terça-feira, 1 de março de 2011




Do céu e mais

* Por Evelyne Furtado



A janela do meu quarto me oferecia um céu inteiro. De súbito um edifício cortou-me um pedaço de céu. O prédio não se fez em um dia, porém só o percebi ontem à tarde, o que me levou a pensar no quanto estou desatenta ao que me rodeia.
Indaguei sobre o que pensava enquanto os operários erguiam o grande edifício: Será que prestava mais atenção aos vazios deixados pelas casas demolidas na vizinhança para erguer novas edificações ou, mesmo, aos meus próprios vazios? Será que me fixava em palavras e saudades? Será que me esforçava para aprender novos conceitos?
Talvez todas essas alternativas acrescidas a uma e outra preocupação expliquem o meu descaso com o céu recortado à minha revelia. As reflexões se multiplicaram e eu, ansiosa, já me antecipava a pensar que logo iriam me tirar mais céu.
Foi quando me forcei a contemplar a paisagem que tenho agora e que é feita de presente, saudades e vontades futuras.
No momento escrevo e assisto a uma entrevista com o poeta Ferreira Gullar e ele diz coisas preciosas. Começo a dividir a atenção entre o texto e o poeta. Ele ganha fácil. É conveniente parar por aqui.

• Poetisa e cronista de Natal/RN

4 comentários:

  1. Evelyne,
    Também sou muito distraído. Mas algumas coisas me fazem focar a atenção e mergulhar de cabeça, única e exclusivamente na experiência que se apresenta. Seus textos, por exemplo. Um beijo pra você.

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  2. Ouçu um poema musicado de Ferreira Gullar enquanto leio atentamente seu texto. Coincidência boa! Beijos!

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  3. Atenta ao carinho de vocês, sempre. Beijos e obrigada, Marcelo e Sayonara.

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  4. "A janela do meu quarto me oferecia um céu inteiro." Diante de muita oferta, nenhum questionamento. O muito nunca é demais, porém quendo perdemos, vêm muitas perguntas. Dizia a minha sábia mãe: " Não é fácil passar da sela para a cangalha". Daí, Evelyne, você buscar outras compensações como a poesia e as falas dos intelectuais para cobrir esses espaços sem céu.

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