sexta-feira, 30 de julho de 2010


Campeão moral

Caros leitores, boa tarde.
O desfecho da fase de quartas de final da Copa do Mundo de 1978, na Argentina, foi a segunda maior frustração que já tive com o futebol, envolvendo a Seleção Brasileira, maior, até, do que aquela de 1982, conhecida como o “Desastre do Sarriá”, ou seja, a nossa eliminação, pela Itália, do Mundial da Espanha. Só não superou, mesmo, o “Maracanazo” de 1950. Essa continua liderando esse indigesto ranking.
Depois de superar os obstáculos e armadilhas da primeira fase, o Brasil bem que mereceria melhor sorte. Nas oitavas, além de jogar mal (é mister que se reconheça), teve que encarar o horroroso gramado de Mar Del PLata. Já na primeira partida, foi prejudicado por um clamoroso erro de arbitragem, ou seja, pela anulação de um gol legítimo que daria a vitória sobre a Suécia.
Se houve uma seleção que não merecia se classificar para a final, essa foi a anfitriã da Copa. Sempre admirei e respeitei o futebol argentino, mas quando de fato jogado. O jornalista Orlando Duarte, em sua excelente “Enciclopédia dos Mundiais de Futebol”, lembra um fato que me havia fugido da memória. Escreve: “Passaram, também, para a outra fase, no Grupo 1, Itália e Argentina, com sérias reclamações, e justas, de franceses e húngaros, prejudicados em seus jogos contra os argentinos. Na partida contra a França, Dubacha, da Suíça, deixou de marcar um pênalti clamoroso contra a Argentina. Estes, que já haviam perdido para a Itália e ganhado mal da Hungria, não passariam das oitavas. Foram classificados sob suspeita!”.
O Brasil estreou nas quartas de final – naquele tempo não havia semifinais – em 14 de junho, na cidade de Mendoza, contra o Peru, com arbitragem do romeno Nicolae Rainea. Num gramado decente, o futebol da Seleção fluiu e ela venceu por 3 a 0, com dois gols de Dirceu e um de Zico, na cobrança de pênalti.
Cláudio Coutinho mandou a campo os seguintes jogadores: Leão, Toninho, Oscar, Amaral e Rodrigues Neto; Batista, Toninho Cerezo (Chicão) e Dirceu; Gil (Zico), Jorge Mendonça e Roberto Dinamite. A Argentina, por seu turno, derrotou a Polônia, na cidade de Rosário, por 2 a 0.
Brasileiros e argentinos iriam se enfrentar na sequência, num jogo que poderia decidir quem iria para a Final, para disputar o título. Poderia... Mas não decidiu.
Orlando Duarte revela um episódio pitoresco que antecedeu essa partida. “...O dr. Lídio de Toledo queria saber dos paulistas se Chicão, que ia entrar na partida, não sentiria a pressão. Um paulista respondeu: ‘Quem jogou em Piracicaba, disputou o certame de São Paulo, não sente nada em nenhum campo do mundo’. Chicão jogou, e muito bem...”
O jogo contra a Argentina, disputado em Rosário, apitado pelo húngaro Karoly Palotai, foi, como seria de se esperar, muito tenso e parelho. O resultado foi justíssimo: 0 a 0. Ninguém foi superior a ninguém.
Cláudio Coutinho mandou a campo: Leão, Toninho, Oscar, Amaral e Rodrigo Neto (Edinho); Batista, Chicão e Dirceu; Jorge Mendonça (Zico), Gil e Roberto Dinamite.
O último jogo do Brasil, dessa fase, foi disputado em 21 de junho, em Mendoza, contra a Polônia, com arbitragem do chileno Juan Silvagno. Jogando com propriedade, nossa seleção se impôs sobre a polonesa e devolveu a derrota de quatro anos antes na Alemanha (por 1 a 0), só que desta vez por 3 a 1. Nelinho e Roberto Dinamite (2) fizeram os gols brasileiros. Lato, a exemplo de 1974, fez o da Polônia.
O Brasil jogou com: Leão, Nelinho, Toninho, Oscar e Amaral; Batista, Toninho Cerezo (Rivelino) e Dirceu; Zico (Jorge Mendonça), Gil e Roberto Dinamite.
A classificação brasileira para a final estava “quase” assegurada. A Argentina, para nos desbancar, teria que vencer o Peru por 4 a 0. Nem o mais fanático torcedor argentino acreditava que isso fosse possível. Os peruanos haviam ficado invictos na fase anterior. Fizeram sete gols e sofreram dois. Na Copa de 1970, haviam eliminado a Argentina, quando seu técnico era o brasileiro Didi.
Mas o improvável aconteceu. E esse resultado gera controvérsias até hoje. Orlando Duarte revela o primeiro indício de que poderia ter havido “marmelada”: “O Mundial de 78 apresentou uma situação que sofreu reparos de todos. É que o Brasil jogou contra a Polônia à tarde, em Mendoza, e a Argentina, conhecendo o resultado, jogou à noite, em Rosário, goleando o Peru por 6 a 0”.
E o excelente jornalista diz mais: “Lembre-se de que o Peru ficou invicto na primeira fase, marcando sete gols e sofrendo dois. Nessa noite, a 21 de junho, tomou seis gols! O goleiro era argentino (Quiroga) e muita gente garante que os peruanos entregaram o ouro. Foram recebidos com pedras pela torcida do seu país ao retorno”.
Apesar de vítima dessa imensa “marmelada”, o Brasil despediu-se dignamente da Copa, ao derrotar, em 24 de junho, a Itália, no Estádio Monumental de Nuñes, em Buenos Aires, por 2 a 1, com gols de Nelinho e Dirceu, e ficou com o terceiro lugar.
Mas vocês pensam que a imprensa e a torcida reconheceram o bom desempenho da Seleção? Não, não e não!!! Choveram críticas e deboches nos atletas e, principalmente, no treinador. Fui dos poucos que não ridicularizaram Cláudio Coutinho, quando afirmou que o Brasil foi “campeão moral” em 1978. Precisavam de mais provas para isso? Quem é bem-informado, consciente e justo, fica ou não fica inconformado, e sumamente frustrado, com tanta, e tão ostensiva armação?

Boa leitura.

O Editor.

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