segunda-feira, 30 de janeiro de 2012







A enforcada

* Por Talis Andrade

No remoinho do bar
que faz a mulher
suspensa pelo pé
Prisioneiros do umbigo
nenhum conviva observa
quanto distante a mulher
se conserva
Em obscuro ponto
onde nada lhe alcança
nem os risos
que vêm das ruas
nem os sussurros
dos orgasmos
nos cômodos
escuros
Suspensa pelo pé
entre o céu e a terra
bêbada de soma
bêbada de sono
a mulher busca esquecer
este mundo louco
onde todos têm
a mesma fome
a mesma febre
onde todos têm
uma única
fatídica
carta de tarô
Suspensa pelo pé
a mulher espera fugir
dos repulsivos
convulsivos apelos
deste mundo louco
onde todos têm
a mesma aparência
onde todos têm
a mesma carência
Suspensa pelo pé
as mãos amarradas nas costas
a mulher espera eva-
dir-se da rotina
de uma vida
em que todos
copiam o outro
bebendo o mesmo
copo de chope

* Jornalista, poeta, professor de Jornalismo e Relações Públicas e bacharel em História. Trabalhou em vários dos grandes jornais do Nordeste, como a sucursal pernambucana do “Diário da Noite”, “Jornal do Comércio” (Recife), “Jornal da Semana” (Recife) e “A República” (Natal). Tem 11 livros publicados, entre os quais o recém-lançado “Cavalos da Miragem” (Editora Livro Rápido).

Um comentário:

  1. A vida dita suas normas e boa parte as copia. O enforcamento pelos pés mostra distância entre a mulher e os mortais comuns.

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