Me leva pro Velho Testamento
* Por
Marcelo Sguassábia
Sim, o mundo estava há
milênios da invenção da penicilina. O sujeito nascia e já tinha tudo pra cair
duro, mortinho da silva, tamanha era a falta de recursos na saúde e na ciência.
No entanto, a "morte morrida" custava demais a chegar. E isso é a
Bíblia que atesta.
Vamos a uma breve
relação de patriarcas longevos do Antigo Testamento e a idade em que
respectivamente bateram a caçuleta: Adão, 930; Seth, 912; Enos, 905; Cainan,
910; Mahalalel, 895; Jarede, 962; Enoque, 365; Lameque, 777; Noé, 950; Sem,
600; Arpachade, 438; Selá, 433; Éber, 464; Pelegue, 239; Reú, também 239;
Serugue, 230; Naor, só 148 - deve ter morrido na creche ou no balão pula-pula;
Terá, 205; Abraão, 175; Isaque, 180. Por fim o campeoníssimo Matusalém, que,
sem grandes cuidados com a carcaça, chegou à impressionante marca de 969
aninhos.
Fica claro que o modus
vivendi pré-diluviano, por mais que se julgue hoje primitivo, era muito mais
saudável e contribuía para a longevidade. Não é nem questão de deduzir. É fato,
a menos que não se leve a sério a Palavra Sagrada ou que se prove que o tempo
passava mais rápido naquela época.
A comunidade
científica estufa o peito e convoca a imprensa para apregoar, orgulhosa, que o
homem em breve (e esse em breve não raro significa daqui a uns 50 anos) alcançará
120 como expectativa média de vida. Belo chabu. Com essa idade Matusalém era um
feto e o respeitável Mahalalel ainda enchia as fraldas no berço.
O bicho homem do
século 21, com toda a sua expertise em descobrir geringonças e fármacos que o
possibilitem viver mais e melhor, nem arranha os recordes etários desses heróis
do Gênesis.
É ainda uma incógnita
a razão por que, naquele mundo ainda intocado de meu Deus, a decrepitude e a
morte custavam tanto a chegar. Uma explicação talvez seja porque a carne dos
bois, porcos, ovelhas, bodes, cabras, aves e assemelhados de antanho estivessem
a salvo dos conservantes, dos ácidos cancerígenos e demais porcariadas que
disfarçam a podridão da carne vencida que comemos - produzida, empacotada com
carimbos sanitários fraudulentos e exportada mundo afora pelos nossos grandes,
assépticos e incorruptíveis frigoríficos. O bom e velho Cainan conhecia seus
bichos de abate e sabia muito bem o que botava em sua mesa. Ele e seus
centenários amigos eram os caras.
* Marcelo Sguassábia é redator publicitário. Blogs:
WWW.consoantesreticentes.blogspot.com (Crônicas e Contos) e
WWW.letraeme.blogspot.com (portfólio).
Final apoteótico, assim como foi a divulgação da malfadada notícia. Aqui, bem melhor do que lá.
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