quarta-feira, 8 de março de 2017

Mulheres

* Por Emanuel Medeiros Vieira


Para Célia, Clarice e Miriam.

(Prosa poética)


E eras luz – morena, negra, loira (sempre mulher), eras tantas.
Afago, doçura, ânsia, inquietude, espera, lágrima – e olhavas o mar num dia de outono.
Eu queria te entender.
Eras muitas, e na multiplicidade eu queria encontrar – em ti – o paraíso (finito).
Paixões, dores de cada dia, o rosto liso na juventude – e o tempo escoando, passando por cima de todos nós, invernos, verões, outonos, primaveras – sempre em frente, até a Terceira Margem do Rio.
Serenamente bela na maturidade.
Antes, muito te procurara.
E encontrara labirintos, pedaços de enigmas.
Carregamos dúvidas, como pianos pesados.
Onde estás?
E lembrava-me de Jean Anouilh (1910–1987):
“Há o amor, claro. E há a vida, sua inimiga (...).
No mais pleno exílio interior, não estava em Paris,
E sim no Brasil, “com uma luneta virada para o Atlântico”.

Freud perguntou: “O que querem as mulheres?”
O querem todos os seres humanos.
Amor para todos.
(Eis a minha terrestre reivindicação).
Eis que posso proclamar: Viva o teu dia!
E repito o bardo inglês: “E por amor de ti, em guerra o tempo enfrento:
Quanto ele te em ti suprime,  é quanto te acrescento”.

(Salvador, fevereiro e março de 2017)


* Romancista, contista, novelista e poeta catarinense, residente em Brasília, autor de livros como “Olhos azuis – ao sul do efêmero”, “Cerrado desterro”, “Meus mortos caminham comigo nos domingos de verão”, “Metônia” e “O homem que não amava simpósios”, entre outros

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