Trajetória de um assassino
* Por Osvaldo Pastorelli
A pedra saiu da sua mão numa trajetória quase perfeita. Mirou o alvo e lançou. Sem encontrar obstáculos, bateu na testa e caiu ao lado do menino. Uma pequena mancha de sangue se incrustou num dos lados em comparação com o grosso filete que escorreu pelo rosto cobrindo o olho direito. O menino caiu e inerte ficou de comprido no campinho de terra batido. Apavorado, não soube o que fazer. Estavam os dois sozinhos. Pensou em correr e, foi o que fez. Chegou em casa ofegante. Subiu as escadas e trancou-se no quarto. O coração descompassado batia fazendo o peito doer. Jogou-se na cama. Será que matei, pensou. Não tinha a intenção de jogar a pedra, mas instintivamente se agachou e pegou a primeira que encontrou. Do ato concretizou-se o gesto. Agora o menino estava morto. O que deveria fazer? Entregar-se a policia? Mas ele tinha apenas doze anos! Será que o prenderiam? Não, o mais certo é levarem para o reformatório.
Era uma pedra e seguiu pedra, porque não se transformou em outra coisa assim que saiu da sua mão? Não, saiu como pedra e seguiu como pedra. Agora... Talvez fosse melhor voltar ao campo e verificar mesmo se o matara. O sol cobria todo o campo de terra batido transformando-o num pequeno deserto. Ao transpor a cerca viva, constatou horrorizado que o corpo do menino não estava mais onde o deixara. Será que foi para a casa dele? Alguém chamou a policia ou a ambulância e o levaram? Sem o corpo não poderia ser acusado.
Sem perceber acelerou o passo de volta. Mas ao virar a esquina, viu o carro da polícia parado em frente a casa. Não pensou duas vezes. Saiu correndo em sentido contrário e nunca mais o viram.
(Contos surrealistas 72, 26/10/2011)
• Poeta e artista plástico
* Por Osvaldo Pastorelli
A pedra saiu da sua mão numa trajetória quase perfeita. Mirou o alvo e lançou. Sem encontrar obstáculos, bateu na testa e caiu ao lado do menino. Uma pequena mancha de sangue se incrustou num dos lados em comparação com o grosso filete que escorreu pelo rosto cobrindo o olho direito. O menino caiu e inerte ficou de comprido no campinho de terra batido. Apavorado, não soube o que fazer. Estavam os dois sozinhos. Pensou em correr e, foi o que fez. Chegou em casa ofegante. Subiu as escadas e trancou-se no quarto. O coração descompassado batia fazendo o peito doer. Jogou-se na cama. Será que matei, pensou. Não tinha a intenção de jogar a pedra, mas instintivamente se agachou e pegou a primeira que encontrou. Do ato concretizou-se o gesto. Agora o menino estava morto. O que deveria fazer? Entregar-se a policia? Mas ele tinha apenas doze anos! Será que o prenderiam? Não, o mais certo é levarem para o reformatório.
Era uma pedra e seguiu pedra, porque não se transformou em outra coisa assim que saiu da sua mão? Não, saiu como pedra e seguiu como pedra. Agora... Talvez fosse melhor voltar ao campo e verificar mesmo se o matara. O sol cobria todo o campo de terra batido transformando-o num pequeno deserto. Ao transpor a cerca viva, constatou horrorizado que o corpo do menino não estava mais onde o deixara. Será que foi para a casa dele? Alguém chamou a policia ou a ambulância e o levaram? Sem o corpo não poderia ser acusado.
Sem perceber acelerou o passo de volta. Mas ao virar a esquina, viu o carro da polícia parado em frente a casa. Não pensou duas vezes. Saiu correndo em sentido contrário e nunca mais o viram.
(Contos surrealistas 72, 26/10/2011)
• Poeta e artista plástico
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