Conhecimento insuficiente
* Por Pedro J. Bondaczuk
O conhecimento insuficiente de pessoas, coisas ou conceitos, não raro nos leva a cometer trapalhadas dantescas, que se tornam antológicas aos olhos dos amigos e, sobretudo, dos inimigos. São repetidas, e repetidas e repetidas às vezes anos após ocorridas, para nosso profundo constrangimento e, não raro, irritação.
Trocamos, por exemplo, em uma festa, o nome do anfitrião que nos recepciona. Trata-se, claro, de ostensiva mancada. Ou, pior, falamos mal da recepção. Criticamos as comidas e bebidas, por exemplo, e justamente para o dono da casa, que julgávamos fosse outro, não aquele com o qual conversamos.
Quando nos damos conta da papagaiada... É um Deus nos acuda! Não sabemos onde enfiar a cara. Gostaríamos, então, que o chão se abrisse, num buraco enorme e bem fundo, para que nele pudéssemos nos esconder de modo a que ninguém note nosso constrangimento.
Trago esse assunto à baila não para criticar o comportamento alheio, o de quem quer que seja, mas o meu, embora, por tabela, também critique, claro, quem age com essa mesma imprudência, de querer opinar sobre o que conhece mal, ou de que, virtualmente, não sabe nada. Invariavelmente, se dá mal.
Ainda quando aprendemos alguma coisa com essas mancadas, há algum saldo positivo a extrair da trapalhada. Agiremos, provavelmente, com mais prudência em ocasiões semelhantes. O pior é quando repetimos as mesmíssimas gafes, embora com pessoas diferentes e em circunstâncias igualmente diversas. E isso acontece amiúde com alguns.
Há uma propaganda na televisão, do “Mercado Livre ponto com”, que ilustra a caráter esse tipo de situação. Ela mostra um sujeito em uma festa de casamento de uma família grega. Na recepção, após os cumprimentos de praxe aos noivos, e dos vários brindes erguidos, um conjunto começa a tocar músicas típicas desse país mediterrâneo. Aos poucos, os presentes perdem a timidez e começam a dançar.
Uma das pessoas presentes pega um prato e joga-o com toda força ao chão. Lógico, este se espatifa, espalhando cacos por todos os lados. Outros convidados imitam o primeiro e fazem o mesmo. Ao canto, está o personagem central da propaganda, olhando, assustado, aquela “esbórnia”.
Mas a quebradeira de pratos continua cada vez mais animada e se generaliza. O chão está repleto de cacos. E as pessoas continuam a quebrar a louça, com crescente vigor. Estimulado pelo pai da noiva, o tal sujeito (que certamente não conhece esse costume grego, ou sabe o insuficiente a respeito), resolve imitar os demais.
Pega um prato, joga-o com toda força ao chão e observa a reação dos presentes. Esperava censura, mas, em vez disso, todos o aplaudem entusiasticamente. Isso o anima. Ainda ressabiado, quebra um segundo prato e olha de novo para todos os lados para ver no que isso vai dar. Novamente é aplaudido.
Não tem mais dúvidas: começa a jogar no chão prato após prato. Quando estes acabam, faz o mesmo com as preciosas taças de cristal importadas, raríssimas e sumamente caras. Desta vez, nem olha para os lados. Continua quebrando tudo o que vê à sua frente: jarras, sopeiras, travessas, um computador, a televisão de plasma... Só então, percebe que a música parou e que todos o olham com ar de suprema reprovação, como que querendo esganá-lo. Pelo menos os donos da festa, certamente, queriam.
Nosso personagem, ao ver a quebra de pratos, achou que essa família era maluca e queria ver todos os objetos da casa quebrados. Não queria, é óbvio. Mas o tal sujeito, ao chegar à festa, não sabia nada dos costumes gregos. Passou a saber, mas de forma insuficiente, assim que o primeiro prato foi quebrado. Acabou, pois, não apenas dando um vexame danado, mas tendo que ressarcir a família dos prejuízos que causou.
Quantos de nós já não passamos por constrangimentos semelhantes, ou até piores, rigorosamente por culpa da nossa ignorância? Sei de alguém, por exemplo, que tratou um escocês, a quem foi apresentado numa recepção, de “minha senhora”. Alertado para a gafe que havia cometido, cochichou para o amigo que o advertiu: “Como eu ia saber? O sujeito, além de ter os cabelos compridos, usava saia!”.
E essa foi verdadeira. Não se trata de invenção deste cronista, estejam certos, embora seja um episódio tão insólito, que mal dá para acreditar. Não vou, claro, revelar o nome de quem deu essa mancada, para não juntar mais uma trapalhada ao meu vasto repertório de gafes.
