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O santo esquife de veludo vermelho
* Por Talis Andrade
O vermelho manto
do Senhor Morto
destaca-lhe o branco
do branco gesso.
As velhas mulheres,
em um compacto luto,
trazem mais que o preto
das grosseiras vestes.
Deploram as feridas
de seculares dores:
as doenças incuráveis,
os maridos ausentes,
os filhos desempregados,
as filhas envelhecendo
solteiras e estéreis.
As velhas carpideiras
cantadeiras de excelência,
na cadência das matracas
macabras e agourentas,
jogam as últimas
desfalecidas esperanças
aos pés exangues do Santo Defunto,
por conta da crença
de que basta tocar
as rosas do esquife
para que todos os pedidos
sejam atendidos.
O santificável clima de morte
não comove o Morto,
insondável, no caixão
forrado de veludo.
O Morto não escuta
as repetidas lamúrias
das árvores ressequidas,
entorpecido pelo cheiro
acre-doce dos cravos,
do incenso e das velas
eternamente acesas.
O morto não escuta
o sacerdote bater,
três vezes, o missal no púlpito.
O morto não escuta
o sacerdote bater
com os pés o chão,
lembrando o tremor de terra,
o trovão na escuridão,
o desamparo extremo
de um corpo na cruz.
(Do livro “Romance do Emparedado”, Editora Livro Rápido – Olinda/PE).
* Jornalista, poeta, professor de Jornalismo e Relações Públicas e bacharel em História. Trabalhou em vários dos grandes jornais do Nordeste, como a sucursal pernambucana do “Diário da Noite”, “Jornal do Comércio” (Recife), “Jornal da Semana” (Recife) e “A República” (Natal). Tem 11 livros publicados, entre os quais o recém-lançado “Cavalos da Miragem” (Editora Livro Rápido).
* Por Talis Andrade
O vermelho manto
do Senhor Morto
destaca-lhe o branco
do branco gesso.
As velhas mulheres,
em um compacto luto,
trazem mais que o preto
das grosseiras vestes.
Deploram as feridas
de seculares dores:
as doenças incuráveis,
os maridos ausentes,
os filhos desempregados,
as filhas envelhecendo
solteiras e estéreis.
As velhas carpideiras
cantadeiras de excelência,
na cadência das matracas
macabras e agourentas,
jogam as últimas
desfalecidas esperanças
aos pés exangues do Santo Defunto,
por conta da crença
de que basta tocar
as rosas do esquife
para que todos os pedidos
sejam atendidos.
O santificável clima de morte
não comove o Morto,
insondável, no caixão
forrado de veludo.
O Morto não escuta
as repetidas lamúrias
das árvores ressequidas,
entorpecido pelo cheiro
acre-doce dos cravos,
do incenso e das velas
eternamente acesas.
O morto não escuta
o sacerdote bater,
três vezes, o missal no púlpito.
O morto não escuta
o sacerdote bater
com os pés o chão,
lembrando o tremor de terra,
o trovão na escuridão,
o desamparo extremo
de um corpo na cruz.
(Do livro “Romance do Emparedado”, Editora Livro Rápido – Olinda/PE).
* Jornalista, poeta, professor de Jornalismo e Relações Públicas e bacharel em História. Trabalhou em vários dos grandes jornais do Nordeste, como a sucursal pernambucana do “Diário da Noite”, “Jornal do Comércio” (Recife), “Jornal da Semana” (Recife) e “A República” (Natal). Tem 11 livros publicados, entre os quais o recém-lançado “Cavalos da Miragem” (Editora Livro Rápido).
Tocar em uma esquife clamando aos
ResponderExcluircéus, quando apenas bastaria levantar
os olhos e fazer uma pequena prece.
Abraços
Talis, você me transportou para as ladeiras de Ouro Preto na Semana Santa. Belíssimo texto.
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