A vida se encaminha
* Por Núbia Araújo Nonato do Amaral
Observo da minha janela a vida que se encaminha. Pássaros novos se apresentam e aprendem rapidinho a roubar a ração da Lola. A viuvinha, esperta como só, já escarnece da pobre, que nunca é rápida o bastante. Os parasitas voltaram e quando o vento sacode o pé de acerola, é como se caíssem flocos de neve.
O chão está coalhado de pétalas que ao serem pisadas fazem o mesmo barulhinho de um gongolo esmagado. Dei outra topada na pobre da Julinha, que até hoje não sei ao certo se é uma tartaruga, jabuti ou um cágado. Minha irmã diz que ela é burra.
Ouço uma voz distante me perguntando se não tenho coisa melhor para fazer. Ignoro o comentário. Hoje é sábado. Tem um pombo no telhado da vizinha de olho no meu quintal. Se eu fosse ele não desceria. Pombos são lerdos e a cachorra os odeia.
De repente penso no meu pai, que sempre para no meio do corredor com a toalha em uma das mãos e a cueca na outra. Ele esquece onde fica o banheiro. Acabo comparando-o ao pequeno passarinho que raramente desce do muro e fica o tempo todo coçando o peito com o bico.
Choro, mas apenas por medo das lembranças, que aos poucos vão desbotar, dos registros que se dissiparão. Respiro fundo duas, três vezes, esfrego rapidamente os olhos e afugento as lágrimas. A vida se encaminha.
* Poetisa, contista, cronista e colunista do Literário
* Por Núbia Araújo Nonato do Amaral
Observo da minha janela a vida que se encaminha. Pássaros novos se apresentam e aprendem rapidinho a roubar a ração da Lola. A viuvinha, esperta como só, já escarnece da pobre, que nunca é rápida o bastante. Os parasitas voltaram e quando o vento sacode o pé de acerola, é como se caíssem flocos de neve.
O chão está coalhado de pétalas que ao serem pisadas fazem o mesmo barulhinho de um gongolo esmagado. Dei outra topada na pobre da Julinha, que até hoje não sei ao certo se é uma tartaruga, jabuti ou um cágado. Minha irmã diz que ela é burra.
Ouço uma voz distante me perguntando se não tenho coisa melhor para fazer. Ignoro o comentário. Hoje é sábado. Tem um pombo no telhado da vizinha de olho no meu quintal. Se eu fosse ele não desceria. Pombos são lerdos e a cachorra os odeia.
De repente penso no meu pai, que sempre para no meio do corredor com a toalha em uma das mãos e a cueca na outra. Ele esquece onde fica o banheiro. Acabo comparando-o ao pequeno passarinho que raramente desce do muro e fica o tempo todo coçando o peito com o bico.
Choro, mas apenas por medo das lembranças, que aos poucos vão desbotar, dos registros que se dissiparão. Respiro fundo duas, três vezes, esfrego rapidamente os olhos e afugento as lágrimas. A vida se encaminha.
* Poetisa, contista, cronista e colunista do Literário
Que gostosura de escrito, Núbia. Dá prazer ler a rotina da sua personagem na primeira pessoa. Seria você? Caso seja, invejo ter tantos detalhes a sua volta. E lembranças boas chegam a mim, junto com suas palavras.
ResponderExcluirMuito obrigada Mara, pela
ResponderExcluirgentileza em sempre comentar.
Sim, nesse texto em especial me retrato.
Abração