Quando participarmos, pois, de uma conversa em que o assunto tratado não seja da nossa especialidade, manda o bom-senso que nos abstenhamos de opinar a respeito. Afinal, em boca fechada nunca entra mosquito. Caso venhamos a ser instados a dar uma opinião, não custa ter a humildade de confessar que não sabemos do que se trata. Não é demérito algum não conhecer determinados assuntos. Feio é sair por aí, como um incorrigível boquirroto, exalando besteiras por todos os poros.
Quando formos convidados para uma festa (ou mesmo quando entrarmos em alguma de “bicão”), convém que nos informemos antes sobre quem é o anfitrião, do que ele gosta, qual é o seu nome, quais são seus costumes e coisas assim, comezinhas e elementares. E se virmos os convidados agindo, como os da propaganda do Mercado Livre agem, não saiamos imitando os outros, a torto e a direito, como macacos. Busquemos saber do que se trata, antes de entrarmos na brincadeira. Simples assim!
* Jornalista, radialista e escritor. Trabalhou na Rádio Educadora de Campinas (atual Bandeirantes Campinas), em 1981 e 1982. Foi editor do Diário do Povo e do Correio Popular onde, entre outras funções, foi crítico de arte. Em equipe, ganhou o Prêmio Esso de 1997, no Correio Popular. Autor dos livros “Por uma nova utopia” (ensaios políticos) e “Quadros de Natal” (contos), além de “Lance Fatal” (contos) e “Cronos & Narciso” (crônicas). Blog “O Escrevinhador” – http://pedrobondaczuk.blogspot.com. Twitter:@bondaczuk
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* Por Pedro J. Bondaczuk
O conhecimento insuficiente de pessoas, coisas ou conceitos, não raro nos leva a cometer trapalhadas dantescas, que se tornam antológicas aos olhos dos amigos e, sobretudo, dos inimigos. São repetidas, e repetidas e repetidas às vezes anos após ocorridas, para nosso profundo constrangimento e, não raro, irritação.
Trocamos, por exemplo, em uma festa, o nome do anfitrião que nos recepciona. Trata-se, claro, de ostensiva mancada. Ou, pior, falamos mal da recepção. Criticamos as comidas e bebidas, por exemplo, e justamente para o dono da casa, que julgávamos fosse outro, não aquele com o qual conversamos.
Quando nos damos conta da papagaiada... É um Deus nos acuda! Não sabemos onde enfiar a cara. Gostaríamos, então, que o chão se abrisse, num buraco enorme e bem fundo, para que nele pudéssemos nos esconder de modo a que ninguém note nosso constrangimento.
Trago esse assunto à baila não para criticar o comportamento alheio, o de quem quer que seja, mas o meu, embora, por tabela, também critique, claro, quem age com essa mesma imprudência, de querer opinar sobre o que conhece mal, ou de que, virtualmente, não sabe nada. Invariavelmente, se dá mal.
Ainda quando aprendemos alguma coisa com essas mancadas, há algum saldo positivo a extrair da trapalhada. Agiremos, provavelmente, com mais prudência em ocasiões semelhantes. O pior é quando repetimos as mesmíssimas gafes, embora com pessoas diferentes e em circunstâncias igualmente diversas. E isso acontece amiúde com alguns.
Há uma propaganda na televisão, do “Mercado Livre ponto com”, que ilustra a caráter esse tipo de situação. Ela mostra um sujeito em uma festa de casamento de uma família grega. Na recepção, após os cumprimentos de praxe aos noivos, e dos vários brindes erguidos, um conjunto começa a tocar músicas típicas desse país mediterrâneo. Aos poucos, os presentes perdem a timidez e começam a dançar.
Uma das pessoas presentes pega um prato e joga-o com toda força ao chão. Lógico, este se espatifa, espalhando cacos por todos os lados. Outros convidados imitam o primeiro e fazem o mesmo. Ao canto, está o personagem central da propaganda, olhando, assustado, aquela “esbórnia”.
Mas a quebradeira de pratos continua cada vez mais animada e se generaliza. O chão está repleto de cacos. E as pessoas continuam a quebrar a louça, com crescente vigor. Estimulado pelo pai da noiva, o tal sujeito (que certamente não conhece esse costume grego, ou sabe o insuficiente a respeito), resolve imitar os demais.
Pega um prato, joga-o com toda força ao chão e observa a reação dos presentes. Esperava censura, mas, em vez disso, todos o aplaudem entusiasticamente. Isso o anima. Ainda ressabiado, quebra um segundo prato e olha de novo para todos os lados para ver no que isso vai dar. Novamente é aplaudido.
Não tem mais dúvidas: começa a jogar no chão prato após prato. Quando estes acabam, faz o mesmo com as preciosas taças de cristal importadas, raríssimas e sumamente caras. Desta vez, nem olha para os lados. Continua quebrando tudo o que vê à sua frente: jarras, sopeiras, travessas, um computador, a televisão de plasma... Só então, percebe que a música parou e que todos o olham com ar de suprema reprovação, como que querendo esganá-lo. Pelo menos os donos da festa, certamente, queriam.
