Sarará Silva da Silva
* Por Urda Alice Klueger
Penso que quase todo o mundo ainda se lembra de Mário Lago, aquele cavalheiro que partiu faz pouco tempo, tão cavalheiro que imagino que nunca ninguém pensou em chamá-lo de velhinho, embora estivesse já quase nos noventa anos. Pois Mário Lago foi um homem de uma dignidade infinita, que jamais transigiu com os seus princípios, o que fez com que, nas ditaduras daí do passado, vivesse num entra-e-sai das cadeias brasileiras como se criminoso fosse, e não sei, mas imagino, que muitas vezes tenha sido demitido por justa causa em empregos decrépitos que se curvavam diante de poderes mais decrépitos ainda, bem como acontece hoje. A pergunta é: alguém se lembra dos antigos empregadores que um dia demitiram Mário Lago? Não me ocorre nenhum, mas jamais esquecerei Mário Lago, já bem para lá dos 80 anos, dizendo com a galhardia que lhe era peculiar: “Eu nunca fui pessoa que ficou na calçada vendo a banda passar – eu sempre estava junto com a banda!”.
Sem dúvida, Mário Lago, sem dúvida! Gente como você jamais se deixará ficar a ver a banda passar – assim como tantos outros hoje, como jovens jornalistas do meu tempo, que para serem testemunhos da História efervescente deste mundo onde a luta pelo poder anda acirradíssima e abjeta, tudo arriscam para seguirem junto com a banda e darem testemunha das barbaridades que o jogo do Capital faz contra a grande massa escrava e subordinada.
Faz poucos dias, e lá em Florianópolis o Sarará Cláudio Silva da Silva foi cobrir uma dessas batalhas que a truculência do Capital já se acostumou a fazer com o povo – e levou porrada e foi preso como se delinqüente fosse, como se não estivesse no mais legítimo exercício do seu trabalho. Que se espera de um patrão em tal hora? Apoio, compreensão, até aconchego – só que o patrão era daqueles que depois ninguém mais vai lembrar, um tal jornal chamado Diário Catarinense, e o que fez porque seu empregado queria trabalhar melhor que os outros? Em cima da porrada da polícia tacou-lhe a porrada trabalhista: justa causa e rua, quem é que manda fotografar a banda passando? Lugar de repórter de jornal vendido é no esconso mais escondido da calçada, é andar de viseira e grossa venda para só fotografar riquinhos a chegar de Miami ou poetinhas sem estrutura humana a lançar livrinhos que ninguém lê. A vida? Essa não interessa, repórter tem que fazer o jogo do poder, se esquecer que as bandas passam nas ruas, que a vida é de verdade e não apenas aquela vitrine que o patrão deseja.
Pois é, Sarará Silva da Silva: até ainda há gente amiga minha trabalhando naquele jornal tão podre que faz com um empregado o que fizeram com você, mas também tem cada escória! Até Ogro agora trabalha lá, não sei como você agüentou tanto tempo, você, rapaz que olha e enxerga quando a banda passa!
Procure seus direitos, claro, é coisa de justiça, mas caia fora daquele antro! Como já disse Elaine Tavares, eles não o merecem. Emprego nunca falta para quem é profissional de qualidade, e um dia, quando aos 80 anos você for um cavalheiro que ninguém conseguirá ver como um velhinho, como Mário Lago você poderá dizer que nunca ficou na calçada, que sempre esteve junto com a banda quando ela passou! No seu patrimônio haverá sua história de lutas, sua história de profissional da melhor qualidade, sua história de testemunha das mudanças da humanidade. Aqueles policiazinhos que lhe prenderam (inclusive os P2, quer dizer, os à paisana)? Um tal de jornal Diário Catarinense? Acho que ninguém mais vai lembrar – cada um cava a sua sepultura conforme vai caminhando. Como os tais que prenderam e demitiram Mário Lago.
Vai fundo, Sarará! Tem gente de monte contigo! Afinal, nos peitos onde ainda batem corações as bandas é que são o grande sucesso!
