Planeta, que não se sabe qual foi, adquiriu, surpreso, a consciência de que existia. Foi quando começou a exercitar uma faculdade que o distinguia dos outros animais: a de pensar.

As três primeiras indagações que lhe vieram, então, à mente, embora certamente não colocadas com tanta clareza, foram: O que sou? Onde estou? Para onde vou? Da tentativa de responder a estas três questões surgiram as ciências, as artes, as filosofias e as religiões.

Milhões de hipóteses foram levantadas, uma quantidade incontável de textos foi escrita em torno desse primitivo tema. Ninguém, todavia, respondeu de forma incontestável: o que sou? Onde estou? Para onde vou?

Renè Descartes, por exemplo, na tentativa de buscar a verdade, negou inicialmente a existência de tudo. Depois, partiu de uma premissa básica: a célebre “Cogito, ergo sum”. Ou seja, penso, logo existo. Talvez hoje, a rigor, a única conclusão exata a que possamos chegar ainda seja apenas esta.

O que é a vida? É, sobretudo, um mistério. É muito mais do que meros conjuntos de aminoácidos combinados para formar proteínas componentes de células, tecidos, órgãos, estruturas completas. Há algo impalpável que anatomista algum, nenhum cientista, por mais perito que seja, conseguiu isolar, separar, dissecar, posto que é imaterial.

O homem, por exemplo, simula em sua constituição orgânica o próprio universo. É regido pelas mesmas leis e princípios naturais. Tem, em suas células, bilhões e bilhões de vidas independentes. De sistemas vivos que nascem, crescem, reproduzem-se e morrem constantemente.

A cada dia somos “outro” e, no entanto, somos os mesmos. Continuamos vivendo. Esse quê imaterial passa das células moribundas para as recém-nascidas num processo que só termina quando o indivíduo como um todo morre. E para onde vai de fato essa chama que nos anima?

Na ausência de explicação, multidões recorrem ao expediente da fé. Apesar da raridade da vida, tanta gente atenta, 24 horas por dia, 365 dias por ano, através de décadas, séculos, milênios, contra esse dom, esse mistério, esse milagre.

Filmes, novelas, histórias passam a impressão, a cada momento, que matar é um ato normal. Que isso faz parte do processo de seleção natural existente no mundo. Claro que essa visão não é a correta. Lógico que essa posição é sumamente imoral. Evidentemente não é uma atitude de um ser racional, capaz de saber o que é o bem e o que é o mal.

No entanto, é a que ainda predomina, mostrando que o homem ainda tem muito a aprender para que possa de fato ser racional.



* Jornalista, radialista e escritor. Trabalhou na Rádio Educadora de Campinas (atual Bandeirantes Campinas), em 1981 e 1982. Foi editor do Diário do Povo e do Correio Popular onde, entre outras funções, foi crítico de arte. Em equipe, ganhou o Prêmio Esso de 1997, no Correio Popular. Autor dos livros “Por uma nova utopia” (ensaios políticos) e “Quadros de Natal” (contos), além de “Lance Fatal” (contos) e “Cronos & Narciso” (crônicas). Blog “O Escrevinhador” – http://pedrobondaczuk.blogspot.com. Twitter:@bondaczuk

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