sexta-feira, 15 de janeiro de 2010


Literatura esportiva

Caríssimos leitores, boa tarde.
O Brasil carece de uma literatura esportiva mais farta e vasta, a exemplo do que ocorre nos Estados Unidos. Lá, os principais esportes nacionais, como o beisebol, o basquete e o futebol americano são temas recorrentes e constantes de romances, novelas e contos. As vendas são excepcionais e muitos deles são roteirizados e transformados em filmes por Hollywood.
No Brasil, todavia, sempre que se lança algum livro sobre futebol, a grande paixão nacional, ou é narrando a história de algum clube, quase sempre (salvo raríssimas exceções, dos chamados “grandes”), ou é biografia de algum craque famoso (como a de Rogério Ceni, escrito em parceria com o jornalista André Plihal, da ESPN Brasil), ou histórico das principais competições futebolísticas, como as publicações de Paulo Vinícius Coelho, Juca Kfouri e tantos outros. São obras excelentes, que recomendo sem pestanejar. Mas são poucas.
Alguns técnicos também escreveram, mas sobre táticas e técnicas de treinamento, ou então métodos de motivação. No primeiro caso, destaco Carlos Alberto Parreira, em vias de se tornar o treinador com maior número de participações em Copas do Mundo. No segundo, René Simões, que ainda recentemente tentou a façanha (e não conseguiu) de classificar a seleção da Costa Rica para o Mundial da África do Sul. O time era muito ruim, embora tenha dado um calorão no Uruguai.
Contos, enfocando o esporte preferido (diria irresistível paixão) de 90% dos brasileiros, são raríssimos. Novelas e romances, mais ainda. Ou seja, permanece, quase virgem, um tremendo filão para nossos ficcionistas. Engraçado que, sempre que comento isso com amigos escritores, eles torcem o nariz, como se eu estivesse dizendo a maior besteira do mundo. Não consideram, certamente, o tema “nobre”. Bobagem, deles, claro.
Mesmo livros tipo testemunho pessoal, como os de Washington Olivetto, falando do seu acendrado amor pelo Corinthians, são um tanto raros. O tamanho da torcida corintiana comportaria outras tantas publicações de igual teor e todas esgotariam edições. Insisto, do que sinto falta é de literatura de ficção tendo os esportes como tema.
E nem precisa ser sobre futebol. Hoje o vôlei é a segunda modalidade esportiva nacional, a preferida das mulheres e, no entanto... Potencialmente, poderia gerar histórias e mais histórias, tendo apenas o céu por limite. Poderiam ser, ainda, enfocados outros tantos esportes, ideais para dramas de toda a sorte, como o futsal, por exemplo. Ou como o futebol de areia. Ou como o vôlei de praia. “Não há mercado”, reiteram os céticos. Retruco que há. Que o que falta é imaginação dos escritores.
Por que nos Estados Unidos esse tipo de literatura vende tanto? O tema está entre os cinco mais explorados, tanto pela indústria editorial, quanto pela de entretenimento. Levanto essa lebre porque, daqui a quatro anos, estaremos promovendo nossa segunda Copa do Mundo. Parece longe, mas é engano de quem pensa assim. Quatro anos passam voando. E estejam certos que o futebol será tema da moda daqui até 2014. Por que, pois, não explorar esse rico filão ficcional?
Por falar em Copa, nesta época algumas editoras lançam histórias atualizadas dos diversos mundiais já disputados. O livro mais completo a respeito, que já tive a oportunidade de ler, foi escrito pelo eclético jornalista Orlando Duarte. Uma das últimas edições ele teve a gentileza de me enviar, e autografada. Considero o livro uma preciosidade no gênero.
Reitero que esse tipo de literatura nem precisa se concentrar no chamado “esporte bretão”. Em mais seis anos, a Cidade Maravilhosa estará acolhendo o maior congraçamento esportivo mundial, que são os Jogos Olímpicos. Duvido, pois, que faltem compradores para livros (de ficção ou não) que tratem desse assunto e que sejam bem escritos.
Tempos atrás, nosso colunista, Eduardo Murta, anunciou o lançamento de um livro tratando, se não me falha a memória, do centenário do Atlético Mineiro, o “Galo” de Belo Horizonte, com imensa e fanática torcida . Desconheço qual foi o resultado. Acredito, todavia, que tenha sido um sucesso.
No Literário, poucos foram os textos abordando a paixão nacional e nenhum deles de ficção. Prometo, oportunamente, trazer para nosso espaço contos de um livro de ficção que estou escrevendo tendo por personagens torcedores da Ponte Preta, a torcida mais fiel e numerosa do interior do País. Sei que os textos irão gerar polêmica, mas isso é muito saudável e bom. Espero que os nobres colegas façam o mesmo e se disponham a escrever sobre esporte.

Boa leitura.

O Editor.



2 comentários:

  1. Tenho uma crônica sobre futebol. Nunca foi divulgada. Vou procurá-la. As meninas também gostam de futebol, e algumas vezes até leem livros sobre as regras do jogo: o meu caso.

    ResponderExcluir
  2. Pedro, a sua crítica levanta um problema real. Não temos ainda uma explicação para esse fenômeno, que não é Ronaldo: na terra em que o futebol é uma paixão, a literatura não reflete isso, esse gosto popular, que é desprezado como algo menor.
    Contos, lembro que houve um, um só, livro de Eduardo Coutinho, "Maracanã, adeus".
    Mas insuperável mesmo foi Nelson Rodrigues na crônica. Como literatura é pura criação. Foi ele quem, em 1957, profetizou que Pelé era um rei (não tenho o link agora do texto). Foi ele quem criou figuras impagávceis, como o Sobrenatural de Almeida, aquele que mudava o placar como alma penada, quando o Fluminense era goleado. E Nelson era tricolor doente.
    Mas não houve, nem há no Brasil quem esteja à altura dessas crônicas.

    ResponderExcluir