sexta-feira, 20 de janeiro de 2012







Sobre emoções

* Por Jair Lopes


Para falar de emoções quero usar como gancho o trecho abaixo publicado no blogue http://seteramos.blogspot.com de autoria de meu amigo Barcellos: “Homens são lógicos e racionais. Mulheres são emotivas e passionais. É claro que esta visão é extremista e polarizada demais. A maioria de nós - homens e mulheres - se situa em algum ponto intermediário entre esses dois extremos. E deslizamos para um lado ou para outro conforme as circunstâncias, sobre as quais raramente temos um controle efetivo”.

Na verdade, emoções nos são tão necessárias como comer ou dormir, nossa saúde mental depende delas. Há que se levar em conta que no curso da evolução humana a emoção do medo, por exemplo, foi fundamental para a sobrevivência, o homem que temia perigos insuperáveis como enfrentar um animal mais forte, rápido e bem armado de garras, era o que sobrevivia e deixava descendentes. Os homens por demais imprudentes que se colocaram a mercê de eventos perigosos que lhes tiraram a vida, dificilmente tiveram oportunidade de passar seus genes adiante. Embora se possa dizer que esses arrojados foram mais felizes em conseguir comida, também foram os primeiros a serem devorados pelas feras. Somos herdeiros de homens comedidos e racionais, mas que colocaram a emoção medo a serviço da perpetuação da espécie.
Os autores Sandra Aamodt e Sam Wang, do livro “Seja bem-vindo ao seu cérebro”, dizem que “a maioria das pessoas acha que emoções prejudicam a capacidade de fazer opções sensatas – mas isso não é verdade”. Afirmam, baseados em estudos do cérebro em condições monitoradas, que as emoções surgem em resposta a eventos que impressionam a mente e mantém o cérebro concentrado no que for importante para reagir, desde ameaça à integridade física até oportunidades sociais. As emoções nos forçam a moldar nosso comportamento aos fatos de modo a obtermos maximização de resultados, seja para nos defendermos ou para aproveitarmos uma oportunidade adequada.
E aqui fica uma observação do que ocorre com a tão comentada racionalidade que, aparentemente, deveria comandar nossas ações mais eficientes. Na vida real, geralmente não podemos emitir julgamentos acertados com base apenas na lógica, pois, o mais das vezes não dispomos de todos os dados da equação para decidirmos a melhor maneira de fazer ou de se comportar. Assim, seria favas contadas mudar de profissão, por exemplo, se soubéssemos que no futuro nossa decisão nos traria aquilo que desejamos em matéria de salário e satisfação pessoal. Num caso de perigo funciona assim: corra para se salvar, mesmo que depois descubra que a “ameaça” era apenas um galho com aparência estranha. Pois, na maioria dos casos, só podemos contar com nossa intuição e não com dados concretos e confiáveis, o galho era um bicho terrível, lembra?
De certa maneira, podemos recordar de nossa última viagem ao exterior muito melhor do que comemos no desjejum de hoje, a menos que nossa primeira refeição tenha sido algo inusitado como lagosta acompanhada de caviar beluga, ou tenhamos comido gafanhotos assados, por exemplo. Emoções fortes tendem a marcar nossa memória de maneira acentuada. As emoções salientam o efeito da experiência e fazem com que os fatos sejam consolidados na memória. A excitação mental que a emoção causa pode “marcar” áreas cerebrais de modo a formar armazenamento de longo prazo de detalhes importantes de um evento especialmente emotivo, em detrimento de detalhes periféricos não ligados ao caso.
Particularmente, não sou bom contador de piadas, me falta aquele “time” que torna o desfecho da anedota risível ou gargalhativo. Mas, consigo lembrar de muitas piadas – muitas centenas talvez – com o exato contexto em que foram contadas e quem as contou. Lembro até piadas que ouvi quando era criança de dez ou onze anos, e “vejo” na minha memória o momento e local que gargalhei ou ri de um bom desfecho. Por que essas lembranças tão vívidas? Emoção. Embora o humor não seja algo que se defina com facilidade, é fácil reconhecer situações risíveis, ou seja, se é engraçado para nós, rimos e pronto, não há uma chave de liga e desliga do humor, ele se impõe por si só.
Através do humor as pessoas se sentem bem, parece que ativa áreas de recompensa no cérebro que reagem a outros tipos de prazer como comer ou fazer sexo. Na verdade a gargalhada pode ser uma antiga reação dos hominídeos para indicar que aquilo que aparentava perigo era inócuo, então a gargalhada representava o prazer de estar vivo e saudável.
Portanto, as recompensas (emoções) do humor não são apenas de bem estar consigo mesmo. Quem faz os outros rirem está contribuindo para interação social e permitindo àqueles que riem desestressem. Portanto se nos divertimos com coisas que outros não acham engraçadas, provavelmente viveremos mais e melhor que os ranzinzas e resmungões. Então, quaisquer que sejam as emoções, elas sempre estarão contribuído para nossa qualidade de vida.

• Escritor

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