segunda-feira, 26 de julho de 2010




Parece mentira

* Por Renato Manjaterra

Todo mundo sabe que eu não aguento mais ver o André jogando na Ponte. Ele é remanescente daquele grupinho podre que desandou aquela Ponte Campeã do Interior de 2009. Aquele grupinho de pés-de-cana que acham que a Ponte Preta é um Grêmio Prudente que tem torcida mista, paga um salarião, está numa grande cidade, com muitas mulheres e lugares legais para curtir...

Pois hoje, chegando ao Majestoso, o Rodrigol me perguntou do meu Zé, que está com cinco anos. Contei porque o Zé não tinha ido, mas fiquei com a sensação de que ele não acreditou. Ele deve ter ficado achando que eu tava de pegação no pé no pereba. Mas foi exatamente assim que aconteceu:

Férias escolares do Zé e os primos dele vieram de Curitiba passar uns dias, e tinha jogo da Ponte. A mãe dos primos não deixa eles irem no estádio e o Zé estava com saudade, querendo brincar com eles.

Pois bem, eu estava com saudade era do Majestoso, de ver a Ponte jogar do meio da muvuca. Último jogo tava chovendo e eu fiquei no "cobertinho". E queria ir com o Zé. Fui buscar ele na casa da vó e, depois de algum debate, ele resignou, se despediu do primo e fomos para o Majestoso. Dei a volta na quadra e parei no posto para colocar gasolina enquanto ele trocava de camisa, pela da Ponte.

Ele tirou a camisa, pegou o mantinho sagrado dele e me perguntou: “Pai, quem é o DEZ da Ponte?” Pensei no André, naquela noite que ele dançou na marquise como um campeão depois de ter enchido a cara e ido chafurdar na Anhanguera ou na Bandeirantes... aquela fitinha toda.
Lembrei da pubialgia dele, dos meses e meses de salário para ele se tratar no departamento médico. Lembrei da entrevista do Carnielli dizendo que ele ia voltar e ia ficar tudo bem. Lembrei de terem visto ele na Apô, na Gold, no Itatinga... Lembrei em silêncio claro.
O frentista veio me entregar a chave e eu lembrei que estava conversando com o Zé:
“Filho, você quer ir brincar com o Antonio e com o Henrique?” “Claro”.
Dei a volta e, do posto mesmo, voltei à casa da vó para deixar ele. Eu tenho obrigação de acreditar nesse time. Ele tem obrigação de ser mais inteligente.


Nota do Editor: Texto que reflete a maneira de pensar do torcedor autêntico, genuíno e fiel, que não é do tipo “ocasional” , mas é participante e efetivo, que freqüenta o estádio e faz qualquer tipo de sacrifício pelo bem do seu time do coração.

* Jornalista e escritor, webdesigner, colunista esportivo, pontepretano de quatro costados, autor do livro “Colinas, Pará” com prefácio do Senador Eduardo Suplicy, bacharel em Comunicação Social pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas – PUCAMP, blog http://manjaterra.blogspot.com

6 comentários:

  1. O Zé tem sorte e um dia irá entender a sua paixão, talvez seja igual a ti.
    Gostei da sua estratégia, mais vale o Zé.
    Abração da amiga exilada.
    Adorei seu texto.

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  2. Zé é muito pequeno para ir ao estádio, mas pai fanático nem pensa, quando vê já fez.

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  3. O Zé vai desde os 4 meses de nascido. Aliás, ia antes de nascer, dentro da mãe dele. Já foi em dérbi, Vila Belmiro, Bragança, Itu, Jundiaí, Barueri, Guaratinguetá, Rio Claro, Americana, Santa Bárbara, São Paulo. E graças a Deus sempre estivemos na melhor das Companhias (Torcida da Ponte Preta) e em segurança. Sempre.

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  4. Digo isso, Mara, só para que descarte o pouco crédito que possa ter dado a minha opinião.

    Nubia, onde anda exilada?

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  5. Fantástico !!! É isso mesmo !!! Embora o Zé já tenha nascido com o sangue preto e branco, pelo menos dessa fase ruim é bom poupá-lo...

    Afinal de contas, como explicar para uma criança de 05 anos que a camisa que já foi do "Mestre" Dicá, está com o André "Piriguete" agora ???

    Isso é lamentável...

    PS: Tem uma foto nossa na arquibancada do templo sagrado "Majestoso" nesse dia... flw

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