domingo, 31 de janeiro de 2010




Neurose nossa de cada dia

* Por Pedro J. Bondaczuk


O nosso cérebro é uma das estruturas mais fantásticas e misteriosas que existem e, por isso, é a que requer maior cuidado para que se tenha uma vida saudável, equilibrada e produtiva. Não há nada no mundo que se compare, ou que rivalize, com o seu funcionamento. Seu potencial é tão grande, que se torna impossível de delimitar até onde vai.

É o cérebro que rege a totalidade dos nossos atos – voluntários e involuntários; conscientes e inconscientes. Tanto a Medicina, quanto o Direito, estão de pleno acordo que é nele que se localiza a verdadeira “sede” da vida. Por essa razão, para efeito de doação de órgãos com vistas a transplantes, a morte do possível doador é legalmente definida não quando o coração pára de pulsar, mas quando a atividade cerebral cessa.

O cérebro tem a capacidade de promover a cura de um sem-número de doenças, de aplacar as piores dores e de operar tantas e tantas outras maravilhas, desde que corretamente estimulado. Por exemplo, através de uma técnica chamada de Visualização, é possível tratar males graves e crônicos, além de curar medos e vícios. Nos Estados Unidos, o método é usado amplamente, há anos, na preparação de atletas, com sucesso total.

Em contrapartida, o mesmo cérebro, que tem tamanho potencial curativo, pode causar (ou agravar) severos desarranjos comportamentais, que findam por afetar também o restante do organismo, em caso de mau-funcionamento, e causar doenças de difícil cura ou até mesmo fatais. É o caso específico, por exemplo, das várias neuroses, que afetam parcela considerável da população mundial, e que provocam sofrimentos, constrangimentos e prejuízos incalculáveis aos que são afetados por elas.

Alguns cérebros são resistentes à maioria dos vários tipos de agressões psicológicas externas do cotidiano a que todos estamos sujeitos. Proporcionam, dessa forma, aos seus detentores, reações equilibradas, compatíveis a quaisquer circunstâncias traumáticas e/ou tensionantes que venham a enfrentar. Reagem, de maneira espontânea, no sentido de contornar esses perigos racionalmente e assegurar, dessa forma, a saúde e a felicidade às pessoas consideradas resistentes. Outros, no entanto, são vulneráveis a esses mesmos estímulos. E a ciência sequer sabe explicar a razão porque uns resistem, e até saem fortalecidos das agressões psicológicas do cotidiano, e outros não.

Tecnicamente, a neurose não é doença. É, sim, uma reação anormal, exagerada, do sistema nervoso, em relação a uma experiência vivida (reação vivencial). É, pois, uma maneira de a pessoa ser e de reagir à vida. Pode ser evitada mediante um comportamento positivo, em que se cultive o bom-humor, a alegria, a esperança e a fé. O problema, na maioria das vezes, é de natureza constitucional. Ou seja, o neurótico é mais sensível do que o normal a determinadas situações ou acontecimentos. É como se tivesse alguma espécie de alergia, só que, no caso, de caráter psicológico. Por isso, não se pode dizer que a pessoa “está” neurótica, mas que “é” neurótica. Mesmo que não manifeste essa reação, ela pode ser deflagrada a qualquer momento, face a determinadas situações. Há pessoas potencialmente sujeitas às neuroses e que, no entanto, não as manifestam a vida toda. E há outras que convivem com esse desajuste desde a infância e não se livram nunca dele.

A maneira exagerada de reagir leva o indivíduo a adotar uma série de comportamentos que fogem da normalidade. Evita, por exemplo, determinados lugares e recorre a certas práticas para aliviar a ansiedade, entre outras tantas coisas inusitadas e, por isso, anormais, que faz. O neurótico tem plena consciência do seu estado, mas, muitas vezes, sente-se impotente para modificá-lo, o que só multiplica a sua angústia, o seu desespero e o seu sofrimento.