* Escritora de Blumenau/SC, historiadora e doutoranda em Geografia pela UFPR
* Por Urda Alice Klueger
Penso que quase todo o mundo ainda se lembra de Mário Lago, aquele cavalheiro que partiu faz pouco tempo, tão cavalheiro que imagino que nunca ninguém pensou em chamá-lo de velhinho, embora estivesse já quase nos noventa anos. Pois Mário Lago foi um homem de uma dignidade infinita, que jamais transigiu com os seus princípios, o que fez com que, nas ditaduras daí do passado, vivesse num entra-e-sai das cadeias brasileiras como se criminoso fosse, e não sei, mas imagino, que muitas vezes tenha sido demitido por justa causa em empregos decrépitos que se curvavam diante de poderes mais decrépitos ainda, bem como acontece hoje. A pergunta é: alguém se lembra dos antigos empregadores que um dia demitiram Mário Lago? Não me ocorre nenhum, mas jamais esquecerei Mário Lago, já bem para lá dos 80 anos, dizendo com a galhardia que lhe era peculiar: “Eu nunca fui pessoa que ficou na calçada vendo a banda passar – eu sempre estava junto com a banda!”.
Sem dúvida, Mário Lago, sem dúvida! Gente como você jamais se deixará ficar a ver a banda passar – assim como tantos outros hoje, como jovens jornalistas do meu tempo, que para serem testemunhos da História efervescente deste mundo onde a luta pelo poder anda acirradíssima e abjeta, tudo arriscam para seguirem junto com a banda e darem testemunha das barbaridades que o jogo do Capital faz contra a grande massa escrava e subordinada.
Faz poucos dias, e lá em Florianópolis o Sarará Cláudio Silva da Silva foi cobrir uma dessas batalhas que a truculência do Capital já se acostumou a fazer com o povo – e levou porrada e foi preso como se delinqüente fosse, como se não estivesse no mais legítimo exercício do seu trabalho. Que se espera de um patrão em tal hora? Apoio, compreensão, até aconchego – só que o patrão era daqueles que depois ninguém mais vai lembrar, um tal jornal chamado Diário Catarinense, e o que fez porque seu empregado queria trabalhar melhor que os outros? Em cima da porrada da polícia tacou-lhe a porrada trabalhista: justa causa e rua, quem é que manda fotografar a banda passando? Lugar de repórter de jornal vendido é no esconso mais escondido da calçada, é andar de viseira e grossa venda para só fotografar riquinhos a chegar de Miami ou poetinhas sem estrutura humana a lançar livrinhos que ninguém lê. A vida? Essa não interessa, repórter tem que fazer o jogo do poder, se esquecer que as bandas passam nas ruas, que a vida é de verdade e não apenas aquela vitrine que o patrão deseja.
Pois é, Sarará Silva da Silva: até ainda há gente amiga minha trabalhando naquele jornal tão podre que faz com um empregado o que fizeram com você, mas também tem cada escória! Até Ogro agora trabalha lá, não sei como você agüentou tanto tempo, você, rapaz que olha e enxerga quando a banda passa!
Procure seus direitos, claro, é coisa de justiça, mas caia fora daquele antro! Como já disse Elaine Tavares, eles não o merecem. Emprego nunca falta para quem é profissional de qualidade, e um dia, quando aos 80 anos você for um cavalheiro que ninguém conseguirá ver como um velhinho, como Mário Lago você poderá dizer que nunca ficou na calçada, que sempre esteve junto com a banda quando ela passou! No seu patrimônio haverá sua história de lutas, sua história de profissional da melhor qualidade, sua história de testemunha das mudanças da humanidade. Aqueles policiazinhos que lhe prenderam (inclusive os P2, quer dizer, os à paisana)? Um tal de jornal Diário Catarinense? Acho que ninguém mais vai lembrar – cada um cava a sua sepultura conforme vai caminhando. Como os tais que prenderam e demitiram Mário Lago.
Vai fundo, Sarará! Tem gente de monte contigo! Afinal, nos peitos onde ainda batem corações as bandas é que são o grande sucesso!
* Escritora de Blumenau/SC, historiadora e doutoranda em Geografia pela UFPR
De fato, ser comparado a Mário Lago não é pouca coisa. Há várias características que admiro, como a inteligência por exemplo, mas a coragem aliada a coerência, mais do que admiração, emociona-me.
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