quinta-feira, 14 de janeiro de 2010




Gente famosa é outra coisa!

* Por Fernando Yanmar Narciso

Existe uma série de coisas que, se a semana passar sem que eu as faça, ela terá sido completamente perdida: desenhar, trabalhar com meu pai no AUTOCAD, ir à academia, comer um sanduba quilométrico no Subway pelo menos umas três vezes, e é claro “auto-análise”. Sem dúvida, as mais indispensáveis são parar tudo que eu estiver fazendo às 10 da noite às Terças e Sextas para ficar colado à TV. Ás terças, tem o já tradicional Casseta & Planeta Urgente. Acompanho os veteranos do humor trash desde que o programa começou em 92. Não importa quão ruim o programa tem sido ultimamente, eu não perco uma única edição. Nas Sextas, eu vejo uma das melhores pérolas da TV a cabo, o programa The Soup, apresentado pelo ítalo-irlandês Joel McHale, no canal de celebridades E!

Está no ar há mais tempo que os Cassetas, tendo já se tornado uma verdadeira instituição entre as figurinhas carimbadas do canal, o formato desse programa delicioso é fácil de imaginar. Pensem no que daria se Wagner Montes ou Leão Lobo resolvessem integrar a equipe do CQC ou do Pânico, e terão mais ou menos uma idéia do que me atrai tanto nele. Num formato que imita/parodia os programas de fofoca, ele mostra clipes de programas de entrevistas, reality shows, telejornais, filmes B, séries e virais da internet, apontando sempre os micos de celebridades e participantes de realitys e momentos bizarros da TV por assinatura americana, sempre fazendo comentários ácidos e devastadores a respeito deles.

Tudo é feito a orçamento quase zero e com atmosfera de produção universitária, em frente a um cenário kitsch renderizado em chroma-key, com participação ativa dos “estagiários” do programa, sendo os mais famosos Mankini – que como o próprio nome já diz, é um homem que usa um top de biquíni – e Matt, que é “morto” por Joel quase toda semana. Menção honrosa ao surrealíssimo “gato comendo espaguete”, que aparece de vez em quando pra fazer... Nada.

Um dos alvos favoritos de Joel é Ryan Seacrest, apresentador da casa, que é menor que o Romário e ganha o maior salário da emissora. De vez em quando, Joel e os estagiários atuam em “reconstituições” zoadas de momentos dos programas que eles zoam e recebem visitas dos próprios atores e apresentadores, interpretando versões estereotipadas deles mesmos.

Apesar do compromisso da atração ser com a comédia, acaba sendo muito informativo. Graças a ele me caiu a ficha que a Helena de Taís “tempestade de lágrimas” Araújo é uma sósia da Tyra Banks, ex-modelo negra que exige ser tratada como branca e se considera um ser único no universo. Se não fosse por ele, eu jamais ficaria conhecendo as pragas que assolam o mundo contemporâneo, como Lindsay Lohan – a qual o Kibeloco já fez a seguinte pergunta: QUEM É ESSA VACA DESSA LINDSAY LOHAN QUE APARECE TODO DIA NO GLOBO.COM? – Jonas Brothers, os carinhas que querem perder a virgindade só depois de casar – sei... – Miley Cyrus, a feinha mais bonita da Disney; a patricinha de um rosto só Paris Hilton; Amy Winehouse; o “federalmente declarado” imbecil Kanye West; dentre outras celebridades com as quais brasileiro nenhum devia se importar.

Enfim, esse é meu programa para as noites de Sexta. Mesmo que ele reprise duas vezes no fim de semana, sinto-me forçado a assistir assim que sai do forno. Já perdi a conta de quantas vezes recusei sair à noite pra assistir o The Soup. Mesmo que eu nunca tenha visto mais gorda quase nenhuma das personalidades que ele esculacha toda semana, o programa vicia tanto quanto boates de strip-tease e heroína.

Apesar de rir à beça das estripulias de Joel e sua trupe, costumo analisar o produto que ele nos vende com certa frieza. Já pararam para analisar como o culto às celebridades mudou com o passar das décadas? O que antigamente costumava ser uma tragédia para o artista, sua família e seus fãs, agora é tratado como farra, como se eles pudessem fazer qualquer coisa e a lei não se aplicasse a eles. Ver a Britney raspando a cabeça, pondo chapéu, óculos e peruca para comprar drogas, levando os filhos no banco da frente do carro sem cinto e enfiar um guarda-chuva no vidro de um carro devia nos fazer sentir pena dela, em vez de dizer VAI, BRITNEY! A maioria desses chamados “escândalos” na maioria das vezes é tão irreal que tá na cara que saíram da mente de algum marqueteiro ou de um roteirista contratado. Olha a Amy, que antes de virar um Jim Morrison de saia, quando gordinha dava até um caldo. E a Lady GaGa, que na realidade só se veste como a replicante vivida por Daryl Hannah em Blade Runner, e não tem a menor idéia de quem realmente é. Quando ela “sangrou” durante uma apresentação, no melhor estilo KISS, Joel sapecou: “Tem uma boa possibilidade desse sangue ser verdadeiro”.

O caso é que nossas vidas tornaram-se tão vazias e estéreis que assistir a qualquer coisa que fuja de leve do standard, mesmo que seja fabricada, nos é atrativo. Já que os músicos de hoje não conseguem faturar uma pistusa com a venda de discos, resolveram apelar em definitivo à imagem pessoal para chamar atenção da mídia. Pois eu digo: Continuem assim, famosos sem razão! Enquanto vocês continuarem fazendo suas besteiras, Joel não perderá seu emprego e eu sempre terei um motivo para gargalhar ao término da semana!

* Fernando Yanmar Narciso, 25 anos, formado em Design, filho de Mara Narciso, escritor do blog “O Blog do Yanmar”, http://fernandoyanmar.wordpress.com




3 comentários:

  1. Eu não conseguiria assistir a tamanha sandice, mas há quem goste, senão não existiria e nem daria IBOPE. Termos cadeira cativa em alguns acontecimentos surpreende até a nós mesmos.

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  2. Na boa, Casseta e Planeta há muito não assisto.
    Gosto do CQC e quando meu filho asiste ao pânico
    ainda consigo rir do Ceará imitando a Marília Gabriela.
    Não curto muito esses programas que se deliciam com as tragédias dos famosos.
    Adorava a TV Pirata!
    Abraços

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  3. Ah, sim, TV Pirata era coisa de gênio, mas o resto ... O que estranho é que de uns tempos pra cá, pra vc rir, eu tenho de pagar mico, todo mundo tem de se mostrar superdescontraído, super à vontade, sem estranhar o bizarro e o escatológico, como se naturais às nossas vidas. Eu, hein! E o Bial "filosofando" com as aberrações do BBB? O que não se faz por um bom salário e aumento de prestígio, né?

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