quarta-feira, 20 de janeiro de 2010


Nossa politicagem festiva

* Por José Calvino de Andrade Lima

Em uma noite qualquer com o tilintar de copos, e o desfile de gente bonita, sarada e saudável. A leve brisa soprando do verde atlântico, com mil flertes e grandes bate-papos, tendo-se a nítida sensação de que estamos no primeiro mundo. A presença de dezenas de carros novos e muitos importados, o cheiro de perfume de qualidade impregna o ambiente. Assim é a cara de alguns bares no Recife e Olinda. Ponto de encontro da nossa classe média, em ambientes sofisticados, com preços inacessíveis à ingente maioria da classe proletária brasileira.

Caracterizando-se pela sua opção de "ricos", onde discutem-se política com relação ao futuro do País. Um point caracterizado pela freqüência dos metidos a ricos e politiqueiros da pior espécie, que de tão longe conhecem os reais problemas nacionais. Os sofisticados coquetéis e um derrame de um bom malte escocês retratam com nitidez toda essa alienação coletiva.

São cartões de crédito, cheques especiais e dinheiro em espécie, com contas astronômicas que dariam para comprar diversas cestas básicas, fugindo em muito à atual realidade da classe trabalhadora, que desconhece os sabores dos filés à parmegiana, dos salmões defumados, casquinha de siri e do caviar. Pessoas que clamam por uma justiça social e melhor divisão de rendas, sem ceder um milímetro em sua qualidade de vida, um festival de hipocrisia que fazem-nos acreditar que vivenciamos uma autêntica democracia festiva, longe, muito longe da atual realidade nacional.

A atual trajetória dos políticos e suas alianças comprometem, e muito, o futuro em prol do social. As velhas raposas políticas estão à espreita para cobrar o seu irrestrito apoio dado ao líder máximo do PT. Não podemos olvidar que a sua ascensão deve-se a um discurso difundido ao longo de sua trajetória política, pela melhoria da qualidade de vida e do resgate da cidadania, com compromissos assumidos com a ingente maioria do povo brasileiro. Voltados aos anseios populares e ao clamor de milhões que depositaram a sua confiança na crença de um novo Brasil. Embasado no crédito de dias melhores, reativando sonhos e elegendo um líder. Tão escasso nos longos 500 anos de nossa história.

A fé popular deve manter-se acima das alianças formuladas em gabinetes refrigerados ou em hotéis de luxo. Os interesses populares devem-se sobrepor a todas as alianças e interesses pessoais ou de grupos políticos, sob pena de jogarmos pelo ralo os sonhos e anseios de milhões de brasileiros. É a hora e o momento de enterrarmos séculos de injustiças, com a construção de uma nova pátria. Fazendo-nos distanciar desta politicagem festiva, que só conhecem o País porque escutam falar, e que estão alheios e alienados da real verdade de penúria desta gigantesca e injusta nação, que amamos, idolatramos chamada Brasil!!!


* Formado em comunicações internacionais, escritor, teatrólogo e poeta, membro da União Brasileira de Escritores, UBE-PE . Como escritor e poeta, tem trabalhos publicados nos jornais: Diário de Pernambuco, Jornal do Commercio, Folha de Pernambuco e em vários sites... Tem 11 títulos publicados, todas edições esgotadas. Recentemente, integrou-se na Antologia (Poetas Independentes).

Obs.: No crédito da crônica "Se limparam ..." (16/01/2010), o nome correto do autor é José Calvino de Andrade Lima, em vez de José Calvino de "Almeida" Lima.

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2 comentários:

  1. Déspotas do novo milênio que seguros
    em sua redoma ainda crêem que ela
    jamais há de ruir.
    Abraços

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  2. Escritor José Calvino:

    Venho lendo várias crônicas e poesias, e como sou sua fã gosto demais a forma como você escreve.
    Endosso o que Nubia disse:
    "Déspotas do novo milênio que seguros em sua redoma ainda crêem que ela jamais há de ruir."
    Realmente, retratas alguns fatos que ocorrem com pessoas metidas a ricas e confundem "coisas" que o povão desconhece totalmente.
    Parabéns.

    Dilma Carras

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