Nosso personagem, ao ver a quebra de pratos, achou que essa família era maluca e queria ver todos os objetos da casa quebrados. Não queria, é óbvio. Mas o tal sujeito, ao chegar à festa, não sabia nada dos costumes gregos. Passou a saber, mas de forma insuficiente, assim que o primeiro prato foi quebrado. Acabou, pois, não apenas dando um vexame danado, mas tendo que ressarcir a família dos prejuízos que causou.
Quantos de nós já não passamos por constrangimentos semelhantes, ou até piores, rigorosamente por culpa da nossa ignorância? Sei de alguém, por exemplo, que tratou um escocês, a quem foi apresentado numa recepção, de “minha senhora”. Alertado para a gafe que havia cometido, cochichou para o amigo que o advertiu: “Como eu ia saber? O sujeito, além de ter os cabelos compridos, usava saia!”.
E essa foi verdadeira. Não se trata de invenção deste cronista, estejam certos, embora seja um episódio tão insólito, que mal dá para acreditar. Não vou, claro, revelar o nome de quem deu essa mancada, para não juntar mais uma trapalhada ao meu vasto repertório de gafes.
Quando participarmos, pois, de uma conversa em que o assunto tratado não seja da nossa especialidade, manda o bom-senso que nos abstenhamos de opinar a respeito. Afinal, em boca fechada nunca entra mosquito. Caso venhamos a ser instados a dar uma opinião, não custa ter a humildade de confessar que não sabemos do que se trata. Não é demérito algum não conhecer determinados assuntos. Feio é sair por aí, como um incorrigível boquirroto, exalando besteiras por todos os poros.
Quando formos convidados para uma festa (ou mesmo quando entrarmos em alguma de “bicão”), convém que nos informemos antes sobre quem é o anfitrião, do que ele gosta, qual é o seu nome, quais são seus costumes e coisas assim, comezinhas e elementares. E se virmos os convidados agindo, como os da propaganda do Mercado Livre agem, não saiamos imitando os outros, a torto e a direito, como macacos. Busquemos saber do que se trata, antes de entrarmos na brincadeira. Simples assim!
* Jornalista, radialista e escritor. Trabalhou na Rádio Educadora de Campinas (atual Bandeirantes Campinas), em 1981 e 1982. Foi editor do Diário do Povo e do Correio Popular onde, entre outras funções, foi crítico de arte. Em equipe, ganhou o Prêmio Esso de 1997, no Correio Popular. Autor dos livros “Por uma nova utopia” (ensaios políticos) e “Quadros de Natal” (contos), além de “Lance Fatal” (contos) e “Cronos & Narciso” (crônicas). Blog “O Escrevinhador” – http://pedrobondaczuk.blogspot.com. Twitter:@bondaczuk
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O que comprar:
Cronos e Narciso (crônicas, Editora Barauna, 110 páginas) – “Nessa época do eterno presente, em que tudo é reduzido à exaustão dos momentos, este livro de Pedro J. Bondaczuk reaviva a fome de transcendência! (Nei Duclós, escritor e jornalista). – Preço: R$ 23,90.
Lance fatal (contos, Editora Barauna, 73 páginas) – Um lance, uma única e solitária jogada, pode decidir uma partida e até um campeonato, uma Copa do Mundo. Assim como no jogo – seja de futebol ou de qualquer outro esporte – uma determinada ação, dependendo das circunstâncias, decide uma vida. Esta é a mensagem implícita nos quatro instigantes contos de Pedro J. Bondaczuk neste pequeno grande livro. – Preço: R$ 20,90.
Como comprar:
Pela internet – WWW.editorabarauna.com.br – Acessar o link “Como comprar” e seguir as instruções.
Em livraria – Em qualquer loja da rede de livrarias Cultura espalhadas pelo País.
Cronos e Narciso (crônicas, Editora Barauna, 110 páginas) – “Nessa época do eterno presente, em que tudo é reduzido à exaustão dos momentos, este livro de Pedro J. Bondaczuk reaviva a fome de transcendência! (Nei Duclós, escritor e jornalista). – Preço: R$ 23,90.
Lance fatal (contos, Editora Barauna, 73 páginas) – Um lance, uma única e solitária jogada, pode decidir uma partida e até um campeonato, uma Copa do Mundo. Assim como no jogo – seja de futebol ou de qualquer outro esporte – uma determinada ação, dependendo das circunstâncias, decide uma vida. Esta é a mensagem implícita nos quatro instigantes contos de Pedro J. Bondaczuk neste pequeno grande livro. – Preço: R$ 20,90.
Como comprar:
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A minha mãe ensinava que diante de algo novo, diferente e inesperado, deveríamos ficar quietos e observar como os outros agiam. Além de mais conveniente, os riscos são bem menores.
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