Um dos principais tipos de neurose é o chamado “Transtorno Fóbico-Ansioso”. Caracteriza-se pela prevalência da fobia (medo exagerado de determinadas coisas ou situações), entre outros sintomas de patológica ansiedade. As mais comuns são, entre tantas, as de ficar só, as de trovoadas, as de contrair doenças e as de cometer pecados. Os especialistas, contudo, já catalogaram mais de 700 fobias e acreditam que existam mais de mil delas.

Outra forma de neurose é o “Transtorno Ansioso”. Trata-se de uma ansiedade intensa e persistente, que traz sérios e profundos reflexos orgânicos. Algumas pessoas podem ter, por exemplo, sintomas cardiovasculares, como palpitações, sudorese ou opressão no peito. Outras manifestam reações gastrointestinais, como náusea, vômito ou vazio no estômago. Outras, ainda, sentem profundo mal-estar respiratório ou predomínio de tensão muscular exagerada, tipo espasmo, torcicolo e lombalgia. Como se vê, a sintomatologia é das mais variadas. Psicologicamente, a ansiedade pode comprometer desde a atenção e a memória do paciente dessa espécie de anomalia, até a sua capacidade de interpretação fiel da realidade.

A “Histeria”, por sua vez, é um tipo de neurose que tem, como sintoma principal, a teatralidade, a sugestionabilidade, a necessidade de atenção constante e a manipulação emocional das pessoas que convivem ou que estejam ao redor do neurótico. O histérico pode desmaiar, ficar paralítico, sem fala, trêmulo e desempenhar todo tipo de papel de doente.

Já os “Transtornos do Espectro Obsessivo-Compulsivo” têm, como principal reação, a incapacidade da pessoa de controlar manias e rituais. Os pacientes dessa patologia, entre outras coisas, não conseguem administrar pensamentos desagradáveis e absurdos. Vivem num permanente terror de perigos que, na verdade, são, na maioria, apenas imaginários. Finalmente, entre as neuroses mais comuns, está a “Distimia”, que é a tendência a longos períodos de depressão, que levam o neurótico, não raro, a perder até a vontade de viver e, em casos extremos, a cometer suicídio.

A psicóloga gaúcha, Ana Maria Rossi, autora do livro “Visualização: o sucesso através dos olhos da mente” (Editora Rosa dos Tempos) explica que o cérebro não distingue o real do imaginário. Por isso, ter pensamentos e imagens positivos ajuda conseguir o que se quer. E, se a pessoa for propensa às neuroses, esse comportamento ideal atua como um poderoso, perfeito e eficaz antídoto, capaz de nos assegurar não só absoluta saúde mental, mas, sobretudo, uma vida equilibrada, produtiva, sadia e feliz. Daí eu insistir tanto, nestes nossos periódicos contatos, na necessidade de nunca nos deixarmos levar pela tentação de pensar e, principalmente, de agir com negativismo, com mau-humor e com pessimismo. Esse comportamento equivocado não leva a nada, além de nos expor a riscos que não precisamos correr.


*Jornalista, radialista e escritor. Trabalhou na Rádio Educadora de Campinas (atual Bandeirantes Campinas), em 1981 e 1982. Foi editor do Diário do Povo e do Correio Popular onde, entre outras funções, foi crítico de arte. Em equipe, ganhou o Prêmio Esso de 1997, no Correio Popular. Autor dos livros “Por uma nova utopia” (ensaios políticos) e “Quadros de Natal” (contos), além de “Lance Fatal” (contos) e “Cronos & Narciso” (crônicas), com lançamentos previstos para os próximos dois meses. Blog “O Escrevinhador” – http://pedrobondaczuk.blogspot.com



2 comentários:

  1. Gostaria de ter domínio pleno sobre o teor do pensamento. Estou em permanente treinamento, e melhor a cada dia, mas será que conseguirei?

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  2. Um dia o Zé me explicou que o cérebro
    é poderoso e quando o dominamos por
    inteiro é bem provável que a gente consiga
    realizar tudo o que quisermos.
    Zé é psiquiatra e defende o tratamento sem
    remédios.
    Beijos

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