Brasil em declínio
* Por
Frei Betto
Com a atual recessão,
a população brasileira já empobreceu 9,1%, segundo dados do IBGE divulgados na
primeira semana de março. A economia retraiu 3,6%. É a mais longa recessão da
história do país. O consumo das famílias decresceu 4,2% em relação ao ano
passado. O desemprego, que já atinge 13 milhões de pessoas, e o endividamento
das famílias, são as principais causas do empobrecimento do brasileiro.
Nau sem rumo, o
governo Temer não sabe como sair do atoleiro. Mas, como no naufrágio do
Titanic, tenta salvar os camarotes dos ricos com “reformas” que ampliam os
privilégios da elite e ferem os direitos dos trabalhadores. Hoje, 18% de nossa
população, cerca de 37 milhões de pessoas, vivem com menos de meio salário
mínimo por mês, o que equivale a R$ 468,50.
A desigualdade social
brasileira acentua a disparidade entre brancos e negros. Entre os 10% mais pobres
do país, 75,5% são negros ou pardos. Já os brancos são apenas 23,4%. Na ponta
de cima da pirâmide, habitada por 1% da população, a parcela mais rica, a
proporção se inverte: 79,7% são brancos, e apenas 17,8% são negros e pardos.
Embora a carga tributária
brasileira seja das mais altas do mundo, nosso dinheiro some nos ralos da
corrupção e do desgoverno. Os serviços públicos são precários: 34,7% da
população não contam com coleta de esgoto; 14,6% não têm água encanada; e 11%
não dispõem de coleta de lixo residencial. Depois há quem se espante ao
constatar o reaparecimento de enfermidades debeladas há um século, como a febre
amarela.
Com a aprovação da PEC
55, a despesa obrigatória do governo federal com a educação, que era de 18% da
receita líquida dos impostos que pagamos, agora cai para 13% nos próximos 10
anos, e para 10% nos próximos 20 anos. Além de mais pobre, a nação está
condenada a ficar mais ignorante.
Toda a proteção social
oferecida como direito aos brasileiros mais carentes se encontra ameaçada. Ela
foi conquistada pela Constituição de 1988, adulterada pela PEC 55. Graças
àquela carta cidadã, foram criados o SUS, o Sistema Único de Assistência Social,
o Bolsa Família e o Benefício de Prestação Continuada. Também a universalização
da educação básica, a ampliação do ensino superior, a expansão da Previdência
Social à população rural e aos trabalhadores do setor informal. Tudo isso vem
sendo desmontado, do mesmo modo que a Petrobras está sendo “higienizada” para
ser privatizada.
Em novembro de 2016, o
Congresso aprovou a PEC do Teto dos Gastos Públicos, transformada em emenda
constitucional em dezembro. Ela desarticulou os mecanismos constitucionais de
vinculação do gasto público federal em educação e saúde, e congelou o conjunto
dos gastos sociais nos valores atuais. Estima-se que a despesa primária do
governo federal destinada à área social sofrerá redução de 20% para 12% do PIB
nos próximos 20 anos.
Em resumo, o Brasil
caminha de marcha ré. Não haverá nem como se aproximar da ponte que nos levaria
ao futuro. Seguimos rumo ao abismo, a menos que a mobilização social leve o
país para novos rumos.
*
Escritor e religioso dominicano. Recebeu vários prêmios por sua atuação em prol
dos direitos humanos e a favor dos movimentos populares. Foi assessor especial
da Presidência da República entre 2003 e 2004. É autor de 60 livros, editados
no Brasil e no Exterior, entre os quais "Batismo de Sangue", e
"A Mosca Azul".
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