Amanhã eu penso nisso
* Por Ana Flores
* Por Ana Flores
Na última cena do clássico norte-americano ...E o vento le¬vou, Scarlet O´Hara, mulher mimada e imatura, ao ser abandonada pelo homem que a amava mas que se cansara de suas leviandades, e deixada sozinha no casarão onde moravam, leva no máximo dois minutos para se lamentar. Depois, enxuga as lágrimas e diz “Agora estou cansada. Amanhã eu penso nisso”. Olhando à nossa volta ou mesmo para dentro, vamos perceber que a ‘Síndrome de Scarlet O´Hara’ afeta mais gente do que imagina nossa vã filosofia, até mesmo quem nem sabia que ela existe.
Sabe aquele livro que você tanto queria e finalmente encontrou num sebo e que até hoje está olhando pra você lá da sua estante? Que há seis meses você se propôs a começar a ler “no fim de semana que vem” e continua adiando o projeto? Pois é, nem falta de tempo nem de resistência física para abri-lo: é apenas o lado Scarlet O´Hara em ação. Combinar certinho aquele encontro com amigos do peito, sugerido e desejado por todos há tanto tempo, mas sempre adiado com desculpas do tipo “É uma coisa e outra, essa vida corrida, blá blá blá”? Não é só vida corrida, é a síndrome. Livro se lê em casa, em ônibus, avião ou sala de espera. E bastam dois ou três minutos para pensar numa data para o encontro com aqueles amigos e mais três para telefonar e sugerir a data. Quando o encontro acontece, todos gostam e se divertem, até se passarem mais seis meses, dois anos ou a vida inteira para se combinar outro. Que pode nunca mais acontecer.
Dentre as lendas urbanas que circulam na internet, uma que me impressionou (é, eu às vezes me impressiono com essas bobagens internéticas) foi a de uma mulher que comprou uma lingerie sensual e comentou com a irmã que ia esperar para usá-la numa ocasião especial com o marido. Um ano depois, o marido encontrou a lingerie, ainda intocada na embalagem, ao arrumar as coisas da mulher depois do enterro dela. Descontado o clima folhetinesco do episódio, este é um bom exemplo da síndrome em questão. Ocasião especial a gente faz acontecer ou fica no prejuízo.
A leitura, o encontro, a visita, o e-mail para saber notícias do amigo que se mudou para longe, o curso de culinária ou de capoeira, a viagem sonhada há tantos anos, nada disso acontece sem o primeiro passo. E para isso, ninguém melhor que o próprio interessado - quando existe mesmo interesse. Guardar a louça inglesa ou a lingerie para “ocasiões especiais” e usar sempre a mesma louça do diário e as calcinhas e os sutiãs de todos os dias, ou não arranjar tempo para planejar e executar aquilo que se quer e se pode fazer são desperdícios que produzem uma única vítima: quem nunca aposta nos próprios so-nhos. Todo mundo tem um lado de Scarlet, mas só o tempo acaba mostrando quem venceu a parada.
• Escritora
Sabe aquele livro que você tanto queria e finalmente encontrou num sebo e que até hoje está olhando pra você lá da sua estante? Que há seis meses você se propôs a começar a ler “no fim de semana que vem” e continua adiando o projeto? Pois é, nem falta de tempo nem de resistência física para abri-lo: é apenas o lado Scarlet O´Hara em ação. Combinar certinho aquele encontro com amigos do peito, sugerido e desejado por todos há tanto tempo, mas sempre adiado com desculpas do tipo “É uma coisa e outra, essa vida corrida, blá blá blá”? Não é só vida corrida, é a síndrome. Livro se lê em casa, em ônibus, avião ou sala de espera. E bastam dois ou três minutos para pensar numa data para o encontro com aqueles amigos e mais três para telefonar e sugerir a data. Quando o encontro acontece, todos gostam e se divertem, até se passarem mais seis meses, dois anos ou a vida inteira para se combinar outro. Que pode nunca mais acontecer.
Dentre as lendas urbanas que circulam na internet, uma que me impressionou (é, eu às vezes me impressiono com essas bobagens internéticas) foi a de uma mulher que comprou uma lingerie sensual e comentou com a irmã que ia esperar para usá-la numa ocasião especial com o marido. Um ano depois, o marido encontrou a lingerie, ainda intocada na embalagem, ao arrumar as coisas da mulher depois do enterro dela. Descontado o clima folhetinesco do episódio, este é um bom exemplo da síndrome em questão. Ocasião especial a gente faz acontecer ou fica no prejuízo.
A leitura, o encontro, a visita, o e-mail para saber notícias do amigo que se mudou para longe, o curso de culinária ou de capoeira, a viagem sonhada há tantos anos, nada disso acontece sem o primeiro passo. E para isso, ninguém melhor que o próprio interessado - quando existe mesmo interesse. Guardar a louça inglesa ou a lingerie para “ocasiões especiais” e usar sempre a mesma louça do diário e as calcinhas e os sutiãs de todos os dias, ou não arranjar tempo para planejar e executar aquilo que se quer e se pode fazer são desperdícios que produzem uma única vítima: quem nunca aposta nos próprios so-nhos. Todo mundo tem um lado de Scarlet, mas só o tempo acaba mostrando quem venceu a parada.
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